Para quem não leu, a entrevista de Trabuco, do Bradesco, a Assis Moreira, do Valor.
Trabuco prevê retomada dos bancos privados
Por Assis Moreira
Presidente do Bradesco, quarto maior banco do país em ativos, Luiz
Carlos Trabuco Cappi prevê que as instituições privadas devem voltar a
ganhar fôlego nas operações de crédito a partir deste ano. "Seguramente
em 2014, 2015 os bancos privados vão ganhar fatias de mercado", afirmou o
executivo em entrevista ao Valor, pouco antes da recepção de
boas-vindas aos participantes do Fórum Econômico Mundial de Davos.
Se o movimento se concretizar, marcará o fim de um ciclo que se iniciou
com a crise financeira de 2008. Desde então, os bancos públicos têm
ganhado espaço mais relevante no estoque de crédito no Brasil. Pelas
projeções do Banco Central, as instituições oficiais encerraram novembro
com uma participação de mercado de 50,8%.
O otimismo do
banqueiro extrapola para a qualidade dos empréstimos que os bancos vão
conceder neste ano. Para Trabuco, a taxa de inadimplência das pessoas
físicas ficará estável em 2014 em 3,9%, menor patamar dos últimos cinco
anos. "Quando cresce a caderneta de poupança do pequeno e médio
depositante, e a inadimplência cai, significa uma boa direção."
Durante a entrevista, o presidente do Bradesco falou sobre temas como a
necessidade de atração dos investidores estrangeiros para o Brasil, o
conforto do setor financeiro com o governo da presidente Dilma Rousseff,
inflação e câmbio. Leia a seguir os principais trechos.
Valor: Como o senhor vê a economia brasileira este ano? Parece existir um certo pessimismo entre alguns bancos?
Luiz Carlos Trabuco Cappi : Acho que em 2014 o Brasil vai crescer mais
do que em 2013. É evidente que não será um crescimento espetacular, mas
suficiente para gerar um número de empregos para repor o índice de
empregabilidade que nós temos. Um dos maiores bônus que nós temos é esse
quase pleno emprego. E esse quase pleno emprego está se refletindo nos
índices de inadimplência.
Valor: Estão caindo?
Trabuco
: Sim, estão no menor nível dos últimos cinco anos, de 3,9% da carteira
total de empréstimo da pessoa física. Esse baixo índice de
inadimplência tem dois reflexos. O emprego está forte, a empregabilidade
é um ponto elevado no mercado de consumo. E ao mesmo tempo houve o
aumento muito grande do crédito consciente. Há uns dois anos, quando o
Brasil mudou o crédito de 40% para 50% do PIB, se discutia muito se
haveria excesso de tomada de empréstimos, mas a realidade provou que
não. E o produto que mais cresceu no ano passado foi a caderneta de
poupança. O que significa? Que o crédito consciente, a disciplina, está
realmente imperando. Quando cresce a caderneta de poupança do pequeno e
médio depositante e a inadimplência cai, significa uma boa direção.
Valor: A inadimplência diminui mais ou estabiliza este ano?
Trabuco : A queda foi muito grande, este ano [a tendência] é de estabilizar.
Valor: Agora, o mundo, a economia global, está em transição...
Trabuco : Sim, e é uma transição de retomada da economia dos Estados
Unidos e isso não passa despercebido porque faz com que haja mudança de
patamar dos juros. Aumenta os juros. A Europa tem muitos problemas, mas
parou de piorar. O que significa que o Brasil vai ter de disputar com
outras economias espaço no portfólio dos investidores. Nesse momento, o
grande desafio que o Brasil tem, e o governo está em sintonia com isso, a
presença aqui [em Davos] da presidente Dilma [Rousseff] com vários
ministros está sinalizando para o investidor que o Brasil, após as
concessões, tem um direcional. O grande desafio que nós temos é fazer o
capital produzir no Brasil. É fazer o investimento estrangeiro ou
capital privado nacional funcionar para suprir os nossos fossos,
principalmente de infraestrutura. O Brasil não é um país pobre, é um
país desigual. Não é um país improdutivo. Nós temos problema de
competitividade, mas o país é produtivo. No ano passado, foram quase 200
milhões de toneladas de produção agrícola, este ano o clima está
ajudando e podemos sonhar com outras 200 milhões de toneladas de
produção. Se o país é produtivo, é uma economia diversificada, somos a
sétima economia do mundo, não tem por que estar errado.
