Por Vagner Freitas*
Promover o desenvolvimento do Brasil deve ser um objetivo permanente.
Para isso, não há mágica e sim competência técnica e alta capacidade
política para superar os obstáculos e desafios. É tarefa de todos reunir
forças sociais que apostam no desenvolvimento produtivo, na inovação e
incremento da produtividade, na distribuição de renda, na qualidade do emprego e na superação das desigualdades.
Nos últimos dias, colunistas e economistas, que repercutem os anseios de rentistas ávidos por manter e recuperar ganhos
financeiros, reacenderam o debate sobre as soluções para resolver o
problema da inflação. O fato é que a queda dos juros reais de 8% para 2%
com a redução da taxa Selic para 7,25% e a elevação da taxa de
inflação, que atingiu um patamar próximo ao teto da meta (6,5%), têm
provocado forte reação daqueles que vivem do ganho financeiro. O Brasil
que queremos e estamos construindo tem a dura tarefa de deslocar a
riqueza financeira para o investimento produtivo e atenção social, o que
requer muita determinação dos gestores da política econômica.
É forte a pressão para que o Conselho de Política Monetária eleve a
taxa básica de juros (Selic), recompondo as expectativas do mercado –
leia-se, repondo os ganhos especulativos desejados, supostamente
trazendo a inflação para o centro da meta. O resultado dessa medida para
a sociedade é a queda na atividade econômica, a redução da produção, do
desemprego, dos salários e da receita pública, entre outras mazelas. Um custo social e econômico elevadíssimo. A sociedade precisa dizer que não quer isso!
A inflação em março foi de 0,47%, acumulando em 12 meses 6,59%.
Apesar de no mês de março a inflação estar ligeiramente acima do teto, o
Banco Central indica que a inflação irá arrefecer – a taxa anual de
2013 deve fechar em cerca de 5,68% (Boletim Focus, 12/04/13). O que
explica os atuais índices da inflação são a subida dos preços agrícolas
e dos serviços. No caso do mercado internacional, há as commodities
agrícolas indexadas ao dólar que cresceram muito, mas os preços têm
caído nos últimos meses. Quanto aos hortifrutigranjeiros, alguns na
entressafra e outros impactados por fatores climáticos, terão queda nos
preços com a entrada da nova safra. Há ainda os preços das escolas, dos
planos de saúde, das tarifas de transporte público, entre outros, que
sazonalmente impactam as taxas de inflação no início de cada ano. Mesmo
com este comportamento dos preços a inflação atingiu o teto da meta,
porém com indicações claras de que deverá começar a cair nos próximos
meses. Nada, aliás, muito diferente do que se observou nos últimos anos
no país. Nenhum desses componentes são sensíveis aos juros, duro remédio
para reduzir a atividade econômica contra uma inflação de demanda que,
claramente, não é o nosso caso. O enfrentamento é outro!
Nos últimos anos, o País tem feito grande esforço para recuperar a
capacidade de promover crescimento com base na ampliação da capacidade
produtiva de bens e serviços, na infraestrutura, na inovação e na
produtividade, entre outros. Os recentes indicadores de elevação da taxa
de crescimento econômico revelam leves sinais dessa perspectiva.
Promover e sustentar essa nova dinâmica de crescimento econômico deve
ser a tarefa prioritária da política econômica brasileira. Lembremo-nos
que a experiência de aumento da taxa de juros para combater um “possível
descontrole inflacionário”, no início de 2011, desestimulou o
crescimento econômico que apresentou baixas taxas deste então.
Para enfrentar a inflação propomos que sejam aprofundadas medidas
como: 1) a desoneração dos itens da cesta básica, incluindo impostos
estaduais e municipais; 2) a ampliação da capacidade de atuação da
Companhia de Nacional de Abastecimento (CONAB) por meio de estoques
reguladores para estabilização dos preços ao consumidor; 3) atenção aos
crescentes movimentos de concentração de mercado ocorridos no país –
fusões e aquisições -, principalmente no que diz respeito ao poder de
mercado e capacidade desses grandes grupos de influenciar os preços de
mercado; 4) avançar na desindexação de contratos e tarifas públicas.
Além, evidente, da ampliação da infraestrutura produtiva e social que,
entre outros efeitos, reduz custos e preços.
Todas estas medidas, associadas às que já vêm sendo adotadas pelo
Banco Central e pelo governo federal, são importantes para conter a
inflação sem interromper o processo de crescimento que se desenha para
2013, porque atuaria em fontes estruturais do processo inflacionário.
Entendemos que o tema da inflação deva receber atenção prioritária da
política econômica, porque, nós, os trabalhadores, sabemos muito bem o
que ela significa em termos de transferência de renda. Entretanto, há
outros objetivos prioritários que precisam ser considerados na escolha
da política econômica de forma a produzir o crescimento, o emprego e a
distribuição de renda, elementos essenciais para dinamizar as
transformações no sentido do desenvolvimento social.
Por tudo isso, os trabalhadores esperam que a presidenta Dilma
Rousseff e as autoridades monetárias atuem com determinação e em
sintonia com as expectativas dos diversos segmentos da sociedade, não
cedendo à pressão da especulação financeira.
*Vagner Freitas é presidente Nacional da CUT
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