Exportações podem atingir 10 bilhões de litros em dez anos
Roberto RockmannNesta década e no início da próxima, o Brasil poderá consolidar-se como principal fornecedor de biocombustível no mundo
Nesta década e no início da próxima, o Brasil
poderá consolidar-se como principal fornecedor de biocombustível no mundo. As
exportações líquidas de etanol poderão pular de um patamar de 1,8 bilhão de
litros na safra 2010/2011 para 10,27 bilhões em 2021/2022, acréscimo de 457%,
enquanto os embarques de açúcar poderão ter alta de 25%, chegando a 35 milhões
de toneladas, aponta estudo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações
Internacionais (Icone) realizado em parceria com a Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp).
O consumo doméstico de etanol deve saltar 80%, de
25,5 bilhões de litros em 2010/2011 para 46 bilhões de litros em 2022. Já a
produção de cana-de-açúcar no período, para atender ao mercado interno e
externo, terá de saltar de 717 milhões de toneladas para 1,1 bilhão de
toneladas, alta de 55%.
Cerca de 70% da demanda de biocombustível nos
próximos dez anos virá dos
Estados Unidos, que deverão continuar a ser o principal comprador de etanol
brasileiro. "Os americanos estabeleceram um prêmio de preço para o etanol
brasileiro, que é considerado combustível avançado, sendo que esse prêmio varia
entre US$ 0,7 a US$ 0,8 por galão", afirma o pesquisador do Icone Marcelo
Moreira.
Para que o cenário possa confirmar-se de fato, será
preciso que novos investimentos nos canaviais sejam destravados. "Até 2015,
vemos uma redução da ociosidade e diminuição das oportunidades
de compra e venda de usinas já existentes, o que pressionaria o cenário de novos
investimentos, já que as opções mais baratas de recuperação de terras deverão já
estar esgotadas", destaca o pesquisador.
Em relação a dois eventuais grandes compradores de
etanol brasileiro, União Europeia e China, o cenário de demanda ainda é incerto.
O bloco europeu tem uma diretiva que busca ampliar o uso de etanol na área de
transporte, como forma de atingir à meta de 10% de fontes renováveis até 2020 em
sua matriz. No entanto, o biocombustível brasileiro chega aos países europeus
sem ter um prêmio por ter maiores vantagens ambientais que seus concorrentes,
enfrenta tarifa mais alta e barreiras não alfandegárias.
O vice-presidente de logística, distribuição
e trading da Raízen, Leonardo Gadotti, avalia que a crise europeia poderá
dificultar o alcance da meta. "A crise empurrou a agenda da sustentabilidade,
dando ênfase a outras prioridades."
Para Plínio Nastari, presidente da Datagro, a União
Europeia poderá tornar-se um dos três maiores mercados compradores de etanol
produzido no Brasil, respondendo por entre 8% a 10% dos embarques do
biocombustível. "Há uma tarifa sobre o etanol brasileiro que supera u20ac 100
por metro cúbico, acho que poderiam ser destravadas as exportações para esse
mercado com um acordo
Mercosul-União Europeia, mas ele envolve todas as outras áreas", diz
Nastari.
Para a Ásia, o cenário é um misto de incerteza e
otimismo. China e Índia, que possuem um terço da população mundial, têm uma
relação inferior a três veículos por 100 habitantes, enquanto no Japão e Estados
Unidos essa relação supera 60 veículos por 100 habitantes. "Em biocombustível,
temos um cenário fantástico, China e Índia são potenciais compradores do nosso
etanol. Poderíamos ser os catalisadores da economia verde no mundo, mas o
governo e a iniciativa privada não têm estratégia, planejamento, como se vê, já
que importamos etanol de milho dos Estados Unidos. Precisamos atacar isso,
porque poderemos ter de importar biodiesel", afirma o coordenador do Centro de
Agronegócios da FGV, Roberto Rodrigues.
"A Ásia é um mercado do futuro", diz Gadotti, da
Raízen, que destaca que o etanol no Japão o biocombustível é usado como
subproduto para se criar um aditivo à gasolina.
Para Moreira, do Icone, as barreiras não
alfandegárias são outro obstáculo para o etanol brasileiro. Os órgãos europeus,
por exemplo, deverão fiscalizar com lupa condições trabalhistas e ambientais na
cadeia sucroalcooleira. "É uma lista extensa de exigências que podem criar
complicadores a qualquer momento", diz ele, que ressalta que a crise fiscal que
atinge economias centrais e periféricas do bloco pode atrasar a implementação
dos programas de maior ingresso de biocombustíveis na matriz de transportes dos
países. Já em relação à China, existe incerteza."
Hoje esse é um mercado marginal para o Brasil, mas
tudo depende de como eles verão nosso etanol e a intenção de reduzir a
participação de combustíveis fósseis na matriz de transportes, segundo
Moreira.
O Brasil tem no etanol o biocombustível mais
competitivo do mundo. Enquanto o etanol de cana reduz 61% das emissões de gases
de efeito estufa, os combustíveis a partir de beterraba e de milho diminuem 20%.
Do ponto de vista energético, o combustível brasileiro é sete vezes mais
eficiente do que o de milho.
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