Valor: Valor: Estamos em um período pré-eleitoral. Não pode haver retardo em reformas que foram iniciadas?
Trabuco : A fase que estamos vivendo agora, e o governo tem nítida
consciência disso, é que agora é plano de ação, é plano de crescimento,
motivação dos capitais para investir no Brasil. E aí temos de ser mais
amigáveis ao investidor estrangeiro, porque, se fizermos o capital
nacional e estrangeiro funcionar no Brasil, damos um salto de qualidade.
As concessões, foram várias no segundo semestre, o que significam para o
Brasil? O Estado, por mais forte que seja, não tem recursos para fazer
todos os investimentos para a infraestrutura, e necessita dos capitais
privados. Aquela velha tese de Parceria Público Privada não significa um
Estado menor, significa um Estado mais eficiente. E quando uma empresa,
um investidor ganha o direito de explorar uma concessão, temos dois
objetivos. Ele desonerou o Estado do montante do investidor e passa a
ser um pagador de impostos na próxima etapa.
Valor: O que a presidente Dilma Rousseff poderia fazer adicionalmente para atrair mais os investidores, aqui em Davos?
Trabuco : A presidente Dilma tem consciência que estamos vivendo um
mundo em que o Brasil precisa ser eficiente na disputa dos investidores.
E a apresentação que ela vai fazer aqui em Davos está com excesso de
participação, o que mostra interesse. O Brasil está na rota de
investimento. O investidor pode ficar preocupado porque em momentos de
transição econômica ou quando a inflação recrudesce um pouco, quando o
câmbio dá uma mexida, o investidor é sensível. Agora, ninguém quer ficar
fora do Brasil. Porque a democracia brasileira, o Judiciário, as
instituições, a harmonia social, independente dos problemas que possam
existir, tem uma coesão. O Brasil tem um projeto de país. E isso,
independentemente da eleição, que você colocou, esse é o direcional. As
empresas brasileiras estão trabalhando duro há décadas para aproveitar
este momento. Agora tem outro lado, que a gente percebe nas pequenas
coisas, é que o Brasil tem passado por uma revolução de recursos
humanos. A qualidade do pessoal melhorou, as universidades públicas ou
privadas... Aliás, essa dicotomia é discussão vencida. Contrapor banco
público a banco privado, saúde pública a saúde privada, educação pública
ou privada é discussão ideológica. A sociedade quer é agentes públicos
ou privados eficientes. A presidente Dilma tem consciência disso, agora é
foco e capacidade de entrega.
Valor: O setor financeiro está com a presidente Dilma ou se sente menos confortável com ela?
Trabuco : Não, nós estamos confortáveis...
Valor: O Bradesco ou o setor financeiro?
Trabuco : O setor financeiro... O setor é um agente do governo na
gestão da moeda que está na propriedade dos nossos clientes. O nosso
alvo é ter um Brasil que cresça com redução de desigualdade, expansão do
PIB, aumento da renda per capita. Porque na proporção que vamos criando
um sociedade afluente, tem uma longa trajetória para isso. Uma
sociedade afluente é uma sociedade democrática, ela dá oportunidades
iguais.
Valor: Ou seja, o setor financeiro está confortável com a presidente...
Trabuco : Ah, está confortável.
Valor: E apoiaria ela?
