Mauro Santayama em seu blog
(HD) - Desde a instituição, em 1536, pelo Rei Dom João III, de Portugal,
das Capitanias Hereditárias, o Brasil sofre com a maldição dos monopólios e da
cartelização.
Dentro das capitanias, o senhor explorava seus prepostos, nas sesmarias,
exercendo a exclusividade da compra e da venda e da fixação de preços das
mercadorias, da mesma forma que a Coroa Portuguesa fazia com ele.
O que, antes, era imposto pelo sistema colonial português,
transformou-se, com o passar dos anos, em traço marcante da cultura nacional e
do estilo “empreendedor” brasileiro. Criamos um país de barões, tabeliões e
coronéis, interventores nomeados e pequenos comerciantes, sempre empenhados em
ver o público em geral mais como objeto de exploração pura e simples do que
como clientes ou consumidores.
Entre-se em uma feira qualquer, e em poucos minutos, se descobrirá que
existe uma espécie de “acordão” entre comerciantes locais. Se a picanha, no
“seu” José, está um real mais cara que no “ seu” Manuel, pode ter certeza de
que a chã de dentro vai estar um real mais cara no segundo açougue, para
compensar. O mesmo se dará com o peixe, a banana, o tomate, a alface, etc, etc,
etc.
Quem se der ao trabalho de calcular, vai ver que não faz a menor
diferença parar em uma ou outra banca. Só muda a cara ou a forma da pessoa atender.
Sempre se ajeita tudo para que ninguém saia perdendo, desde que ele não seja
consumidor.
Se isso ocorre no comércio de bairro, imagine-se nos grandes negócios. Monopólios, cartéis formados para burlar licitações, ou para divisão de mercado, são a coisa mais normal no Brasil.
Na telefonia, por exemplo, depois da
criminosa desnacionalização do setor nos anos noventa, a concentração em mãos
estrangeiras da parte do leão das telecomunicações faz com que estejamos
pagando das mais altas tarifas do mundo, em uma área que é campeã de
reclamações.
O último episódio nessa longa série de escárnios
ao cidadão brasileiro foi a suspensão, na semana passada, pela enésima vez, da
tentativa de se proceder a licitação de linhas interestaduais de passageiros,
que continuam, na prática, nas mãos das mesmas empresas, desde o regime
militar.
No setor, a concorrência é tão grande,
que as quatro viações que fazem a ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, a
rota de maior movimento do país, cobram rigorosamente o mesmo preço pela
passagem de ônibus convencional.
O decreto que previa a licitação é de
1993, a escolha das vencedoras já deveria ter sido feita em 2008, mas a
licitação tem sido sucessivamente adiada e não saiu até hoje.
E mesmo assim, quando isso ocorrer, só
poderão participar dela – pasmem! - empresas que já operam nesse mercado. Os “concorrentes” continuarão sendo os mesmos
“conhecidos” de sempre. Só haverá algumas mudanças, como a que obrigará
empresas mais rentáveis a atender trechos de menor retorno financeiro.
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