Gabriel Priolli
http://gabrielpriolli.com.br/pesos-e-desmedidas enviado pelo jornalista Celso Vicenzi
O episódio batizado de Mensalão e atribuído ao PT teria
desviado R$ 73 milhões dos cofres públicos. Já o caso intitulado
Cartel do Metrô e atribuído ao PSDB envolveria valores de, no
mínimo, R$ 557 milhões. O primeiro segue sendo classificado,
pela imprensa tradicional, de “o maior escândalo de corrupção da
história do país”. E o segundo, como se pode classificar?
A rigor, desviar um real ou R$ 1 bilhão seria o mesmo ato
infrator, se a ética fosse uma ciência exata como a matemática.
Especialmente quando aplicada às finanças públicas.
Mas estamos falando da política, do mundo dos interesses
representados e em permanente conflito. Do mundo da construção
de discursos para a busca do convencimento e a formação de
hegemonias. Do jogo democrático objetivo, real. Que não existe
sem imprensa livre.
Quando elege “o maior escândalo de corrupção da história
do país”, a mídia faz essa ponderação. Não toma apenas o valor
financeiro do Mensalão, mas sua dimensão simbólica:
ministros, secretários, presidentes da Câmara, deputados, gente
de alto escalão envolvida. Seria o maior escândalo, nessa visão,
pelo alcance dentro do Estado e a dimensão da ofensa
institucional.
Mas, peguemos o trem para São Paulo. Já são quase oito
vagões a mais que o Mensalão, no quesito grana.
Não temos também um senador citado no Cartel do Metrô?
Deputados? Ex-ministros, secretários, eminentes personalidades
da oposição brasileira? E tudo não aconteceu sob a
responsabilidade de três governadores, um deles atualmente no
cargo e todos ex-candidatos à presidência da República?
Não é tamanho suficiente? Ofensa equivalente?
Se o poder federal tem dimensão maior que o estadual,
nesse caso o estadual é o núcleo da oposição federal. Há,
portanto, senão empate técnico, perfeito empate moral.
E se há essa equivalência entre os dois escândalos,
caberia, em primeiro lugar, dar publicidade ao caso paulista com
a mesma eloquência espetacular concedida ao caso federal.
Depois, refazer os cálculos, para definir quem ocupa o pódio da
corrupção.
Mas existe o alinhamento político dos veículos, esse que
eles gostam tanto de negar. E então apresenta-se a inevitável
“dosimetria de pauta”, muito praticada nas redações, mas bem
menos conhecida do grande público do que a sua
congênere judicial.
O Mensalão petista vale um trem carregadinho de otários e
circula de norte a sul, fazendo piuí em alto volume, em todas as
páginas e telas. Já o pobre Cartel do Metrô tucano… O que, quem,
quando, onde, como, alguém viu? O escândalo paulista é a típica
pauta gelada, focada nas laterais do assunto, diversionista,
evasiva. Não informa nem, muito menos, irrita ou mobiliza
ninguém.
Se um assunto é tão menor que o outro na percepção do
público – percepção que é construída nas fontes onde ele se
informa -, como pretender que o Cartel seja valorado
objetivamente como um “malfeito” maior que o Mensalão e receba a
faixa de máximo caso de corrupção no país? Impossível.
É dessa forma que se produzem os recordes de corrupção:
atribuindo-os a quem interessa. A quem de esquerda ora ocupa o
trono e dele deve ser apeado. A balança dos critérios está
inapelavelmente chumbada. A única matemática financeira
envolvida é a do cálculo eleitoral.
Não é exatamente justo, equilibrado, imparcial e isento
esse comportamento noticioso, como reza o manual instituído
pelos próprios noticiantes. Mas é como é. Dessa forma procede a
veneranda instituição da imprensa, à sombra das palavras vazias
que gosta muito de cultivar.
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