Trabuco : Isso, apoio, eu diria que não opinamos sobre isso. Agora, eu
diria que a presidente Dilma tem um plano de governo, ela tem um
direcional, ela é a favor do Brasil e nós somos a favor do Brasil.
"Dicotomia público-privado é discussão vencida. [...] A sociedade quer é agentes públicos ou privados eficientes"
Valor: Sobre a inflação, o que o senhor espera em 2014?
Trabuco: A inflação mostrou resistência, principalmente quando se
avalia que os preços administrados tiveram uma evolução bem inferior aos
preços livres. Num certo sentido, a inflação de serviços no Brasil é
consequência do chamado aumento do poder de renda que o país tem nos
últimos anos e os serviços não são disponíveis. É um ponto de
preocupação. Mas eu destacaria que o Banco Central está no papel
correto. O Copom tem feito uma evolução na taxa de juros, é importante
conciliar política monetária com política fiscal. Quando a Europa teve
problemas fiscais, foi aí que houve um aumento do risco-país. A sintonia
de política monetária com política fiscal vai ser o grande diapasão
para 2014. Isso está definido.
Valor: Sobre os juros, o senhor espera algo próximo dos 11%?
Trabuco : É, o juro teve um avanço importante. O BC é que tem condições
de calibrar o montante adequado para trabalhar as expectativas. O
aumento dos juros não é milagroso, porque o milagre é causa sem efeito. É
um sinalizador das expectativas da sociedade, para evitar que a
sociedade veja a inflação como uma perenidade. Graças a Deus não temos
indexação. Inflação em alta com indexação seria algo maléfico porque ela
se realimentaria.
Valor: Mas o juro continua a subir ou não?
Trabuco : Acho que ele está chegando num nível adequado. Pode subir um
pouco mais ou menos. Até porque temos de comparar o custo do dinheiro do
real com as demais economias. Isso acaba afetando a competitividade
também.
Valor: Sobre o câmbio, alguns observadores projetam
mais desvalorização para o real e algumas empresas com dívida em moeda
forte poderiam ter problemas. Qual é a sua avaliação?
Trabuco :
A mudança do dólar, no primeiro extremo, foi R$ 1,55, e agora está no
patamar de R$ 2,30 ou R$ 2,35, recompôs a renda do exportador. O
exportador teve ganho de produtividade e teve câmbio que mudou. Isso não
foi bom para a inflação, porque a economia brasileira tem um grande
grau de importação de bens e serviços. Mas ajudou a equilibrar o modelo
exportador. Então acho que ele está bem. Estamos vendo nos últimos meses
um crescimento das commodities agrícolas. O último foi o preço muito
forte da laranja. E, com esse patamar novo, a renda agrícola do
exportador com o dólar ao redor de R$ 2,35 e o aumento de preço gera uma
renda excepcional. O preço da carne está excepcionalmente bom e pelas
projeções vai permanecer no próximo ano. E o Brasil tem um estoque de
proteína animal invejável.
Valor: O câmbio em torno de R$ 2,40 ficará estável?
Trabuco: Acho que tem uma direção de estabilidade...
Valor: E não causaria problemas de pagamentos externos?
Trabuco: Não, de jeito nenhum. Um detalhe sobre as dívidas é que os
emissores de notas ou bonds foram feitos a prazos dilatados. Houve uma
época na economia brasileira em que tudo estava no curto prazo. Agora,
teve um alongamento. E foi positivo, porque o governo soube aproveitar
isso, que foi o alongamento da dívida interna. Hoje já temos estoques
importante de títulos de 2045, de 2050.
Valor: O FMI acaba de alertar sobre o risco maior de fuga de capital de emergentes. O Brasil corre esse risco?
