Pedro Tierra
postado em: 03/02/2017
Que minha palavra envolva teu coração.
E recolha no barro dos potes maternos,
repousados na sombra das cozinhas de Caetés,
- que na infância saciaram tua sede
e nutriram tuas esperanças -
os rios da ternura que hoje,
2 de fevereiro, pelas mãos de Iemanjá,
banham os olhos de tua gente.
Que minha palavra seja aquele bálsamo
recolhido nos antigos paióis,
onde guardamos os sonhos
que nos movem na vida
para reparti-los como se reparte pão e bandeiras.
A solidão que sitia
teu vasto coração de continente
e arma o assalto final,
não suspeita as cordas de água pura
atadas aos rios de força e sonhos
que te mantêm de pé,
“contra vento e maré...”
Baixa os olhos sobre estas mãos
que um dia costuraram a estrela branca
sobre campo vermelho
como quem captura a luz dos olhos da multidão
movida por tua voz de madrugada
no portão da fábrica.
E se despediu do medo e do silêncio.
E cavalgou ventos e tempestades.
E quando a Noite – um dia – o levou a ferros
aprendeu que em tempos de tirania,
a ferocidade se dobra
com a invencível fragilidade das mães,
quando ocupam as ruas da cidade mítica,
contra a muralha dos homens de cinza.
E o acolheu no abraço do regresso
quando você, sendo o mesmo,
já era outro homem
se convertera num homem multidão.
Aqui repousa o corpo disseminado
de uma mulher do povo que vai
cumprir a condenação da semente:
prolongar a vida, multiplicar a vida,
sob os olhos dos peões de fábrica.
Sob teus olhos.
Dentro da Casa que os acolheu
para iniciar a marcha.
Assim estendida
como uma bandeira de paz,
diz, aos teus ouvidos,
com seu silêncio definitivo:
“Agora eu sou uma estrela”.
Daqui de longe ouço um
dobre de sinos por Mariza Letícia
velada por peões,
dentro da Casa dos Metalúrgicos, seu lugar.
Para que não se torne um hábito no país,
não permita, diante do féretro,
as flores enviadas pelos assassinos.
Nesta manhã de cinzas, quero apenas
que minha palavra envolva teu coração.
Brasília, 2 de fevereiro de 2017.
E recolha no barro dos potes maternos,
repousados na sombra das cozinhas de Caetés,
- que na infância saciaram tua sede
e nutriram tuas esperanças -
os rios da ternura que hoje,
2 de fevereiro, pelas mãos de Iemanjá,
banham os olhos de tua gente.
Que minha palavra seja aquele bálsamo
recolhido nos antigos paióis,
onde guardamos os sonhos
que nos movem na vida
para reparti-los como se reparte pão e bandeiras.
A solidão que sitia
teu vasto coração de continente
e arma o assalto final,
não suspeita as cordas de água pura
atadas aos rios de força e sonhos
que te mantêm de pé,
“contra vento e maré...”
Baixa os olhos sobre estas mãos
que um dia costuraram a estrela branca
sobre campo vermelho
como quem captura a luz dos olhos da multidão
movida por tua voz de madrugada
no portão da fábrica.
E se despediu do medo e do silêncio.
E cavalgou ventos e tempestades.
E quando a Noite – um dia – o levou a ferros
aprendeu que em tempos de tirania,
a ferocidade se dobra
com a invencível fragilidade das mães,
quando ocupam as ruas da cidade mítica,
contra a muralha dos homens de cinza.
E o acolheu no abraço do regresso
quando você, sendo o mesmo,
já era outro homem
- sem o amparo da luz tutelar de Dona Lindu –
se convertera num homem multidão.
Aqui repousa o corpo disseminado
de uma mulher do povo que vai
cumprir a condenação da semente:
prolongar a vida, multiplicar a vida,
sob os olhos dos peões de fábrica.
Sob teus olhos.
Dentro da Casa que os acolheu
para iniciar a marcha.
Assim estendida
como uma bandeira de paz,
diz, aos teus ouvidos,
com seu silêncio definitivo:
“Agora eu sou uma estrela”.
Daqui de longe ouço um
dobre de sinos por Mariza Letícia
velada por peões,
dentro da Casa dos Metalúrgicos, seu lugar.
Para que não se torne um hábito no país,
não permita, diante do féretro,
as flores enviadas pelos assassinos.
Nesta manhã de cinzas, quero apenas
que minha palavra envolva teu coração.
Brasília, 2 de fevereiro de 2017.
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