*José Álvaro Cardoso
*Adhemar Mineiro
O ano de 2013 foi, a exemplo dos dois
anteriores, difícil para a economia brasileira. O crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB), possivelmente, não alcançou 2,5%, com expansão de
crescimento diferenciada entre os setores, e nas contas em transações correntes
do balanço de pagamentos, acendeu uma luz amarela (pelo menos, pois os dados do
Banco Central até novembro de 2013 registram um déficit de 3,6% do PIB, contra
2,2% do ano anterior no mesmo período). A economia apresentou
retração de 0,5% no terceiro trimestre. Esse desempenho não poderá ser
creditado exclusivamente à conjuntura mundial internacional, pois, no período
2011 a 2013, os países emergentes cresceram à taxas em torno de 5,3%, e o mundo
3,3%.
Não
obstante as críticas dos setores conservadores e o esforço que o governo vem
fazendo para aumentar a taxa de investimento na economia, o consumo das
famílias tem sido o principal vetor do crescimento, respondendo por quase 70%
do crescimento do PIB desde 2009 até 2012 (no ano passado, até o terceiro
trimestre, este percentual foi de 62%). Daí a importância crucial do
crescimento do emprego, que vem se mantendo, apesar do baixo crescimento no
último triênio, e da renda. Entretanto, uma boa parte da expansão do consumo
das famílias vem sendo suprida por importações, o que é um problema bastante grave,
não apenas por impactar a balança comercial, mas porque o crescimento potencial
advindo do aumento da renda não se transmite de forma mais robusta ao
crescimento do PIB, fazendo o crescimento patinar em níveis baixos.
O setor agrícola obteve
uma produção de grãos recorde na história em 2013, que atingiu 188,2 milhões e
crescimento de 16,2% segundo o IBGE. Esta é a maior produção agrícola da série
histórica iniciada em 1975, fato muito importante, sendo que a área colhida aumentou
8,1%, chegando a 52,8 milhões de hectares.
A
indústria, por sua vez, não conseguiu engatar uma retomada que compensasse,
pelo menos, dois anos medíocres, como foram os anteriores. A produção física da
indústria de transformação no Brasil, no acumulado até setembro, cresceu 2% em
relação ao mesmo período de 2012. É uma melhora em relação ao que vinha
ocorrendo com a indústria, mas abaixo do que deveria ser para imprimir
dinamismo à economia como um todo. Uma das razões do fenômeno é que, como dito
anteriormente, parte do crescimento do consumo das famílias (ancorado no
aumento do emprego e da renda) tem vazado para o exterior, ou seja, tem sido suprido
com importações. Tanto é verdade que, até setembro, a balança comercial dos
bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação apresentou déficit
recorde para os primeiros nove meses do ano de US$ 49,4 bilhões.
Este saldo negativo da indústria
contribuiu bastante para que, no ano passado, a
balança comercial brasileira tenha registrado superávit de apenas US$ 2,5
bilhões, muito inferior ao resultado registrado em 2012 (superávit de US$ 19,39
bilhões, já bastante reduzido se comparado aos números do período, a partir de
2003). As exportações (US$ 242,2 bi) tiveram redução de 1,0% em relação a 2012
e as importações (US$ 239,6 bi), alta de 6,5%. Outra grande responsável por
este resultado pífio da balança comercial foi a chamada Conta Petróleo, cujo
déficit passou de US$ 5 em 2012 para US$ 20 bilhões no ano passado.
As dificuldades no comércio exterior não
se resolverão sem ajustes importantes no câmbio. A desvalorização do real
ocorrida nos três primeiros anos do Governo Dilma (cerca de 20%) foi
importante, mas é insuficiente. Alguns estudiosos definem a taxa de câmbio de
“equilíbrio industrial” em torno de R$ 3,00, o que implicaria uma
desvalorização do real bastante expressiva. Mesmo que houvesse determinação
política para realizar o ajuste cambial, a sua operação não é trivial.
Desvalorização do câmbio pode significar, por exemplo, no curto prazo, elevação
da inflação, problema que continuará na agenda em 2014, de forma bastante “politizada”
inclusive.
Não há no conjunto da sociedade (nem entre
os economistas) a compreensão de que é fundamental que o país tenha uma taxa de
câmbio competitiva que possibilite o enfrentamento da concorrência
internacional e reverta o processo de desindustrialização na área de produtos
finais, aparentemente em curso a julgar pelos números da balança comercial
industrial. Câmbio apreciado, combinado com juros elevados é uma opção perigosa
que pode conduzir o país a uma crise no balanço de pagamentos. Além disso, uma
coisa leva a outra, já que os juros altos aqui dentro atraem capitais
especulativos que servem ao mesmo tempo para mitigar o problema do déficit do
balanço de pagamentos, mas também para forçar para cima o valor do real,
contribuindo para a valorização cambial.
*Técnicos do DIEESE
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