Trabuco: Acho que não. O relatório do FMI foi até positivo em alguns
aspectos, porque olhou para a economia brasileira e viu um crescimento
superior à média da projeção dos economistas brasileiros. Isso é o
reconhecimento da capacidade do PIB potencial. Com relação ao movimento
de capitais, o FMI falou genericamente, sobre migração [de capital]. O
pior dos mundos seria um cenário em que os Estados Unidos, Europa e Ásia
mudassem o patamar dos juros, aí teríamos... Acho que a fuga de capital
no Brasil não se aplica. O que se aplica são empresas brasileiras, os
investidores nacionais disputando taxas de retorno e de captação. E aí o
clima de confiança, de bola para frente, de país que tem projeto
nacional, de coesão política, administrativa, financeira, que faz seu
dever de casa nas políticas fiscal e monetária, acho que esse é um bônus
que o Brasil tem. O Bradesco está presente em 100% dos municípios,
temos 26 milhões de correntistas bancários, temos 35 milhões de
segurados e a gente vive essa potencialidade.
Valor: Com menor inadimplência, o que se pode esperar sobre crédito este ano?
Trabuco: O crédito é o multiplicador do PIB. Se o Fundo Monetário
Internacional estiver correto, dá para imaginar o crédito crescer umas
quatro vezes mais que o Produto Interno Bruto. É o crédito da empresa
que produz, é o crédito quando a empresa vende e o crédito ao
consumidor, tem um desdobramento multiplicador importante.
Valor: Os escândalos de corrupção, problemas de organização de Copa do Mundo etc., até que ponto causam impacto no exterior?
Trabuco: É evidente que nós, brasileiros, somos muito críticos com nós
mesmos. Os desafios, com determinação e foco, dá para serem
ultrapassados. O Brasil tem seguramente um papel no século 21 dentro da
América Latina e do mundo de realmente se impor. A consolidação como
sétima ou sexta economia do mundo não passa despercebida aqui em Davos. A
presença do governo aqui é muito saudável, de fazer relações com
investidores. No fundo, a coisa é elementar: relação com investidores,
olho no olho, passando confiança e perspectivas.
"Dilma tem um plano de governo, tem um direcional, é a favor do Brasil e nós [bancos] somos a favor do Brasil"
Valor: Pode-se esperar mais engajamento dos bancos privados em investimentos de longo prazo?
Trabuco: Os bancos públicos tiveram crescimento bastante forte nos
últimos anos, e eles são mais adequados para fazer políticas
anticíclicas. Como transmissores de recursos do Tesouro, podem fazem
isso com mais propriedade porque não tem o risco de funding e nem risco
de descasamento de taxas. Os bancos privados têm seu papel e seguramente
em 2014, 2015 os bancos privados vão ganhar fatias de mercado.
Valor: O senhor estima esse ganho em quanto?
Trabuco: É a tendência, porque os bancos brasileiros estão bem
capitalizados, com baixo índice de alavancagem, índice de Basileia
extremamente confortáveis e em período de pouca maior austeridade,
muitas vezes o Tesouro é mais contido nos repasses dos recursos.
Valor: Os bancos brasileiros continuarão a estar entre os mais lucrativos do mundo?
Trabuco: Olha, os bancos brasileiros são muito eficientes, todos,
público ou privado. E a rentabilidade que eles alcançam é derivada desse
índice de eficiência. Hoje os bancos americanos estão em fase de
rentabilidade muito forte. A dos bancos brasileiros é suficiente para
garantir uma alavancagem de crédito por esse período.
Valor: Quanto é, em média, a rentabilidade dos brasileiros?
Trabuco: Ao redor de 18% sobre o patrimônio líquido, rentabilidade após impostos.
Valor: É um bom negócio...
Trabuco: Mas os riscos são grandes também.
Valor: Quais as prioridades do Bradesco para este ano? Pensa em aquisições?
Trabuco: O Bradesco não tem em perspectiva nenhuma aquisição, até
porque o mercado brasileiro está consolidado, já teve uma divisão até
harmônica entre os bancos públicos, os privados e os estrangeiros.
