Para
evitar um colapso no mercado doméstico, Brasil é obrigado a fazer compra recorde
de combustível no exterior por US$ 1,4 bilhão
Renée
Pereira, da Agência Estado
O Brasil
está batendo recordes na importação de combustível. Sem etanol suficiente,
produção de gasolina estagnada e consumo em alta, o País foi obrigado a elevar
as compras externas para evitar um colapso no mercado doméstico. Só neste ano
(até maio), o volume de gasolina importada cresceu 315%, segundo dados da
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
As
operações custaram cerca de US$ 1,4 bilhão. O valor representa 83% dos gastos
realizados em todo o ano de 2011, quando as importações já haviam crescido 332%.
Por enquanto, não há expectativa de mudança no cenário. Pelo contrário. O ritmo
de importação deve continuar em alta, pelo menos, até o ano que vem. Depois, o
crescimento deve se acomodar. A previsão de especialistas é de que as
importações se estabilizem num nível elevado.
A solução
do problema, porém, deve demorar a chegar, e depende de uma série de fatores,
como a entrada em operação das refinarias da Petrobrás e a definição sobre o
papel do etanol na matriz energética brasileira. A crise da indústria de
cana-de-açúcar, iniciada em 2008 com a quebra do Lehman Brothers, explica uma
parte do aumento das importações, destaca o professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), Edmar de Almeida.
De lá pra
cá, muitas usinas fecharam as portas por causa do elevado endividamento. Quem
continuou no mercado pisou no freio e reduziu os investimentos, especialmente na
renovação dos canaviais. Resultado: a produtividade caiu e o volume de etanol
desabou. Na safra 2011/2012, a produção do biocombustível recuou 17%, algo em
torno de 5 bilhões de litros.
Mercado. O
setor, que passou os últimos anos trabalhando para liderar a exportação de
etanol no mundo, teve de importar 1,45 bilhão de litros de etanol para atender o
mercado. "Os estudos da ANP e da Petrobrás previam um aumento na produção de
etanol que não se realizou. Isso desmontou o planejamento para a oferta de
combustíveis", explicou Almeida.
Enquanto
isso, o consumo de combustíveis não parou de crescer, especialmente porque o
governo deu subsídio para a compra do carro zero - de janeiro a junho deste ano,
1,6 milhão de carros novos entraram no mercado. Com o etanol menos competitivo
por causa da crise do setor, os motoristas migraram para a gasolina, observa o
diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. No ano
passado, o consumo do combustível subiu em média 19% em relação a 2010 e o
etanol hidratado caiu 28%. Neste ano, o uso da gasolina já subiu 11% e o do
álcool recuou 14%.
Pires
destaca que o consumo de outros combustíveis também cresceu e exigiu volume
maior de importação. O consumo de diesel subiu 37% este ano por causa do
agronegócio - que sustenta a balança comercial brasileira - e pela expansão da
construção civil. Com o aumento de passageiros viajando de avião, o uso da
querosene de aviação avançou 17,5%. "Estamos importando cada vez mais todos os
tipos de combustível", critica o diretor do CBIE.
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