*José Álvaro de Lima Cardoso.
O Brasil atravessa uma crise dramática,
como se sabe. Entre 2014 e 2016 a renda a renda per capita caiu quase 10%. O
mercado de trabalho, especialmente para os trabalhadores mais pobres, piorou em
2016 em todos os seus indicadores. A deterioração do mercado de trabalho foi
muito rápida, pois o Brasil havia terminado 2014 com a
menor taxa de desemprego já registrada na história. Foi uma piora dramática,
principalmente para os trabalhadores que ganham menos, os menos escolarizados, e
os mais pobres. A cada mês no Brasil, mais de um milhão de
trabalhadores são admitidos e mais de um milhão são demitidos. As empresas
aproveitam a rotatividade da força de trabalho, para impor salários médios
menores, conforme se pode constatar pelos dados do CAGED, que mostram que a
diferença entre a média dos salários dos admitidos, que é sempre menor do que a
média dos trabalhadores demitidos, aumenta na crise. O trabalhador que recebe
até dois salários mínimos, e que no Brasil representa uma fração muito elevada
dos trabalhadores, recebe imediatamente o impacto da crise econômica, seja no
emprego, seja na redução do salário real.
No Brasil os patrões e o governo estão utilizando a grave
crise atual, para liquidar direitos em larga escala, e achatar ao máximo
salários reais. Utilizando, como elemento de chantagem, os indicadores
tenebrosos da indústria, comércio, nível de atividade, e outros. Nas mesas de
negociação é muito comum o argumento patronal de que a não aceitação do
reajuste salarial abaixo da inflação é para evitar as demissões. Dizem os
patrões: “o que vocês preferem um percentual de reajuste menor que a inflação
ou demissão de trabalhadores?” O problema é que, em regra, as demissões já
ocorreram, de forma unilateral, e sem precisar condicionar à aceitação de um
acordo rebaixado.
Mas, assim como o processo de elevação da renda per capita, e outros
indicadores das condições sócio econômicas, não são neutros, o empobrecimento
dos brasileiros também não o é. O PIB brasileiro, mesmo com evolução negativa
em determinado ano, representa produção de riqueza em valor superior a seis
trilhões de reais (12 meses). Os bancos são exemplos (extremos é verdade) de
que, mesmo na pior recessão da história do Brasil, os lucros podem ser
exorbitantes. É só verificar o balanço dos bancos nos últimos anos, que foram
de recessão: faturam rios de dinheiro em plena crise. É que eles não dependem
da produção real de riquezas, já que não financiam a produção. O importante
para os bancos, como credores, é a rolagem da dívida pública (portanto o patamar
da taxa Selic) verdadeiro “negócio da China”.
Enquanto o grosso da população amarga queda do seu salário e taxas de
desemprego em torno dos 18% (até mais, em algumas regiões), os credores da
dívida pública levam 7% do PIB brasileiro, montante acima de R$ 400 bilhões
anuais. Nenhum país gasta tanto com serviços da dívida no mundo, o Brasil é o paraíso
dos rentistas no mundo. Quem vive da dívida pública não conhece dificuldades. Uma
comprovação de que a crise não é igual para todos, é o de que, no
Brasil os seis homens mais ricos detêm fortunas que, somadas, equivalem ao
patrimônio de metade da população mais pobre do país, cerca de 100 milhões de
pessoas. Os dados são do relatório da ONG britânica Oxfam. Esses seis
empresários têm, juntos, cerca de US$ 79,4 bilhões (aproximadamente R$ 258
bilhões).
Como desgraça pouca é bobagem, a pior recessão
da história do país, veio numa conjuntura onde o governo golpista está numa
escalada alucinada de destruição de direitos, nunca antes vista neste país. Querem
aprovar, por exemplo, uma reforma trabalhista para retirar direitos, num país
onde mesmo os direitos trabalhistas básicos são sistematicamente descumpridos. O
modelo que querem implantar, de neoliberalismo ultra radical, fracassou em
todas as partes do mundo. Mas, é bom sublinhar: fracassou enquanto saída para a
crise. O modelo significa empobrecimento da população, aumento do desemprego,
entrega das riquezas naturais e das estatais, redução da soberania nacional. Para
os que estão implantando este tipo de política a “vitória do modelo” é
exatamente essa: transferência dos efeitos da crise para as costas do povo
trabalhador e conversão do país à condição de Brasil Colônia ou de um protetorado
dos EUA.
*Economista.
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