Estamos com a estrutura pronta. Fizemos esforço muito grande de estar
presente em todo o território nacional. A rede está completa, com mais
de oito mil agências em todo o país. O nosso potencial competitivo é que
temos escalabilidade. A oferta dos seguros que o Bradesco faz é
extremamente intensa. O próprio valor de mercado, ao redor de R$ 100
bilhões ontem, mostra que o investidor confia.
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Trabuco prevê retomada dos bancos privados
Por Assis Moreira
Presidente do Bradesco, quarto maior banco do país em ativos, Luiz Carlos Trabuco Cappi prevê que as instituições privadas devem voltar a ganhar fôlego nas operações de crédito a partir deste ano. "Seguramente em 2014, 2015 os bancos privados vão ganhar fatias de mercado", afirmou o executivo em entrevista ao Valor, pouco antes da recepção de boas-vindas aos participantes do Fórum Econômico Mundial de Davos.
Se o movimento se concretizar, marcará o fim de um ciclo que se iniciou com a crise financeira de 2008. Desde então, os bancos públicos têm ganhado espaço mais relevante no estoque de crédito no Brasil. Pelas projeções do Banco Central, as instituições oficiais encerraram novembro com uma participação de mercado de 50,8%.
O otimismo do banqueiro extrapola para a qualidade dos empréstimos que os bancos vão conceder neste ano. Para Trabuco, a taxa de inadimplência das pessoas físicas ficará estável em 2014 em 3,9%, menor patamar dos últimos cinco anos. "Quando cresce a caderneta de poupança do pequeno e médio depositante, e a inadimplência cai, significa uma boa direção."
Durante a entrevista, o presidente do Bradesco falou sobre temas como a necessidade de atração dos investidores estrangeiros para o Brasil, o conforto do setor financeiro com o governo da presidente Dilma Rousseff, inflação e câmbio. Leia a seguir os principais trechos.
Valor: Como o senhor vê a economia brasileira este ano? Parece existir um certo pessimismo entre alguns bancos?
Luiz Carlos Trabuco Cappi : Acho que em 2014 o Brasil vai crescer mais do que em 2013. É evidente que não será um crescimento espetacular, mas suficiente para gerar um número de empregos para repor o índice de empregabilidade que nós temos. Um dos maiores bônus que nós temos é esse quase pleno emprego. E esse quase pleno emprego está se refletindo nos índices de inadimplência.
Valor: Estão caindo?
Trabuco : Sim, estão no menor nível dos últimos cinco anos, de 3,9% da carteira total de empréstimo da pessoa física. Esse baixo índice de inadimplência tem dois reflexos. O emprego está forte, a empregabilidade é um ponto elevado no mercado de consumo. E ao mesmo tempo houve o aumento muito grande do crédito consciente. Há uns dois anos, quando o Brasil mudou o crédito de 40% para 50% do PIB, se discutia muito se haveria excesso de tomada de empréstimos, mas a realidade provou que não. E o produto que mais cresceu no ano passado foi a caderneta de poupança. O que significa? Que o crédito consciente, a disciplina, está realmente imperando. Quando cresce a caderneta de poupança do pequeno e médio depositante e a inadimplência cai, significa uma boa direção.
Valor: A inadimplência diminui mais ou estabiliza este ano?
Trabuco : A queda foi muito grande, este ano [a tendência] é de estabilizar.
Valor: Agora, o mundo, a economia global, está em transição...
Trabuco : Sim, e é uma transição de retomada da economia dos Estados Unidos e isso não passa despercebido porque faz com que haja mudança de patamar dos juros. Aumenta os juros. A Europa tem muitos problemas, mas parou de piorar. O que significa que o Brasil vai ter de disputar com outras economias espaço no portfólio dos investidores. Nesse momento, o grande desafio que o Brasil tem, e o governo está em sintonia com isso, a presença aqui [em Davos] da presidente Dilma [Rousseff] com vários ministros está sinalizando para o investidor que o Brasil, após as concessões, tem um direcional. O grande desafio que nós temos é fazer o capital produzir no Brasil. É fazer o investimento estrangeiro ou capital privado nacional funcionar para suprir os nossos fossos, principalmente de infraestrutura. O Brasil não é um país pobre, é um país desigual. Não é um país improdutivo. Nós temos problema de competitividade, mas o país é produtivo. No ano passado, foram quase 200 milhões de toneladas de produção agrícola, este ano o clima está ajudando e podemos sonhar com outras 200 milhões de toneladas de produção. Se o país é produtivo, é uma economia diversificada, somos a sétima economia do mundo, não tem por que estar errado.
