Será uma semana quente no
debate
econômico com os resultados da inflação de março. Os falcões do
rentismo farão
voos rasos anunciando o descontrole inflacionário. Ganhar o
debate faz parte da
estratégia para obrigar o Banco Central a mudar o rumo da
política monetária,
aumentando a taxa básica de juros da economia. Cuidado! Muita
opinião publicada
na forma de ciência tem uma intenção encoberta de garantir os
ganhos
financeiros dos endinheirados e os bônus dos operadores do
sistema.
Estamos no jogo, sofrendo
pressão severa
com risco de tomarmos um gol! Três bolas na trave em um único
lance! Qual é o
jogo?
O sistema financeiro faz
apostas ao
vender uma rentabilidade no futuro àqueles que detêm capital
líquido, ou
seja, dinheiro aplicando
na expectativa
de taxa de retorno, juros ou dividendos. Se a taxa de inflação
“sai do rumo” é
preciso trazê-la para o centro da meta e garantir os ganhos
projetados.
A missão do BC ao atuar
no controle da
inflação não deveria estar associada ao objetivo acima, mas sim
o de proteger o
valor da moeda como parte de um equilíbrio que sustente o
crescimento e o
desenvolvimento. Nesse
sentido, o
controle da inflação atua combinado com as demais medidas macro
econômicas que
promovem o desenvolvimento.
A luta interna contra a
inflação não
está concluída, seja porque ainda um terço dos preços tem alguma
forma de
indexação, seja porque a superação das desigualdades econômicas
exigirão
mudanças e acomodações dos preços
relativos
para a superação das mazelas que existem.
E qual é a grande arma de
que dispõem o
BC para controlar a inflação? Juros! O que significa pisar no
freio da
economia, restringido o crescimento e, pela desaceleração da
atividade
econômica, conter renda com o desemprego, restringindo aumentos
salariais e
inibindo a voracidade dos empresários em reajustar preços. Ao
aumentar os
juros, retira da economia real o dinheiro da produção e do
consumo,
deslocando-o para a aplicação financeira e tornando mais caro o
seu custo.
Trava a economia, que fica desaquecida e, com um custo social e
econômico
elevado, traz a inflação para baixo, pois as empresas demitem,
os salários
caem, as empresas fecham, o consumidor não compra e os preços de
uma economia
real deprimida, caem.
A inflação é uma
devoradora do poder aquisitivo
dos salários. Mas o desemprego é uma tragédia para a vida. E
mais, uma economia
que usa esse remédio extremamente amargo pode levar anos para se
recuperar. Uma
tragédia social! Portanto, há que achar caminhos de eficácia
diferente para
controlar a inflação.
De fato a inflação está
mais alta nos
últimos meses, especialmente pela pressão dos preços de
alimentos decorrentes
de choques de oferta (queda na produção ou quebra de safra), ou
pelo reajuste
de preços internos sem concorrência (saúde, educação ou
transporte público), ou
ainda pelo reajuste de serviços e do combustível. Em março o
tomate, o feijão e
os planos de saúde foram os vilões da inflação (veja no site do
DIEESE
–www.dieese.org.br - as divulgações da Cesta Básica e do ICV).
Isso ocorre apesar
das medidas que aliviaram preços e custos como, por exemplo, a
desoneração da
energia elétrica ou da cesta básica. A meta de taxa de inflação
para 2013 é de
4,5%, podendo variar entre 2,5% a 6,5%. Esse intervalo visa
absorver mudanças
de preços relativos de diferentes choques e acomodar no longo
prazo os efeitos
distributivos.
Na próxima semana o Banco
Central
analisará o cenário atual e definirá sua atuação para o próximo
período. A
questão da inflação estará no centro do debate.
Deve-se estar atento para
a disputa em
curso, orientados pela perspectiva de sustentar a estratégia de
desenvolvimento
de longo prazo. Neste sentido, é fundamental que o país melhore
a capacidade de
investimento em infraestrutura social e produtiva, amplie a
capacidade produtiva
das empresas e organize uma moderna política de desenvolvimento
industrial.
Pisar no freio da economia neste momento poderá desmobilizar
esse sentido
estratégico, ainda mais que agora engatilhamos uma saída do
baixo crescimento
recente (0,9% PIB de 2012).
Então, o que fazer com a
inflação? Muita
cautela. Até porque a liquidez que cresce no mundo (muito
dinheiro para animar
as economia deprimidas) exigirá muita competência da politica
econômica para
conduzir nossa economia. Algumas tarefas que deveríamos
enfrentar: (a)
desmontar os mecanismos de indexação ainda existentes na
economia; (b) ampliar
a capacidade de formação de estoques reguladores de oferta
alimentos; (c)
sofisticar o debate público sobre o núcleo da inflação; (d)
ampliar a
capacidade de oferta que sustente o aumento da demanda pelo
emprego e pela
renda; (e) investir no aumento da produtividade, (f) garantir
oferta interna de
combustível e energia.
[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Conselho de Administração do CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário