Foi
um equívoco o editorial da “Folha” sobre o regime militar. Nele,
deplora-se a violência, mas considera-se a modernização tecnocrática
proporcionada pelo regime.
Diz
que em vinte anos a economia cresceu 3,5 vezes. Isso equivale a 4,89%
ao ano. Ora, nos dezesseis anos anteriores – de 1947 a 1964 – a economia
cresceu a 6,7% ao ano, mais do que nos 20 anos seguintes.
Era
um ciclo ligado à urbanização disponibilizando mão de obra e às
políticas de substituição de importações, que se mantiveram durante o
período democrático e na ditadura.
Em
período democrático, o país conseguiu criar grandes estatais, como a
Cemig, a Petrobras, a Eletrobrás -, assim como no regime ditatorial
criaram a Telebras e outras.
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Vencido
o impasse político do momento, nada do que foi construído no período
militar não poderia tê-lo sido em regime democrático. Pelo contrário, em
um sistema democrático provavelmente a grita da oposição não teria
permitido exageros, como a Transamazônica, a Ferrovia do Aço; a
Siderbras.
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A
democracia imperfeita, de fato, valia-se do uso do Banco do Brasil para
cooptar bancadas políticas. Mas a ditadura imperfeita distribuiu
benesses a torto e a direito, sem nenhum critério.
No
período Delfim Netto, enormes extensões de terra na Amazônia foram
entregues a grandes empresas, multinacionais e nacionais, sem nenhum
compromisso com a colonização; escândalos financeiros de monta, como no
Independência Decred ou nas “polonetas”.
No
período supostamente rigoroso de Ernesto Geisel, a criação pelo
Ministro Mário Henrique Simonsen de sistemas de apoio a bancos quebrados
permitiram enriquecer os controladores em detrimentos dos depositantes.
Sem contar os superinvestimentos induzidos pelos Planos Nacionais de
Desenvolvimento.
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Não
significa que o regime militar era intrinsicamente corrupto, como não
significa que o modelo democrático é intrinsicamente viciado.
O
grande problema da ditadura foi o enorme desequilíbrio no atendimento
das demandas sociais e o enorme atraso provocado na organização da
sociedade.
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Nos
anos 60 emergiu uma nova geração, que pela primeira vez acordava para
os aspectos mais anacrônicos do país, um meio rural onde sequer se
pagavam salários, uma pobreza ampla a irrestrita que sequer era
atendida. Descobria-se o interior, o nordeste, as favelas, os planos de
desenvolvimento econômico (em JK) ou social (em Jango).
Havia
demagogia, é claro, as lideranças que tentavam se aproveitar desse
idealismo, os populistas de ocasião, os pelegos, os radicais. Mas o
amadurecimento era questão de tempo, dependia apenas do aprendizado
democrático.
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A
ditadura ceifou não apenas uma, mas as gerações seguintes, milhares de
jovens que poderiam ter se especializado em questões sociais, que
poderiam ter desenvolvido soluções para a miséria, somando-se à
modernização que ocorreu no mercado de capitais, nas contas públicas, na
Receita. Foi a falta de voz que permitiu a concentração desmedida de
renda, a deterioração dos serviços públicos ante a urbanização que se
acelerava, a sobrevida dos coronéis regionais, a demora em constituir um
mercado interno robusto.
Só agora, com as manifestações de junho de 2013, percebe-se uma nova geração com o ímpeto juvenil da geração dos anos 60.
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