Valor: Valor: Estamos em um período pré-eleitoral. Não pode haver retardo em reformas que foram iniciadas?
Trabuco : A fase que estamos vivendo agora, e o governo tem nítida consciência disso, é que agora é plano de ação, é plano de crescimento, motivação dos capitais para investir no Brasil. E aí temos de ser mais amigáveis ao investidor estrangeiro, porque, se fizermos o capital nacional e estrangeiro funcionar no Brasil, damos um salto de qualidade. As concessões, foram várias no segundo semestre, o que significam para o Brasil? O Estado, por mais forte que seja, não tem recursos para fazer todos os investimentos para a infraestrutura, e necessita dos capitais privados. Aquela velha tese de Parceria Público Privada não significa um Estado menor, significa um Estado mais eficiente. E quando uma empresa, um investidor ganha o direito de explorar uma concessão, temos dois objetivos. Ele desonerou o Estado do montante do investidor e passa a ser um pagador de impostos na próxima etapa.
Valor: O que a presidente Dilma Rousseff poderia fazer adicionalmente para atrair mais os investidores, aqui em Davos?
Trabuco : A presidente Dilma tem consciência que estamos vivendo um mundo em que o Brasil precisa ser eficiente na disputa dos investidores. E a apresentação que ela vai fazer aqui em Davos está com excesso de participação, o que mostra interesse. O Brasil está na rota de investimento. O investidor pode ficar preocupado porque em momentos de transição econômica ou quando a inflação recrudesce um pouco, quando o câmbio dá uma mexida, o investidor é sensível. Agora, ninguém quer ficar fora do Brasil. Porque a democracia brasileira, o Judiciário, as instituições, a harmonia social, independente dos problemas que possam existir, tem uma coesão. O Brasil tem um projeto de país. E isso, independentemente da eleição, que você colocou, esse é o direcional. As empresas brasileiras estão trabalhando duro há décadas para aproveitar este momento. Agora tem outro lado, que a gente percebe nas pequenas coisas, é que o Brasil tem passado por uma revolução de recursos humanos. A qualidade do pessoal melhorou, as universidades públicas ou privadas... Aliás, essa dicotomia é discussão vencida. Contrapor banco público a banco privado, saúde pública a saúde privada, educação pública ou privada é discussão ideológica. A sociedade quer é agentes públicos ou privados eficientes. A presidente Dilma tem consciência disso, agora é foco e capacidade de entrega.
Valor: O setor financeiro está com a presidente Dilma ou se sente menos confortável com ela?
Trabuco : Não, nós estamos confortáveis...
Valor: O Bradesco ou o setor financeiro?
Trabuco : O setor financeiro... O setor é um agente do governo na gestão da moeda que está na propriedade dos nossos clientes. O nosso alvo é ter um Brasil que cresça com redução de desigualdade, expansão do PIB, aumento da renda per capita. Porque na proporção que vamos criando um sociedade afluente, tem uma longa trajetória para isso. Uma sociedade afluente é uma sociedade democrática, ela dá oportunidades iguais.
Valor: Ou seja, o setor financeiro está confortável com a presidente...
Trabuco : Ah, está confortável.
Valor: E apoiaria ela?
Trabuco : Isso, apoio, eu diria que não opinamos sobre isso. Agora, eu diria que a presidente Dilma tem um plano de governo, ela tem um direcional, ela é a favor do Brasil e nós somos a favor do Brasil.
