sábado, 6 de abril de 2013

Alguns pontos sobre a 5ª. Cúpula dos BRICS em Durban



                                                                                                                                                                                                                                                            Adhemar S. Mineiro

Realizada em Durban, África do Sul, um pouco antes da Páscoa, a 5ª. Cúpula dos BRICS não representou nenhuma grande surpresa em relação aos temas tratados, mas algumas sinalizações presentes na Declaração Final de 27 de março merecem seguir sendo acompanhadas.

Antes de mais nada, ao ler a declaração é preciso ter em conta que a reunião aconteceu na África do Sul, o quinto e mais recente dos BRICS (tendo se juntado posteriormente a Brasil, Rússia, Índia e China), e talvez por isso as inúmeras referências na resolução final a temas africanos, a perspectivas de desenvolvimento na África, e a temas africanos em geral. Destes, um ponto importante como afirmação conceitual é o ponto 4 da declaração, onde é reconhecida a importância da integração regional para um crescimento sustentado da África, o desenvolvimento e a erradicação da pobreza. De todo modo, para os que estavam em Durban, a preocupação com os temas africanos ficava clara na TV sul-africana, na 2ª. feira, dia 25, pela manhã, uma mesa redonda de abertura comandada por um apresentador local juntava a Ministra de Relações Internacionais da África do Sul, Maite Nkoana-Mashabane, e alguns dos principais negociadores de cada um dos outros quatro países, e onde depois de um discurso de abertura da ministra sobre a reunião dos BRICS, o apresentador iniciou a rodada de entrevistas perguntando à ministra sul-africana não sobre a reunião dos BRICS, mas sobre a presença de tropas sul-africanas em uma missão da União Africana na República Centro-Africana, onde os rebeldes haviam deposto o presidente, para a evidente e pública contrariedade da ministra.

Em todo caso, muitos pontos da declaração final falam ainda da necessidade de investimentos em infraestrutura para o desenvolvimento e o crescimento econômico da África, o que de fato parece ser absolutamente essencial. Para muitos, entretanto, especialmente os presentes nas atividades paralelas à cúpula oficial, a linguagem cifrada das declarações oficiais não representava o desenvolvimento de uma infraestrutura social, com água, saneamento, transportes públicos, habitação e serviços sociais para as populações africanas, mas a realização de obras de enorme interesse para as empresas de construção, especialmente de China, Brasil e Índia, e o desenvolvimento de uma infraestrutura de transportes (rodovias, ferrovias, portos) para o escoamento das riquezas minerais da África, alavancando não só poderosas mineradoras mundiais, algumas dos próprios países BRICS, e abastecendo o crescente consumo chinês e, em menor escala, indiano.

Para um observador brasileiro, também salta aos olhos a quantidade de referências a diversas regiões e países do cenário internacional sobre os quais no Brasil acabou se manifestando, em coletivo com os demais, na resolução final, entre os quais, além de muitos países africanos, a Síria, a Palestina, o Irã, e o Afeganistão, entre outros. Entretanto, neste ponto, vale a pena assinalar que o ponto 26, o que se refere à Síria, aponta entre outros temas a necessidade de que todas as partes do conflito permitam e facilitem o acesso de organizações humanitárias a todos os que necessitem de assistência.

Nos temas econômicos, o ponto 9 fala do chamado “Novo Banco de Desenvolvimento”, conhecido também como o Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Apesar de apontar para a concordância quanto à criação do banco, avaliado como factível e viável, não é apontada nenhuma medida mais concreta quanto à criação do banco, o que talvez demonstre ainda alguma dúvida ou limite de parceiros (se falou muito, off the record, de restrições e limites da Rússia nesse momento, apertada pela criação de um banco regional na chamada “Eurásia” e pelos evidentes limites encontrados para ajudar a resolver a crise financeira em Chipre, onde muitos recursos financeiros de propriedade de russos estariam colocados). O fato é que essa “bola” fica um pouco rolada para novas definições mais à frente.
De outro lado, caminhou mais rapidamente (ponto 10) a ideia da formação de um Arranjo Contingente de Reservas, uma espécie de cooperação entre os cinco países para a criação de uma rede de segurança financeira (leia-se  um apoio entre os países no caso de eventuais fugas de capitais) formada a partir da possibilidade de disponibilizar nesses casos parte das reservas para a defesa solidária dos países membros do grupo BRICS. A orientação do documento da Cúpula foi de que os ministros de Finanças (Fazenda, no caso brasileiro) e presidentes de Banco Central continuem trabalhando para estabelecer esse mecanismo.

O ponto 12 reforça os mecanismos de cooperação entre os bancos de desenvolvimento nacionais (o BNDES no caso brasileiro) e os bancos de apoio a exportações e importações, e saúda a conclusão entre eles de dois mecanismos, o “Acordo Multilateral sobre Cooperação e Co-financiamento para o Desenvolvimento Sustentável” e o “Acordo Multilateral para o Co-financiamento de Infraestrutura para a África”, contornando através de mecanismos financeiros e instrumentos já existentes ao menos alguns dos efeitos da não-criação imediata do Banco de Desenvolvimento dos BRICS.

Finalmente, chama a atenção no documento, no ponto 42, o fato de saudarem alguns encontros no processo de preparação da 5ª. Cúpula, como o 5º. Fórum Acadêmico dos BRICS, o 4º. Fórum Empresarial e o 3º. Fórum Financeiro, mas não haja nenhuma referência aos fóruns da sociedade civil e à Cúpula Sindical dos BRICS, ocorridos no mesmo momento.

O documento finalmente aponta um plano de ação, onde devem ser apontados, entre outros, o encontro de ministros de Agricultura e Desenvolvimento Agrário dos BRICS para discutir alguns temas, entre os quais segurança alimentar, o encontro de Cooperativas dos BRICS, o encontro do Fórum de Urbanização dos BRICS e, nas novas áreas de cooperação a serem exploradas, vale apontar uma articulação possível de empresas estatais dos países BRICS.

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