quinta-feira, 22 de maio de 2014

O CRAVO E A FERRADURA


   Pressionado por parte da mídia, e por segmentos “independentes” mais radicais de oposição, aqueles que, nos portais e redes sociais, esbravejam contra o “bolivarianismo”; a participação brasileira no Porto de Mariel em Cuba; e o apoio implícito à Rússia, na Ucrânia, no contexto da posição comum assumida pelos BRICS, o governo federal dá uma no cravo, e outra na ferradura.
Talvez, para mostrar, que não somos tão radicais assim, em nossas relações com o mundo, a Presidência da República anunciou que  a Senhora Dilma Roussef se encontrará com o Vice-Presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, quando ele vier assistir a um jogo da Copa do Mundo, no mês que vem,  em um primeiro gesto de aproximação depois da suspensão de sua viagem de Estado aos EUA, devido ao escândalo da espionagem da NSA.
Ao mesmo tempo, o Brasil promove o rápido fechamento, por seus sócios sul-americanos, da proposta do Mercosul a ser apresentada à União Européia, nas negociações do tratado de livre comércio entre os dois blocos.
E, finalmente, acena, também, com a  compra, por 165 milhões de dólares - depois da derrota dos EUA na escolha dos caças do Programa FX, da Força Aérea, vencida pelos suecos -  de mísseis anti-navio  norte-americanos, para aviões-patrulha da FAB.
   
O Pentágono notificou o Congresso dos Estados Unidos, na semana passada, da consulta feita pelo governo brasileiro, sobre a aquisição de 16 mísseis AGM-84 L Harpoon Block II, e mais 4 mísseis para treinamento.
Na sua justificativa – na verdade um pedido de autorização para a venda do armamento, fabricado pela Boeing - o Departamento de Defesa dos EUA, explica que “a proposta de venda dos equipamentos e de seu suporte não altera o equilíbrio militar básico da região, ou terá impacto adverso na capacidade de resposta dos Estados Unidos”, um eufemismo para dizer que  esse armamento seria praticamente inócuo contra os EUA, em caso de conronto com o Brasil.
A aquisição de novos armamentos dos EUA, para equipar os P-3 Órion da FAB,  não significa, necessariamente, uma  capitulação.  A Índia, que também é sócia do BRICS - e coopera estreitamente com a Rússia na área de armamento - adquiriu 45 unidades desses mísseis, ao preço de 4.5 milhões de dólares cada uma, estranhamente, por 4 milhões de dólares a menos do que o preço que está sendo oferecido ao Brasil.    
No mundo cada vez mais complexo deste novo século, precisamos, naturalmente, navegar, com prudência, nas águas, nem sempre calmas, das relações internacionais, o que implica em negociar, igualmente, com gregos e troianos.
O que não podemos, no entanto, é deixar de separar o joio do trigo, segundo nossos interesses como Nação.
E nem, como no caso do preço dos mísseis, ou do acordo entre a U.E e o Mercosul, o Governo aceitar negociar em desvantagem, ou assumir compromissos que irão nos prejudicar no futuro, devido às  circunstâncias políticas do momento  ou ao calendário eleitoral.

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