"Dicotomia público-privado é discussão vencida. [...] A sociedade quer é agentes públicos ou privados eficientes"
Valor: Sobre a inflação, o que o senhor espera em 2014?
Trabuco: A inflação mostrou resistência, principalmente quando se avalia que os preços administrados tiveram uma evolução bem inferior aos preços livres. Num certo sentido, a inflação de serviços no Brasil é consequência do chamado aumento do poder de renda que o país tem nos últimos anos e os serviços não são disponíveis. É um ponto de preocupação. Mas eu destacaria que o Banco Central está no papel correto. O Copom tem feito uma evolução na taxa de juros, é importante conciliar política monetária com política fiscal. Quando a Europa teve problemas fiscais, foi aí que houve um aumento do risco-país. A sintonia de política monetária com política fiscal vai ser o grande diapasão para 2014. Isso está definido.
Valor: Sobre os juros, o senhor espera algo próximo dos 11%?
Trabuco : É, o juro teve um avanço importante. O BC é que tem condições de calibrar o montante adequado para trabalhar as expectativas. O aumento dos juros não é milagroso, porque o milagre é causa sem efeito. É um sinalizador das expectativas da sociedade, para evitar que a sociedade veja a inflação como uma perenidade. Graças a Deus não temos indexação. Inflação em alta com indexação seria algo maléfico porque ela se realimentaria.
Valor: Mas o juro continua a subir ou não?
Trabuco : Acho que ele está chegando num nível adequado. Pode subir um pouco mais ou menos. Até porque temos de comparar o custo do dinheiro do real com as demais economias. Isso acaba afetando a competitividade também.
Valor: Sobre o câmbio, alguns observadores projetam mais desvalorização para o real e algumas empresas com dívida em moeda forte poderiam ter problemas. Qual é a sua avaliação?
Trabuco : A mudança do dólar, no primeiro extremo, foi R$ 1,55, e agora está no patamar de R$ 2,30 ou R$ 2,35, recompôs a renda do exportador. O exportador teve ganho de produtividade e teve câmbio que mudou. Isso não foi bom para a inflação, porque a economia brasileira tem um grande grau de importação de bens e serviços. Mas ajudou a equilibrar o modelo exportador. Então acho que ele está bem. Estamos vendo nos últimos meses um crescimento das commodities agrícolas. O último foi o preço muito forte da laranja. E, com esse patamar novo, a renda agrícola do exportador com o dólar ao redor de R$ 2,35 e o aumento de preço gera uma renda excepcional. O preço da carne está excepcionalmente bom e pelas projeções vai permanecer no próximo ano. E o Brasil tem um estoque de proteína animal invejável.
Valor: O câmbio em torno de R$ 2,40 ficará estável?
Trabuco: Acho que tem uma direção de estabilidade...
Valor: E não causaria problemas de pagamentos externos?
Trabuco: Não, de jeito nenhum. Um detalhe sobre as dívidas é que os emissores de notas ou bonds foram feitos a prazos dilatados. Houve uma época na economia brasileira em que tudo estava no curto prazo. Agora, teve um alongamento. E foi positivo, porque o governo soube aproveitar isso, que foi o alongamento da dívida interna. Hoje já temos estoques importante de títulos de 2045, de 2050.
Valor: O FMI acaba de alertar sobre o risco maior de fuga de capital de emergentes. O Brasil corre esse risco?
