terça-feira, 1 de abril de 2014

O balanço econômico e político do período militar

Foi um equívoco o editorial da “Folha” sobre o regime militar. Nele, deplora-se a violência, mas considera-se a modernização tecnocrática proporcionada pelo regime.
Diz que em vinte anos a economia cresceu 3,5 vezes. Isso equivale a 4,89% ao ano. Ora, nos dezesseis anos anteriores – de 1947 a 1964 – a economia cresceu a 6,7% ao ano, mais do que nos 20 anos seguintes.
Era um ciclo ligado à urbanização disponibilizando mão de obra e às políticas de substituição de importações, que se mantiveram durante o período democrático e na ditadura.
Em período democrático, o país conseguiu criar grandes estatais, como a Cemig, a Petrobras, a Eletrobrás -, assim como no regime ditatorial criaram a Telebras e outras.
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Vencido o impasse político do momento, nada do que foi construído no período militar não poderia tê-lo sido em regime democrático. Pelo contrário, em um sistema democrático provavelmente a grita da oposição não teria permitido exageros, como a Transamazônica, a Ferrovia do Aço; a Siderbras.
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A democracia imperfeita, de fato, valia-se do uso do Banco do Brasil para cooptar bancadas políticas. Mas a ditadura imperfeita distribuiu benesses a torto e a direito, sem nenhum critério.
No período Delfim Netto, enormes extensões de terra na Amazônia foram entregues a grandes empresas, multinacionais e nacionais, sem nenhum compromisso com a colonização; escândalos financeiros de monta, como no Independência Decred ou nas “polonetas”.
No período supostamente rigoroso de Ernesto Geisel, a criação pelo Ministro Mário Henrique Simonsen de sistemas de apoio a bancos quebrados permitiram enriquecer os controladores em detrimentos dos depositantes. Sem contar os superinvestimentos induzidos pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento.
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Não significa que o regime militar era intrinsicamente corrupto, como não significa que o modelo democrático é intrinsicamente viciado.
O grande problema da ditadura foi o enorme desequilíbrio no atendimento das demandas sociais e o enorme atraso provocado na organização da sociedade.
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Nos anos 60 emergiu uma nova geração, que pela primeira vez acordava para os aspectos mais anacrônicos do país, um meio rural onde sequer se pagavam salários, uma pobreza ampla a irrestrita que sequer era atendida. Descobria-se o interior, o nordeste, as favelas, os planos de desenvolvimento econômico (em JK) ou social (em Jango).
Havia demagogia, é claro, as lideranças que tentavam se aproveitar desse idealismo, os populistas de ocasião, os pelegos, os radicais. Mas o amadurecimento era questão de tempo, dependia apenas do aprendizado democrático.
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A ditadura ceifou não apenas uma, mas as gerações seguintes, milhares de jovens que poderiam ter se especializado em questões sociais, que poderiam ter desenvolvido soluções para a miséria, somando-se à modernização que ocorreu no mercado de capitais, nas contas públicas, na Receita. Foi a falta de voz que permitiu a concentração desmedida de renda, a deterioração dos serviços públicos ante a urbanização que se acelerava, a sobrevida dos coronéis regionais, a demora em constituir um mercado interno robusto.
Só agora, com as manifestações de junho de 2013, percebe-se uma nova geração com o ímpeto juvenil da geração dos anos 60.


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