quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Não avise a mídia

João Franzin

Atuo há quase 30 anos no movimento sindical. Num dos Sindicatos em que trabalho, que é bastante atuante, existe uma oposição residual que publica, de vez em quando, seu boletim.

Cheio de palavras de ordem, textos intermináveis, ataques contra tudo e contra todos, o panfleto é um fiasco de comunicação. Porém, sua agressividade impressiona os mais inexperientes. Eu os esclareço que o material é ineficaz, mas recomendo: - Espalha entre o grupelho radicalóide que o boletim é foda. Porque assim eles continuam a errar.
O mesmo ocorre com a grande mídia. Vejo ativistas de amplos setores fazendo críticas (corretas) aos exageros da imprensa patronal, que tenta ocupar o espaço da oposição sem cabeça. Eu brinco: - Deixa eles continuarem errando. Assim, serão derrotados mais uma vez nas eleições deste ano.
Nos últimos anos, especialmente depois que Lula ganhou a eleição, a mídia trocou a informação pelo delírio. Essa patologia é ainda mais flagrante entre certos colunistas, que, a pretexto de agradar setores histéricos da classe média e o patronato midiático, em vez de publicar o real, divulgam pelo imaginário. A lógica é “não importa o que acontece, e sim o que eu acho que acontece”.
Meses atrás, fui à periferia de Santa Bárbara d’Oeste (150 quilômetros de São Paulo). Me impressionaram o porte das casas, o acabamento, o número de carros nas garagens. Semanas atrás, andei por bairros periféricos de Guarulhos. A paisagem está mudando, com casas melhores, construções de maior porte, acabamento nas residências.
Outro dia, num táxi, o motorista, por volta de 40 anos, me contava da vida dura de quando chegou em São Paulo. Uma observação interessante dele foi sobre a variedade de produtos na mesa da sua casa. Ele dizia: - Era pão, café, leite e de vez em quando manteiga. Hoje, tem requeijão e queijo de todo tipo.
Falo por mim. Nos anos 80, recorri ao então INPS, em Americana. O local era sujo, abandonado e o médico mal olhou na minha cara. Questionado, tacou: - É de graça e você ainda reclama? (eu era segurado da Previdência). Em 2007, recebi tratamento no SUS da Baixada do Glicério (setor de ostomia). Local simples, mas limpo e sinalizado. Fui atendido, várias vezes, com hora marcada. E extraordinária eficácia.
Exemplo final: uma família de parentes, anos atrás, estava toda desempregada, fazendo bicos. Hoje, marido, esposa e duas filhas têm emprego regular e renda garantida no final do mês. A casa vai melhorando aos poucos, com geladeira nova, fogão trocado, notebook e, claro, celular pra todo mundo.
A última rata da grande mídia vem agora com os dados do Caged. A divulgação ocorre no mesmo tempo em que a OIT mostra o impressionante desemprego no mundo. Pois bem: o Brasil teve saldo positivo de mais de 1 milhão e 100 mil empregos em 2013 – embora o crescimento venha caindo. Só a indústria de transformação gerou 126.359 postos de trabalho. A média salarial no momento da admissão registrou aumento real de 2,59%. O que fez a mídia? Leu de qualquer jeito os dados e registrou queda no emprego, desconsiderando, inclusive, a conjuntura mundial ruim apontada pela OIT.
Nossa mídia apostou nos apagões; falhou. Induziu o STF a justiçamento; ainda assim a direita não ganhou a eleição. Criou ruído entre os Três Poderes; fato que não se efetivou. Vitaminou a inflação do tomate; a inflação hoje é a menor em muitos anos. Agitou uma crise fiscal, mirando o rebaixamento pelas agências de risco; Brasil fechou as contas no azul. Os barões da mídia gestaram dois candidatos – Marina e Joaquim; a primeira viu seu partido virar pó; o segundo a cada dia expõe fragilidades e contradições.
A grande imprensa, com rede Globo à frente, já foi hegemônica e abusou desse poder. De tanto errar e em razão das novas mídias, perde terreno a cada dia. Nossos editorialistas, cheios de citações, certamente não leram Tucídides, que há mais de dois mil anos cravou: “A hegemonia se suicida”. Enquanto eles se suicidam, cabe-nos fortalecer nosso campo e, na questão midiática, construir e articular a nossa mídia, cotidianamente.

João Franzin é jornalista
da Agência Sindical

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