Trabuco: Acho que não. O relatório do FMI foi até positivo em alguns aspectos, porque olhou para a economia brasileira e viu um crescimento superior à média da projeção dos economistas brasileiros. Isso é o reconhecimento da capacidade do PIB potencial. Com relação ao movimento de capitais, o FMI falou genericamente, sobre migração [de capital]. O pior dos mundos seria um cenário em que os Estados Unidos, Europa e Ásia mudassem o patamar dos juros, aí teríamos... Acho que a fuga de capital no Brasil não se aplica. O que se aplica são empresas brasileiras, os investidores nacionais disputando taxas de retorno e de captação. E aí o clima de confiança, de bola para frente, de país que tem projeto nacional, de coesão política, administrativa, financeira, que faz seu dever de casa nas políticas fiscal e monetária, acho que esse é um bônus que o Brasil tem. O Bradesco está presente em 100% dos municípios, temos 26 milhões de correntistas bancários, temos 35 milhões de segurados e a gente vive essa potencialidade.
Valor: Com menor inadimplência, o que se pode esperar sobre crédito este ano?
Trabuco: O crédito é o multiplicador do PIB. Se o Fundo Monetário Internacional estiver correto, dá para imaginar o crédito crescer umas quatro vezes mais que o Produto Interno Bruto. É o crédito da empresa que produz, é o crédito quando a empresa vende e o crédito ao consumidor, tem um desdobramento multiplicador importante.
Valor: Os escândalos de corrupção, problemas de organização de Copa do Mundo etc., até que ponto causam impacto no exterior?
Trabuco: É evidente que nós, brasileiros, somos muito críticos com nós mesmos. Os desafios, com determinação e foco, dá para serem ultrapassados. O Brasil tem seguramente um papel no século 21 dentro da América Latina e do mundo de realmente se impor. A consolidação como sétima ou sexta economia do mundo não passa despercebida aqui em Davos. A presença do governo aqui é muito saudável, de fazer relações com investidores. No fundo, a coisa é elementar: relação com investidores, olho no olho, passando confiança e perspectivas.
"Dilma tem um plano de governo, tem um direcional, é a favor do Brasil e nós [bancos] somos a favor do Brasil"
Valor: Pode-se esperar mais engajamento dos bancos privados em investimentos de longo prazo?
Trabuco: Os bancos públicos tiveram crescimento bastante forte nos últimos anos, e eles são mais adequados para fazer políticas anticíclicas. Como transmissores de recursos do Tesouro, podem fazem isso com mais propriedade porque não tem o risco de funding e nem risco de descasamento de taxas. Os bancos privados têm seu papel e seguramente em 2014, 2015 os bancos privados vão ganhar fatias de mercado.
Valor: O senhor estima esse ganho em quanto?
Trabuco: É a tendência, porque os bancos brasileiros estão bem capitalizados, com baixo índice de alavancagem, índice de Basileia extremamente confortáveis e em período de pouca maior austeridade, muitas vezes o Tesouro é mais contido nos repasses dos recursos.
Valor: Os bancos brasileiros continuarão a estar entre os mais lucrativos do mundo?
Trabuco: Olha, os bancos brasileiros são muito eficientes, todos, público ou privado. E a rentabilidade que eles alcançam é derivada desse índice de eficiência. Hoje os bancos americanos estão em fase de rentabilidade muito forte. A dos bancos brasileiros é suficiente para garantir uma alavancagem de crédito por esse período.
Valor: Quanto é, em média, a rentabilidade dos brasileiros?
Trabuco: Ao redor de 18% sobre o patrimônio líquido, rentabilidade após impostos.
Valor: É um bom negócio...
Trabuco: Mas os riscos são grandes também.
Valor: Quais as prioridades do Bradesco para este ano? Pensa em aquisições?
Trabuco: O Bradesco não tem em perspectiva nenhuma aquisição, até porque o mercado brasileiro está consolidado, já teve uma divisão até harmônica entre os bancos públicos, os privados e os estrangeiros. Estamos com a estrutura pronta. Fizemos esforço muito grande de estar presente em todo o território nacional. A rede está completa, com mais de oito mil agências em todo o país. O nosso potencial competitivo é que temos escalabilidade. A oferta dos seguros que o Bradesco faz é extremamente intensa. O próprio valor de mercado, ao redor de R$ 100 bilhões ontem, mostra que o investidor confia.
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