sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Hora de dizer a verdade para o jornalista Clóvis Rossi

Por Breno Altman, especial para o 247
O jornalista Clóvis Rossi, um dos mais respeitados do país, escreveu 
ontem, na Folha de S.Paulo, artigo intitulado “Hora de dizer a verdade 
a Maduro”, criticando a posição atual do governo brasileiro acerca da 
crise venezuelana. Seu texto considera, a partir dos números das 
últimas eleições presidenciais, que o vizinho ao norte está “rachado 
ao meio”. E conclui: apoiar o presidente Nicolás Maduro seria “dar às 
costas à metade da população venezuelana, erro que nenhum país 
sério pode cometer.”
Traz vício de origem o apelo à neutralidade e a eventual papel moderador 
que poderia desempenhar a diplomacia brasileira. Rossi, com a elegância 
de sempre, mas desconhecimento sobre o assunto, parece estar 
abordando situação normal de conflito. Como se fosse, por exemplo, uma competição eleitoral ou um rallypacífico de setores oposicionistas.
O venerando repórter atropela o próprio registro que encabeça sua 
coluna, ao lembrar do golpe de Estado que derrubou Hugo Chávez em 
2002, para vender versão edulcorada e neutra dos acontecimentos em 
curso, insinuando que se trata de um choque legítimo entre blocos 
políticos.
Nem mesmo o governador de Miranda e ex-candidato presidencial da 
direita, Henrique Capriles, acredita nessa lorota. Faz questão de 
manter distância regulamentar da aventura extremista apelidada de 
la salida pelos white blocs do golpismo venezuelano. Ali está em 
curso, novamente, operação violenta e articulada para apear do 
poder um presidente constitucional.
Não pode haver hesitação quando está em jogo a democracia. 
Defender a legalidade e a soberania popular é a tarefa fundamental 
dos governos da região, a começar pela mais importante de todas 
essas nações. A presidente Dilma Rousseff, ao subscrever nota 
incisiva do Mercosul e declaração inequívoca da Comunidade de 
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), dá demonstração 
de grandeza e liderança. Contemporizar com o golpismo, como sugere 
Rossi, seria atitude pusilânime e apequenada.
Os interesses que se movem nas sombras do vandalismo oposicionista 
são tão perigosos quanto os objetivos dos grupos ensandecidos que 
fantasiam tomar Miraflores de assalto. A guerra cibernética e midiática, manipulando informações e imagens, sinaliza que o discurso de Barak 
Obama, alinhado à intentona da direita, não se esgota no palavrório. 
A Casa Branca dá sinais que considera a derrocada de Maduro, já e 
agora, um componente fundamental de sua geopolítica para o petróleo 
e a América Latina.
O silêncio brasileiro, portanto, não seria apenas desfeita à causa 
democrática que tanto sangue, suor e lágrimas custou ao continente. 
Nações que desejam construir caminhos autônomos, em aliança com 
seus parceiros naturais, devem ter na solidariedade uma política de 
Estado. Fraquejar nessas horas significaria retirar os sapatos diante 
de quem aspira retornar à época em que esse canto do mundo aceitava 
ser o quintal de uma potência imperialista.
Por fim, a tese da “divisão ao meio” é falácia para subtrair legitimidade 
de um governo soberano. Desde quando uma pequena diferença eleitoral 
torna iguais quem ganhou e quem perdeu na escolha popular? Está 
correto um jornalista do calibre de Clóvis Rossi omitir que o chavismo 
venceu 17 das 18 contendas eleitorais que travou desde 1998? Que 
elegeu 20 dos 23 governadores nas últimas disputas regionais? E 75% 
dos prefeitos em consulta às urnas há menos de três meses?
O presidente Nicolás Maduro tem reagido com firmeza e equilíbrio para 
deter a onda de violência e os planos de sublevação. Cumpre obrigação 
de preservar a democracia e a paz como manda a lei, mas sua aposta 
principal é convocar às ruas seus compatriotas, em defesa da 
Constituição. Estende as mãos para quem não compactua com o 
golpismo, ao mesmo tempo que promete ser implacável contra os que
 quiserem usurpar o poder pela força.
Não poderia ser outra a atitude do governo que não ombreá-lo na 
resistência legalista. As correntes reacionárias podem reclamar o 
quanto quiserem, e Clóvis Rossi pode lhes oferecer consolo, mas a 
Venezuela não está isolada como o Chile de Allende ou o Brasil de 
João Goulart, a bel prazer dos que almejam destruir as instituições democráticas.
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/130959/Altman-Hora-de-
dizer-a-verdade-para-Cl%C3%B3vis-Rossi.htm
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