João
Franzin
Atuo há quase 30 anos no movimento sindical. Num
dos Sindicatos em que trabalho, que é bastante atuante, existe uma
oposição residual que publica, de vez em quando, seu
boletim.
Cheio
de palavras de ordem, textos intermináveis, ataques contra tudo e
contra todos, o panfleto é um fiasco de comunicação. Porém, sua
agressividade impressiona os mais inexperientes. Eu os esclareço
que o material é ineficaz, mas recomendo: - Espalha entre o
grupelho radicalóide que o boletim é
foda. Porque assim eles continuam a
errar.
O mesmo
ocorre com a grande mídia. Vejo ativistas de amplos setores
fazendo críticas (corretas) aos exageros da imprensa patronal, que
tenta ocupar o espaço da oposição sem cabeça. Eu brinco: - Deixa
eles continuarem errando. Assim, serão derrotados mais uma vez nas
eleições deste ano.
Nos
últimos anos, especialmente depois que Lula ganhou a eleição, a
mídia trocou a informação pelo delírio. Essa patologia é ainda
mais flagrante entre certos colunistas, que, a pretexto de agradar
setores histéricos da classe média e o patronato midiático, em vez
de publicar o real, divulgam pelo imaginário. A lógica é “não
importa o que acontece, e sim o que eu acho que
acontece”.
Meses
atrás, fui à periferia de Santa Bárbara d’Oeste (150 quilômetros
de São Paulo). Me impressionaram o porte das casas, o acabamento,
o número de carros nas garagens. Semanas atrás, andei por bairros
periféricos de Guarulhos. A paisagem está mudando, com casas
melhores, construções de maior porte, acabamento nas
residências.
Outro
dia, num táxi, o motorista, por volta de 40 anos, me contava da
vida dura de quando chegou em São Paulo. Uma observação
interessante dele foi sobre a variedade de produtos na mesa da sua
casa. Ele dizia: - Era pão, café, leite e de vez em quando
manteiga. Hoje, tem requeijão e queijo de todo
tipo.
Falo
por mim. Nos anos 80, recorri ao então INPS, em Americana. O local
era sujo, abandonado e o médico mal olhou na minha cara.
Questionado, tacou: - É de graça e você ainda reclama? (eu era
segurado da Previdência). Em 2007, recebi tratamento no SUS da
Baixada do Glicério (setor de ostomia). Local simples, mas limpo e
sinalizado. Fui atendido, várias vezes, com hora marcada. E
extraordinária eficácia.
Exemplo
final: uma família de parentes, anos atrás, estava toda
desempregada, fazendo bicos. Hoje, marido, esposa e duas filhas
têm emprego regular e renda garantida no final do mês. A casa vai
melhorando aos poucos, com geladeira nova, fogão trocado, notebook
e, claro, celular pra todo mundo.
A
última rata da grande mídia vem agora com os dados do Caged. A divulgação ocorre no mesmo tempo em
que a OIT mostra o impressionante desemprego no mundo. Pois bem: o
Brasil teve saldo positivo de mais de 1 milhão e 100 mil empregos
em 2013 – embora o crescimento venha caindo. Só a indústria de
transformação gerou 126.359 postos de trabalho. A média salarial
no momento da admissão registrou aumento real de 2,59%. O que fez
a mídia? Leu de qualquer jeito os dados e registrou queda no
emprego, desconsiderando, inclusive, a conjuntura mundial ruim
apontada pela OIT.
Nossa
mídia apostou nos apagões; falhou. Induziu o STF a justiçamento; ainda assim a direita não ganhou
a eleição. Criou ruído entre os Três Poderes; fato que não se
efetivou. Vitaminou a inflação do tomate; a inflação hoje é a
menor em muitos anos. Agitou uma crise fiscal, mirando o
rebaixamento pelas agências de risco; Brasil fechou as contas no
azul. Os barões da mídia gestaram dois candidatos – Marina e
Joaquim; a primeira viu seu partido virar pó; o segundo a cada dia
expõe fragilidades e contradições.
A
grande imprensa, com rede Globo à frente, já foi hegemônica e
abusou desse poder. De tanto errar e em razão das novas mídias,
perde terreno a cada dia. Nossos editorialistas, cheios de citações, certamente
não leram Tucídides, que há mais de dois
mil anos cravou: “A hegemonia se suicida”. Enquanto eles se
suicidam, cabe-nos fortalecer nosso campo e, na questão midiática,
construir e articular a nossa mídia,
cotidianamente.
João Franzin
é jornalista
da Agência Sindical
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