O aumento da taxa juros estabelece,
portanto, uma solidariedade objetiva da economia brasileira com as
políticas recessivas anti-crise da União Européia, conseguida através de
uma articulação política do sistema financeiro global: o aumento da
taxa de juros transfere um adicional de recursos, que será diretamente
manipulado pelo sistema, para ajudá-lo a gerir a crise européia nos
mesmos moldes em que a mesma vem sendo enfrentada. O preço da crise
européia, sobre nós, é a taxa de juros para melhorar a perfomance dos
grandes bancos encalacrados na crise. O artigo é de Tarso Genro.
Tarso Genro (*)
Data: 21/04/2013
O esforço feito pelas agências financeiras
privadas para promover o aumento dos juros, através do controle seletivo
da informação - via colunistas financeiros, editorialistas convictos
ou devidamente convencidos, cronistas políticos que repetem a “voz do
dono”, para lembrar o velho selo da RCA Victor - configurou-se como uma
profecia autorealizada. O medo comum da inflação e a constatação da
demora, na retomada de taxas de crescimento mais altas - proveniente das
pessoas de boa fé - também ajudou a criar o clima para a realização da
“profecia”.
Quero arriscar um palpite sobre porque as taxas de juro subiram e assim geraram um novo crescimento da dívida pública que, de uma parte, agradou as “agências de risco” e o sistema financeiro privado, em geral, e, de outra, brindou a oposição neoliberal com argumentos contra a gestão financeira do Governo da Presidenta Dilma, embora a decisão fosse de responsabilidade exclusiva do Banco Central.
Como é sabido, na crise infernal em que está metida a União Européia, os “socorros” em curso, de bilhões e bilhões de euros, estão sendo dirigidos não para recuperar as empresas antes produtivas, que empregavam milhões de trabalhadores, mas para recapitalizar os bancos. Os recurso também estão sendo repassados aos governos, mas para eles pagarem os bancos, não para investimentos do Estado. Esta política anti-crise está combinada com as demissões de servidores públicos, extinção de direitos, redução drástica da proteção social e sucateamento de médias e pequenas empresas. Na Espanha, 400 mil delas já foram fechadas ou informalizadas.
O sistema financeiro privado europeu, em consequência, não vai utilizar o dinheiro novo, é obvio, para dotar os Estados europeus mais débeis de meios para investir em programas de desenvolvimento econômico e social. Nem vai usar os recursos novos para financiar a retomada da indústria em crise, porque bancos não emprestam sem garantias plenas de retorno. Qual o destino, então, do dinheiro “novo”? A resposta parece óbvia: financiamento da dívida dos países mais sadios, economicamente, - em crescimento ou em vias de retomar o crescimento - que precisam rolar suas dívidas de maneira serena, para não desestabilizar a confiança dos investidores externos e internos. Especulação.
Como a grande massa deste dinheiro “novo” vem para este financiamento, o aumento da taxa de juros torna os nossos papéis, no mercado financeiro global, mais rentáveis e atraentes (para os bancos que os comprarem), o que resulta em repassar mais recursos do nosso país para o sistema financeiro utilizar, a seu gosto, na crise européia. Como conseqüência, o “temor da inflação” - meticulosamente alardeado a partir da síndrome do tomate - pelo aumento da taxa de juros, desdobra-se numa drenagem de mais recursos nacionais para o sistema financeiro manobrar, na Europa capitalista em crise.
É fácil constatar que ocorreu um movimento político, apoiado pelos meios de comunicação dominantes na mídia nacional, para forçar uma situação de apreensão com o processo inflacionário e assim estimular o aumento da taxa de juros, remédio preferido de dez, entre dez economistas “liberais”, que são ouvidos como “especialistas” em dar conselhos a governos quando estão na oposição, mas foram um fracasso rotundo quando tiveram algum tipo de influência em decisões econômicas governamentais. Nove, entre dez deles, hoje, são executivos de grandes bancos ou trabalham para agências financeiras privadas, como consultores ou gerentes.
Os recursos que se vão, com o aumento dos juros, sequer são para mitigar a situação de desespero dos gregos, espanhóis, cipriotas, portugueses ou trabalhadores dos países atingidos pela crise, mas passam a integrar a engrenagem da rentabilidade dos bancos, que comandam - junto com a sra. Merkel - as desastradas políticas anti-crise da UE. É a engrenagem da derrota final da social-democracia sem fundos, que entregou a gestão do Estado ao capital financeiro credor.
O aumento da taxa juros estabelece, portanto, uma solidariedade objetiva da economia brasileira com as políticas recessivas anti-crise da União Européia, conseguida através de uma articulação política do sistema financeiro global: o aumento da taxa de juros transfere um adicional de recursos, que será diretamente manipulado pelo sistema, para ajudá-lo a gerir a crise européia nos mesmos moldes em que a mesma vem sendo enfrentada.
Fomos colocados, portanto, sob a mesma orientação dos países "pressionados" (ou tutelados) - tutela que o Banco Central incorporou - pela gloriosa “Tróika”, que gerencia as reformas que devastam as condições de vida das classes trabalhadoras e das classes médias na Europa. O aumento da taxa de juros, que aparentemente é uma forma de proteger o país da inflação, como inclusive acreditam algumas pessoas de boa fé, pode gerar um novo ciclo de apreensão inflacionária no país, que não revertido, sacrificará novamente as nossas taxas de crescimento, o que já nos custou demasiadamente caro numa outra era.
