sábado, 6 de abril de 2013

DISCURSO DO SENADOR REQUIÃO SOBRE PREJUÍZO DA PETROBRÁS

Nesses últimos dias, dois assuntos têm absorvido os discursos da oposição, no plenário e na mídia, esta cada vez mais pauteira e porta-voz dos partidos da minoria. A Petrobrás e as viagens de Dilma e Lula, estes os temas recorrentes.
Vamos ao primeiro item.
A mídia e a oposição desancam a quase Petrobrax à conta de ditos prejuízos da quase estatal. A empresa teria se envolvido em algumas jogadas no mercado e tomado na cabeça.
Declaro-me um tanto quanto confuso com esse repentino zelo dos liberais, dos fundamentalistas da livre concorrência com as altas e baixas das ações da indigitada, com os prejuízos para os investidores.
Com toda humildade, pergunto: não faz parte do jogo das bolsas? Esse não é um dos pilares da sabedoria da economia de mercado, por sua vez sustentáculo do maravilhoso mundo da democracia de mercado?
De um lado, exigem da estatal –ou semi estatal, sei lá– requerem dela comportamento e operosidade de empresa privada, condenam seus açambarcamentos, seus privilégios; todavia, mais adiante, lembram de sua porção Mr. Hyde e reclamam que ela, mesmo que sujeita às oscilações e aventuras mercadistas, aja como a contraface do monstro.
Mas, senhoras e senhores senadores, a oposição e a mídia silenciam, omitem-se e assim acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência Nacional de Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas.
Não ouço das irmãs siamesas –oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão diligentes, tão cuidadosas com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás no mercado, calam-se diante deste mega escândalo que se anuncia.
Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém.
O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriand, diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses 11 blocos possa somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo.
E atenção, senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas conhecidas.
E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?
Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros, faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha.
Diz ele que, se nos leilões anteriores, a Petrobrás “teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21 bilhões de reais”.
E isso é verdade. Ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores, vê-se uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de que está sendo vítima.
A senhora Foster, fazendo poses de executiva responsável, gasta todo o seu tempo para acalmar e agradar a oposição, a mídia e o mercado. Reage com extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa.
A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
Cancella lembra que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo de compartilhamento e fazendo da Petrobrás operadora única do pré-sal, despertou a ira dos multinacionais.
Mas, diz o sindicalista, citando telegramas trocados entre as multinacionais vazados pelo Wikileaks, elas decidiram agir com cautela “para não despertar o nacionalismo dos brasileiros”.
Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques.
Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual.
E eu que já declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos assombrar com as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que também acredito em bruxas e conspirações
Além da barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP:
“Os royalties funcionam como “boi de piranha”.
Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada.
Enquanto se discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento”, diz o sindicalista.
Os meios de comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica contrafação da campanha “o petróleo é nosso”, deram uma contribuição inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado contra a nossa soberania.
Provavelmente, não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras, assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo.
A disputa por essa fonte de energia marcou as grandes crises internacionais no final do século 19, durante todo o século 20 e nesta primeira década do século 21. Do o assalto norte-americano ao México, há um século, à invasão do Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o petróleo é o senhor da guerra.
O petróleo foi –e é- um dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais.
O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial.
As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se.
Trocaram o “big stick” pelos afagos, por seduzir e corromper.
Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos.
Como diz Emanuel Cancella:
“Perplexos, temos a impressão de estar assistindo o grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo, legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso.
Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
Senhoras e senhores senadores, companheiros da bancada de apoio ao governo, senhores do governo, senhora e senhores da Petrobrás, diante disso, depois disso que temos a dizer?
O nosso silêncio continuará sendo cúmplice, não de uma hipotética conspiração, mas de fatos que explodem à nossa frente com a violência das lições da história?

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