O saldo comercial brasileiro neste ano deve ser de, no máximo, US$ 15
bilhões, avalia a área econômica do Governo. A estimativa é inferior à projeção
do Banco Central (BC), que estima em US$ 18 bilhões o saldo da balança
comercial do País em 2012. Mesmo acima de projeções mais pessimistas como as da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que prevê um superávit de US$
8 bilhões, a revisão da área econômica indica que, pelo sétimo ano seguido, a
balança comercial do Brasil terá influência negativa sobre o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB).
"Uma parte do estímulo à demanda está vazando para o comércio
exterior, e isso vai continuar neste ano", comentou o economista da
Fundação Getulio Vargas (FGV), Régis Bonelli. Especialistas da FGV preveem uma
leve subida nas exportações neste ano e calculam que, sem surpresas
desagradáveis no cenário externo, o saldo comercial poderá ficar acima de US$
16 bilhões. Caso se comprove a estimativa da AEB, de queda também nas
exportações, porém, em 2012 o PIB terá duas pressões negativas vindas do
comércio exterior: a queda nas vendas dos exportadores e o aumento nas
importações.
De janeiro até a semana passada, a diferença entre as exportações e as
importações acumulou US$ 8,5 bilhões, resultado 47,6% inferior a igual período
do ano passado. Se confirmada a estimativa, o saldo comercial de até US$ 15
bilhões será o menor desde 2002, quando o resultado chegou a US$ 13,1 bilhões.
A pessimista AEB espera déficits no segundo semestre devido à queda nos preços
das commodities metálicas, ao esgotamento do efeito positivo dos embarques de
soja, antecipados neste ano, e ao contínuo aumento nas importações.
Com o baixo crescimento das exportações ou até uma possível queda, em
relação aos US$ 256 bilhões exportados em 2011, as vendas externas têm se
tornado cada vez menos capazes de compensar o efeito negativo das importações
sobre o desempenho do PIB. Nos cálculos do crescimento do PIB, as exportações
contribuem para aumentar o índice, enquanto as importações, que significam
demanda atendida por produção estrangeira, são descontadas, e, portanto,
provocam redução no índice. Desde 2006, a pressão dos importados têm reprimido
a elevação do PIB.
"O resultado do PIB poderia ser melhor se não fosse a contribuição
negativa do setor externo nesses últimos anos", diz Cláudia Dionísio,
economista da Coordenação de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do PIB.
Os dados do IBGE diferem de outras estatísticas oficiais por registrar
variação de volumes, e não preços de mercadorias, e incluir estimativas das
importações informais - o contrabando. Segundo o IBGE, o crescimento de 11,5%
nas exportações em 2010 foi mais que anulado pelo das importações, de 35,8%. Em
2011, a exportação cresceu 4,5% e a importação, 9,7%. No primeiro trimestre de
2012, as variações foram de 6,3% e 6,6%.
Desde 2006, quando as importações cresceram 18,4% e as exportações apenas 5%, segundo os indicadores do IBGE, as compras no exterior têm absorvido e cancelado parte do estímulo positivo no PIB provocado pelo consumo das famílias e pelo investimento. Em 2010, quando a economia avançou 7,5%, o comércio exterior tirou 2,7 pontos percentuais do crescimento, que teria ultrapassado 10% sem essa influência. Em 2011, a contribuição negativa do setor externo ao PIB foi de 0,7 ponto percentual. A economia cresceu 2,7%.
Desde 2006, quando as importações cresceram 18,4% e as exportações apenas 5%, segundo os indicadores do IBGE, as compras no exterior têm absorvido e cancelado parte do estímulo positivo no PIB provocado pelo consumo das famílias e pelo investimento. Em 2010, quando a economia avançou 7,5%, o comércio exterior tirou 2,7 pontos percentuais do crescimento, que teria ultrapassado 10% sem essa influência. Em 2011, a contribuição negativa do setor externo ao PIB foi de 0,7 ponto percentual. A economia cresceu 2,7%.
Os indicadores do IBGE mostram que a valorização do real em relação ao
dólar teve influência nesse fenômeno, o que explica também, em parte, a redução
da diferença entre o crescimento das importações e exportações. O dólar, em
2010, teve cotação média de R$ 1,69; neste ano chegou a R$ 1,96, em média. Essa
mudança na taxa de câmbio começou em abril, e, desde então, o Governo tem
trabalhado com um dólar que oscila em torno de R$ 2,00.