O Brasil tem reservas para enfrentar os ataques que ainda virão, contra a nossa moeda. O componente principal da globalização financeira é a socialização dos prejuízos, que ataca tanto os direitos das camadas mais débeis dos países em crise, como os países em ascenção econômica e social como o nosso que se tornam, assim, territórios econômicos a serem extorquidos. O preço da crise européia, sobre nós, é a taxa de juros para melhorar a perfomance dos grandes bancos encalacrados na crise. O preço do projeto de uma nação mais justa, mais democrática e mais igual, para nós, é ter maestria para resistir e crescer, distribuindo renda e criando empregos de qualidade.
(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul
Quero arriscar um palpite sobre porque as taxas de juro subiram e assim geraram um novo crescimento da dívida pública que, de uma parte, agradou as “agências de risco” e o sistema financeiro privado, em geral, e, de outra, brindou a oposição neoliberal com argumentos contra a gestão financeira do Governo da Presidenta Dilma, embora a decisão fosse de responsabilidade exclusiva do Banco Central.
Como é sabido, na crise infernal em que está metida a União Européia, os “socorros” em curso, de bilhões e bilhões de euros, estão sendo dirigidos não para recuperar as empresas antes produtivas, que empregavam milhões de trabalhadores, mas para recapitalizar os bancos. Os recurso também estão sendo repassados aos governos, mas para eles pagarem os bancos, não para investimentos do Estado. Esta política anti-crise está combinada com as demissões de servidores públicos, extinção de direitos, redução drástica da proteção social e sucateamento de médias e pequenas empresas. Na Espanha, 400 mil delas já foram fechadas ou informalizadas.
O sistema financeiro privado europeu, em consequência, não vai utilizar o dinheiro novo, é obvio, para dotar os Estados europeus mais débeis de meios para investir em programas de desenvolvimento econômico e social. Nem vai usar os recursos novos para financiar a retomada da indústria em crise, porque bancos não emprestam sem garantias plenas de retorno. Qual o destino, então, do dinheiro “novo”? A resposta parece óbvia: financiamento da dívida dos países mais sadios, economicamente, - em crescimento ou em vias de retomar o crescimento - que precisam rolar suas dívidas de maneira serena, para não desestabilizar a confiança dos investidores externos e internos. Especulação.
Como a grande massa deste dinheiro “novo” vem para este financiamento, o aumento da taxa de juros torna os nossos papéis, no mercado financeiro global, mais rentáveis e atraentes (para os bancos que os comprarem), o que resulta em repassar mais recursos do nosso país para o sistema financeiro utilizar, a seu gosto, na crise européia. Como conseqüência, o “temor da inflação” - meticulosamente alardeado a partir da síndrome do tomate - pelo aumento da taxa de juros, desdobra-se numa drenagem de mais recursos nacionais para o sistema financeiro manobrar, na Europa capitalista em crise.
É fácil constatar que ocorreu um movimento político, apoiado pelos meios de comunicação dominantes na mídia nacional, para forçar uma situação de apreensão com o processo inflacionário e assim estimular o aumento da taxa de juros, remédio preferido de dez, entre dez economistas “liberais”, que são ouvidos como “especialistas” em dar conselhos a governos quando estão na oposição, mas foram um fracasso rotundo quando tiveram algum tipo de influência em decisões econômicas governamentais. Nove, entre dez deles, hoje, são executivos de grandes bancos ou trabalham para agências financeiras privadas, como consultores ou gerentes.
Os recursos que se vão, com o aumento dos juros, sequer são para mitigar a situação de desespero dos gregos, espanhóis, cipriotas, portugueses ou trabalhadores dos países atingidos pela crise, mas passam a integrar a engrenagem da rentabilidade dos bancos, que comandam - junto com a sra. Merkel - as desastradas políticas anti-crise da UE. É a engrenagem da derrota final da social-democracia sem fundos, que entregou a gestão do Estado ao capital financeiro credor.
O aumento da taxa juros estabelece, portanto, uma solidariedade objetiva da economia brasileira com as políticas recessivas anti-crise da União Européia, conseguida através de uma articulação política do sistema financeiro global: o aumento da taxa de juros transfere um adicional de recursos, que será diretamente manipulado pelo sistema, para ajudá-lo a gerir a crise européia nos mesmos moldes em que a mesma vem sendo enfrentada.
Fomos colocados, portanto, sob a mesma orientação dos países "pressionados" (ou tutelados) - tutela que o Banco Central incorporou - pela gloriosa “Tróika”, que gerencia as reformas que devastam as condições de vida das classes trabalhadoras e das classes médias na Europa. O aumento da taxa de juros, que aparentemente é uma forma de proteger o país da inflação, como inclusive acreditam algumas pessoas de boa fé, pode gerar um novo ciclo de apreensão inflacionária no país, que não revertido, sacrificará novamente as nossas taxas de crescimento, o que já nos custou demasiadamente caro numa outra era.
O Brasil tem reservas para enfrentar os ataques que ainda virão, contra a nossa moeda. O componente principal da globalização financeira é a socialização dos prejuízos, que ataca tanto os direitos das camadas mais débeis dos países em crise, como os países em ascenção econômica e social como o nosso que se tornam, assim, territórios econômicos a serem extorquidos. O preço da crise européia, sobre nós, é a taxa de juros para melhorar a perfomance dos grandes bancos encalacrados na crise. O preço do projeto de uma nação mais justa, mais democrática e mais igual, para nós, é ter maestria para resistir e crescer, distribuindo renda e criando empregos de qualidade.
(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul
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