terça-feira, 10 de julho de 2012

Solução da crise nem em 20 anos



Eu fiquei imaginando: quem compra ativos de risco depois de uma dessas "históricas" declarações do Conselho Europeu. Às vezes a alta dura algumas horas, outras vezes, apenas dias. A mais recente terminou em menos de uma semana; os spreads italianos e espanhóis já estão acima dos níveis pré-cúpula.
O consenso entre os observadores era de que a União Europeia (UE) tinha dado um importante passo na direção certa, adotando um caminho para a união bancária, mas que não havia feito o suficiente quanto à resolução de crises. Discordo dessa afirmação. Acredito ter sido um passo muito grande - na direção errada. A cúpula fez com que a solução concreta para a crise dependesse de uma decisão futura, que será ainda mais difícil de tomar e, portanto, ainda mais improvável.
Foi acordado que não haverá uma recapitalização bancária coletiva até que seja estabelecida uma união bancária completa, e o Bundesbank nos lembrou que isso não é possível sem uma união política. A conclusão lógica é que não vamos resolver a crise em menos de 20 anos.
Um grupo de 160 economistas, liderado por Hans-Werner Sinn, presidente do instituto econômico Ifo, publicou um manifesto contra uma união bancária. O documento veio recheado de som e fúria, mas o mais importante é que reflete uma visão consensual
O que sabemos agora é que a Alemanha não concordará com um seguro coletivo sobre depósitos. Os alemães sequer concordam em dar ao Mecanismo de Estabilidade Europeu uma "licença bancária" para que possa alavancar-se. Se a Alemanha não pode fazer o mínimo necessário agora, por que alguém imaginaria que poderá aceitar uma união política? Mais fácil é acreditar na promessa de um alcoólatra de que deixará de beber daqui a cinco anos.
A política de socorro ao euro cruzou um importante limiar na Alemanha. Uma pequena maioria ainda é favorável ao euro, mas a maioria é contrária a novos socorros. Um grupo de 160 economistas, liderado por Hans-Werner Sinn, presidente do instituto econômico Ifo, publicou na semana passada um manifesto contra uma união bancária. O documento veio recheado de som e fúria, mas o mais importante é que reflete uma visão consensual.
A resposta de Angela Merkel foi reveladora. Ela disse não haver nenhum motivo para preocupações. A união bancária diz respeito a supervisão coletiva, disse ela. Não haverá seguro conjunto de depósitos. Ela tem um entendimento muito distinto do Banco Central Europeu (BCE) sobre o que significa uma união bancária. Acredito que essa nova união bancária cubra os 25 maiores bancos e deixará as "cajas" e os "Landesbanken" sob controles nacionais. É como um alcoólatra prometendo doravante beber apenas os melhores conhaques.

A união bancária necessária é aquela que a Alemanha não aceitará: regulamentação e supervisão centralizadas, um fundo comum para reestruturação e seguro de depósitos. Isso levaria anos para ser criado. Se conduzido apropriadamente, isso exigiria uma mudança das constituições nacionais e de tratados europeus, ao menos para redefinir o papel do BCE. É loucura total sujeitar a solução da crise ao êxito do que seria o maior exercício de integração europeia na história.
Com as taxas de juro dos títulos de 10 anos acima de 6%, tanto a Itália como a Espanha poderão sustentar sua participação na zona do euro. Isso é o que Mario Monti e Mariano Rajoy deveriam ter deixado claro a Merkel durante a cúpula. Eles deveriam ter dito a ela que seus governos irão se preparar para saírem da zona do euro caso não haja mudança na política. Uma solução exige eurotítulos - ou alguma outra forma de mutualização da dívida - tanto do setor público como do setor privado, e compras de títulos pelo BCE. A Alemanha não aceita a primeira condição. O BCE não aceita a segunda.
Se algo não é sustentável nem autocorretivo, sobram apenas dois cursos de ação. A primeira é esperar pacientemente até que ocorra uma ruptura na situação. Essa é a estratégia seguida pelo Conselho Europeu e por alcoólatras. A alternativa é começar a fazer os preparativos - e tomar cuidado para não provocar uma ruptura nesse processo. É difícil imaginar uma saída sem desrespeitar centenas de leis nacionais e europeias. É por essa razão que ninguém está fazendo isso. (O país que o fizesse) precisaria alegar "força maior" em sua defesa. Levou uma década para que o euro fosse criado. Será preciso mais do que um fim de semana prolongado para destruí-lo. Um colapso se constituiria no maior choque econômico de nossa época. Mas, entre uma lista de opções de ruptura, algumas são melhores que outras. Escreverei sobre isso em uma coluna futura.
Em novembro, escrevi que o Conselho Europeu tinha dez dias para salvar o euro. Se naquele momento tivessem lançado as bases para uma união bancária e fiscal, poderiam estar agora em condições de obter um consenso em torno de uma estratégia eficaz para solução da crise baseada em recapitalização dos bancos e compras de títulos. Não o fizeram naquele momento. E não estão em condição de solucionar a crise agora.
Para mim, a mensagem da cúpula é de que a zona euro não solucionará a crise. Nesse sentido, foi, de fato, uma reunião "histórica". (Tradução de Sergio Blum).
Wolfgang Münchau é editor do FT, especialista em União Europeia.

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