Os economistas do governo federal avaliam que as exportações vão se
acelerar no segundo semestre, mas não no ritmo inicialmente esperado - a
melhora no saldo comercial virá em 2013, prevê o Governo. A
"consolidação" da taxa de câmbio mais desvalorizada em relação ao
dólar deve surtir efeito sobre as exportações apenas no último trimestre deste
ano, atingindo "efeito pleno" somente no ano que vem - quando o saldo
comercial deve voltar a superar o patamar de US$ 20 bilhões.
Apesar do câmbio, importações vão crescer mais que exportações
Um crescimento das importações superior ao das exportações, apesar da
desvalorização do real, é a principal razão para a queda de quase 50%, em
média, prevista para o saldo da balança comercial deste ano em relação ao ano
passado nas previsões feitas fora do Governo por especialistas em comércio
exterior e economistas. Essas estimativas também apontam para um saldo próximo
a US$ 15 bilhões, mas variam de US$ 8 bilhões a US$ 20 bilhões.
A AEB é a mais pessimista e a mais desalinhada em relação aos números
previstos pelo Governo entre as instituições consultadas. Em julho, a entidade
reviu sua previsão anterior, feita em dezembro do ano passado, de US$ 3,04
bilhões para o saldo da balança, para US$ 8,05 bilhões, número ainda próximo à
metade do que o Governo e outras instituições, como a Fundação Centro de
Estudos do Comércio Exterior (Funcex), estão prevendo.
A revisão da AEB deveu-se mais a uma estimativa menor para as
importações, provocada pela falta de reação da economia doméstica aos estímulos
oficiais ao crescimento, do que a uma expectativa melhor quanto às exportações.
Segundo os números mais recentes, as exportações somarão US$ 237 bilhões e as
importações, US$ 229 bilhões. Antes os números eram, respectivamente, de US$
236,6 bilhões e US$ 233,5 bilhões. "A revisão pode mudar para melhor ou
para pior porque está tudo na base das commodities muito voláteis, disse José
Augusto de Castro, presidente em exercício da AEB.
Para Castro, as exportações, que já estão sendo negativamente afetadas
pela queda do preço do minério de ferro, podem ser ainda mais deprimidas se a
chinesa Baosteel mantiver seu propósito de reduzir sua produção de aço em 4% a
partir de agosto. Nesse caso, ele estima que a perda brasileira com exportações
de minerais poderá superar US$ 10 bilhões. A AEB é radical na análise geral de
que a China será decisiva para a balança do Brasil: "Não estou prevendo
déficit, mas se acontecer algo muito ruim na China, se ela surpreender com um
PIB abaixo de 7% este ano, o risco de déficit aumenta", disse.
Para o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio
(CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o saldo deste ano cairá muito em relação aos
US$ 29,8 bilhões do ano passado, mas ainda ficará entre US$ 16 bilhões e US$ 20
bilhões, especialmente graças ao bom desempenho dos produtos agrícolas
potencializado pela seca nos Estados Unidos. "Não teremos muita melhora
nos manufaturados", ressalta.
Para Freitas, ex-diretor do Banco Central, a alta da cotação do dólar
por enquanto não apresentou resultado significativo para as exportações,
deprimidas pela fraca demanda externa. "Afetou as importações e não está
ajudando tanto as exportações", resumiu, afirmando que o resultado final
pode ser ainda pior se a queda das importações acabar servindo para ajudar a
formação de pressões inflacionárias.
Quanto ao papel da China, o economista da CNC avalia que ela e a Índia
continuarão demandando produtos agrícolas. Freitas também acha que a economia
chinesa só sofrerá uma redução do crescimento maior do que a já prevista se a
crise mundial se agravar ainda mais.
A expectativa da Funcex é que o saldo da balança fique entre US$ 15
bilhões e US$ 16 bilhões, perto da metade do apurado em 2011, com crescimento
de 10% nas importações e de apenas 3% nas exportações. "A gente imagina
que o efeito câmbio seja menor este ano", disse Rodrigo Branco, economista
da instituição, ressaltando que os grãos, que têm papel de destaque nas
exportações brasileiras, são negociados em contratos de aproximadamente seis meses.
Branco concorda com os demais analistas que as commodities agrícolas
seguirão sob influência benéfica das compras chinesas, o mesmo não ocorrendo
com o minério de ferro. Também entre os manufaturados o economista vê queda de
expectativas, especialmente para o Mercosul, Argentina em destaque, e para a
Europa, nesse caso, na área de bens de capital. Branco vê recuperação nas
vendas de máquinas e motores para os Estados Unidos, mas não em nível que
compense as perdas nos outros dois mercados importantes para os manufaturados
brasileiros.
(Fonte: Valor Econômico - 30/07/2012)
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