sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Política de Conteúdo Local: o que os golpistas querem para o Brasil




                     José Álvaro de Lima Cardoso.
        O governo federal anunciou recentemente, a 14ª Rodada de Licitação de blocos exploratórios de petróleo e gás natural. Para participação na licitação há várias regras, dentre as quais as de conteúdo local. Consta que o governo pretende suspender a exigência de conteúdo local, alegando que a mesma é responsável por problemas de corrupção e de baixa competitividade da indústria nacional. A política de conteúdo local, forma uma das bases que constitui o tripé para exploração da riqueza do pré-sal, juntamente com: a) exclusividade da Petrobrás na exploração dos poços; b) exigência de que a empresa brasileira participe com pelo menos 30% dos investimentos em cada um dos poços do pré-sal. Estas duas últimas exigências já foram ceifadas pelo governo através de Lei, que, na prática, foi o cumprimento da promessa de José Serra à Chevron, de acabar com a Lei de Partilha, conforme foi publicado pelo site Wikileaks em 2013. Que aliás não teve quase nenhuma repercussão na grande mídia.
        . Acabar com a política de conteúdo local, até as pedras já sabiam, era uma questão de tempo. Um dos aspectos fundamentais da Lei de Partilha, a política de conteúdo local, em grande parte, foi responsável, por exemplo, pelo renascimento da indústria naval no Brasil (que agora vai definhando). A exigência de conteúdo local precede a própria Lei de Partilha e foi definida ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Ela obriga a Petrobras a comprar mais de 65% de bens e serviços no Brasil, com o objetivo de alavancar a indústria e os serviços nacionais. A Lei tem uma importância evidente, pela relevância do setor de petróleo e gás e pelo peso extraordinário que a Petrobrás tem na economia brasileira, mesmo após a pancadaria que vem sofrendo há três anos, que constitui o chamado golpe dentro do golpe.  
        Aliás, se o Brasil não estivesse sofrendo um ataque, e a população entendesse minimamente o que estão fazendo com a Petrobrás e a economia nacional, não sairia mais das ruas. Recentemente, convidaram somente empresas estrangeiras para participar de licitação para a construção de uma grande obra (unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj). Enquanto não conseguem privatizar, estão desvalorizando o preço dos ativos da empresa para facilitar a venda, e acabando com que a empresa tem de melhor, que é a integração do “poço ao posto”. Estão vendendo o filé do patrimônio para multinacionais, à preço de banana e com ativos depreciados, e condenando a empresa à produção e comercialização de óleo cru. Não estabelecer conteúdo local como critério de participação no leilão, apenas completa o que já se sabia. Um dos objetivos centrais do golpe de estado que o Brasil sofreu (e está sofrendo, pois não foi concluído) é desmontar a Lei de Partilha. O que já fizeram em boa parte.
        Em absolutamente todos os países onde a política do petróleo é bem sucedida, há políticas de valorização da produção local, com desenvolvimento da tecnologia e da engenharia, e política macroeconômica adequada. Aqui, fizeram uma operação, a Lava-Jato, que destruiu as empresas de engenharia fornecedoras da Petrobrás, e que, com o pretexto de recuperar R$ 6,2 bilhões (este dado está superestimado para obter apoio público, não é isso), causaram, somente em 2015, um prejuízo de R$ 140 bilhões à economia brasileira. O estrago que a Lava-Jato causou, alavancando a destruição da economia e auxiliando a ascensão dos corruptos ao núcleo de poder, sozinho, ilustra com riqueza a existência do golpe contra a democracia. O Brasil foi o único caso do mundo onde um grupo de procuradores, que nada entende de economia, destruiu, em nome do combate a corrupção, um setor da economia altamente competitivo, gerador de riqueza e de milhões de empregos.
           A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) estima que o custo do Não Conteúdo Local poderá significar perda de aproximadamente um milhão de empregos, além das centenas de milhares que já foram destruídos. No tratamento dado ao Petróleo e ao seu entorno, os governos definem que tipo de país pretendem construir. Um Estado forte, soberano, a serviço da maioria da sua população, ou um Estado fraco, dominado pela corrupção, e com seus recursos naturais completamente dominados por grandes multinacionais estrangeiras. O governo golpista sabe bem o que deseja para o Brasil.


                                                                                                          *Economista.

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