Nesses últimos
dias, dois assuntos têm absorvido os discursos da oposição, no plenário e
na mídia, esta cada vez mais pauteira e porta-voz dos partidos da
minoria. A Petrobrás e as viagens de Dilma e Lula, estes os temas
recorrentes.
A mídia e a
oposição desancam a quase Petrobrax à conta de ditos prejuízos da quase
estatal. A empresa teria se envolvido em algumas jogadas no mercado e
tomado na cabeça.
Declaro-me um
tanto quanto confuso com esse repentino zelo dos liberais, dos
fundamentalistas da livre concorrência com as altas e baixas das ações
da indigitada, com os prejuízos para os investidores.
Com toda
humildade, pergunto: não faz parte do jogo das bolsas? Esse não é um dos
pilares da sabedoria da economia de mercado, por sua vez sustentáculo
do maravilhoso mundo da democracia de mercado?
De um lado,
exigem da estatal –ou semi estatal, sei lá– requerem dela comportamento e
operosidade de empresa privada, condenam seus açambarcamentos, seus
privilégios; todavia, mais adiante, lembram de sua porção Mr. Hyde e
reclamam que ela, mesmo que sujeita às oscilações e aventuras
mercadistas, aja como a contraface do monstro.
Mas, senhoras e
senhores senadores, a oposição e a mídia silenciam, omitem-se e assim
acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência Nacional de
Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas.
Não ouço das
irmãs siamesas –oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão
diligentes, tão cuidadosas com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás
no mercado, calam-se diante deste mega escândalo que se anuncia.
Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém.
Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém.
O escândalo vai
acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência
Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo,
distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriand,
diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses 11 blocos possa
somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo.
E atenção,
senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo
conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar
para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas conhecidas.
E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?
Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros, faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha.
Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros, faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha.
Diz ele que, se
nos leilões anteriores, a Petrobrás “teve uma posição arrojada,
arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação,
desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do
prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21
bilhões de reais”.
E isso é
verdade. Ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores,
vê-se uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem
de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de
que está sendo vítima.
A senhora
Foster, fazendo poses de executiva responsável, gasta todo o seu tempo
para acalmar e agradar a oposição, a mídia e o mercado. Reage com
extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa.
A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
Cancella lembra
que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo
de compartilhamento e fazendo da Petrobrás operadora única do pré-sal,
despertou a ira dos multinacionais.
Mas, diz o
sindicalista, citando telegramas trocados entre as multinacionais
vazados pelo Wikileaks, elas decidiram agir com cautela “para não
despertar o nacionalismo dos brasileiros”.
Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques.
Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual.
Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual.
E eu que já
declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos
assombrar com as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que
também acredito em bruxas e conspirações
Além da
barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella
alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo
desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP:
“Os royalties funcionam como “boi de piranha”.
Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada.
Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada.
Enquanto se
discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do
petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento”, diz o sindicalista.
Os meios de
comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica
contrafação da campanha “o petróleo é nosso”, deram uma contribuição
inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado
contra a nossa soberania.
Provavelmente,
não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade
econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras,
assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo.
A disputa por
essa fonte de energia marcou as grandes crises internacionais no final
do século 19, durante todo o século 20 e nesta primeira década do século
21. Do o assalto norte-americano ao México, há um século, à invasão do
Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o
petróleo é o senhor da guerra.
O petróleo foi –e é- um dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais.
O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial.
O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial.
As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se.
Trocaram o “big stick” pelos afagos, por seduzir e corromper.
Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos.
Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos.
Como diz Emanuel Cancella:
“Perplexos,
temos a impressão de estar assistindo o grande conluio entre as classes
dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo,
legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que
realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso.
Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
Senhoras e
senhores senadores, companheiros da bancada de apoio ao governo,
senhores do governo, senhora e senhores da Petrobrás, diante disso,
depois disso que temos a dizer?
O nosso
silêncio continuará sendo cúmplice, não de uma hipotética conspiração,
mas de fatos que explodem à nossa frente com a violência das lições da
história?
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