Igor Fuser
Assimetria é uma palavra usada, na retórica diplomática, para
se referir às desigualdades – principalmente, econômicas – entre
países. Dez anos após a adoção de uma política externa brasileira
mais progressista, ainda não está claro se a atuação do Brasil
contribui para aumentar ou para diminuir as assimetrias na relação
com os vizinhos mais pobres.
A questão tem a ver com notícia publicada pelo Valor
Econômico (3 de abril), com o título "Fiesp mostra vantagens
de se levar indústrias para o Paraguai". A partir de fontes da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o jornal explica
como os empresários podem engordar os lucros transferindo as
fábricas para o Paraguai e exportando a produção de lá para o
Brasil – com tarifa zero, graças ao Mercosul. Entre as vantagens,
destacam-se em primeiro lugar os salários, em média 35% menores do
que no Brasil, e a energia elétrica, 65% mais barata. Outro
atrativo são os impostos, bem mais baixos. De acordo com a Fiesp,
já há mais de 20 empresas brasileiras em território paraguaio,
entre elas a Hering, que possui três fábricas do outro lado da
fronteira. A mudança, conclui a entidade patronal, é altamente
benéfica para os setores intensivos em mão-de-obra, como a
indústria têxtil e de confecções, cerâmica, calçados, couros e
móveis.
À parte o cinismo de apontar os salários aviltados e a
estrutura fiscal injusta do Paraguai – país onde as pessoas
jurídicas praticamente não pagam impostos – como "vantagens
comparativas", a notícia chama atenção por assinalar o surgimento,
na periferia brasileira, de um fenômeno semelhante ao que ocorre
no México, próximo à fronteira com os EUA. Lá se situam as
"maquiladoras", centenas de fábricas estadunidenses transferidas
em busca de salários, impostos e leis trabalhistas e ambientais
mais favoráveis ao capital. Agora os patrões brasileiros já podem,
do mesmo modo, explorar a mão de obra paraguaia em condições vis,
sem o receio de serem denunciados por trabalho escravo.
Os Sindicatos brasileiros precisam dar combate a esse
expediente, sem demora. No mínimo, deve-se batalhar para que as
firmas com investimento no exterior adotem práticas trabalhistas e
ambientais equivalentes ao que a nossa lei estabelece. E o governo
federal precisa, urgentemente, impedir que a conduta predatória da
burguesia brasileira no exterior continue a contradizer, na
prática, a bela retórica do Itamaraty.
Igor Fuser é professor do curso
de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Doutor em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
(2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário