Por Valdemar Figueredo Filho, na revista Fórum. Do blog do Miro.
Lugar comum dizer que somos nossas circunstâncias com um amontoado de ambiguidades. Nada extravagante reconhecer que se tudo estiver na normalidade vamos nos contradizer outras vezes. Singularidade por singularidade, o que nos iguala é que somos em alguma medida contraditórios, seja lá qual for o padrão ético.
A superexposição do juiz Sérgio Moro desperta a curiosidade se estamos diante de um herói nacional ou de um blefe sazonal.
Devo classificá-lo como o juiz ortodoxo que atuou no caso Banestado sem pirotecnia ou como o juiz heterodoxo que comanda a Operação Lava Jato sem circunspeção?
“Uma parte de mim pesa, pondera. Outra parte delira.” A poesia de Ferreira Gullar é de uma beleza! Caso um juiz se permita na execução do seu trabalho a bipolaridade expressa nos versos de Gullar, que ao menos oscile os delírios nos diferentes casos. Caso contrário, será taxado de tendencioso ardiloso.
O Moro é um simples mortal. Bonito vê-lo ao lado do Aécio Neves parecendo um colegial peralta. Descontraído e risonho. Mas vocês devem lembrar do Moro implacável que ordenou a condução coercitiva do Guido Mantega, ainda que o ex-ministro estivesse acompanhando a sua esposa no hospital.
“Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente.” A vagueza humana não é defeito de fábrica, é meramente humano. Gullar lembra-nos que estar vivo é ser capaz de surpreender-se consigo mesmo. Não me ressinto das fraquezas do Sérgio Moro, espanta-me o colocarem num lugar em que o personalismo prescinda do sistema jurídico.
O juiz discreto que não oscila quanto a cor do terno transformasse num jovem simpático quando o compromisso é subir aos púlpitos para agradecer os prêmios. Diferente dos ex-presidentes, Sérgio Moro não precisa de container para armazenamento de acervo. Os presentes que tem recebido são imateriais, bens simbólicos. Vai precisar de anos para talvez conseguir mensurar os ônus e os bônus decorrentes da sua atuação na Operação Lava Jato. Recompensas para a vida toda.
Sérgio Moro vazou para a Rede Globo a conversa telefônica entre a então Presidente da República Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, sob a alegação de que o suspeito não poderia ser nomeado ministro e assim adquirir foro privilegiado. No caso recente da tentativa do Presidente ocasional nomear Moreira Franco como ministro, o magistrado Moro atua com parcimônia. Sem alardes nem gestos heroicos.
Gosto da poesia “Traduzir-se” musicada. Seja cantada pelo “coxinha” Raimundo Fagner ou pelo “petralha” Chico Buarque. Artistas magníficos de primeira grandeza. No entanto, a imagem circunspecta do juiz Sergio Moro traduz muito melhor os versos de Gullar do que as sonoridades propostas por Raimundo e Chico. Ao menos nas minhas lembranças seletivas e ambíguas.
“Uma parte de mim almoça e janta; outra parte se espanta.”
Lugar comum dizer que somos nossas circunstâncias com um amontoado de ambiguidades. Nada extravagante reconhecer que se tudo estiver na normalidade vamos nos contradizer outras vezes. Singularidade por singularidade, o que nos iguala é que somos em alguma medida contraditórios, seja lá qual for o padrão ético.
A superexposição do juiz Sérgio Moro desperta a curiosidade se estamos diante de um herói nacional ou de um blefe sazonal.
Devo classificá-lo como o juiz ortodoxo que atuou no caso Banestado sem pirotecnia ou como o juiz heterodoxo que comanda a Operação Lava Jato sem circunspeção?
“Uma parte de mim pesa, pondera. Outra parte delira.” A poesia de Ferreira Gullar é de uma beleza! Caso um juiz se permita na execução do seu trabalho a bipolaridade expressa nos versos de Gullar, que ao menos oscile os delírios nos diferentes casos. Caso contrário, será taxado de tendencioso ardiloso.
O Moro é um simples mortal. Bonito vê-lo ao lado do Aécio Neves parecendo um colegial peralta. Descontraído e risonho. Mas vocês devem lembrar do Moro implacável que ordenou a condução coercitiva do Guido Mantega, ainda que o ex-ministro estivesse acompanhando a sua esposa no hospital.
“Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente.” A vagueza humana não é defeito de fábrica, é meramente humano. Gullar lembra-nos que estar vivo é ser capaz de surpreender-se consigo mesmo. Não me ressinto das fraquezas do Sérgio Moro, espanta-me o colocarem num lugar em que o personalismo prescinda do sistema jurídico.
O juiz discreto que não oscila quanto a cor do terno transformasse num jovem simpático quando o compromisso é subir aos púlpitos para agradecer os prêmios. Diferente dos ex-presidentes, Sérgio Moro não precisa de container para armazenamento de acervo. Os presentes que tem recebido são imateriais, bens simbólicos. Vai precisar de anos para talvez conseguir mensurar os ônus e os bônus decorrentes da sua atuação na Operação Lava Jato. Recompensas para a vida toda.
Sérgio Moro vazou para a Rede Globo a conversa telefônica entre a então Presidente da República Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, sob a alegação de que o suspeito não poderia ser nomeado ministro e assim adquirir foro privilegiado. No caso recente da tentativa do Presidente ocasional nomear Moreira Franco como ministro, o magistrado Moro atua com parcimônia. Sem alardes nem gestos heroicos.
Gosto da poesia “Traduzir-se” musicada. Seja cantada pelo “coxinha” Raimundo Fagner ou pelo “petralha” Chico Buarque. Artistas magníficos de primeira grandeza. No entanto, a imagem circunspecta do juiz Sergio Moro traduz muito melhor os versos de Gullar do que as sonoridades propostas por Raimundo e Chico. Ao menos nas minhas lembranças seletivas e ambíguas.
“Uma parte de mim almoça e janta; outra parte se espanta.”
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