terça-feira, 13 de maio de 2014

A ARGENTINA E O BRICS

Mauro Santayama, em seu blog


  Circula a informação, na imprensa argentina, de que o embaixador da Índia em Buenos Aires, Amarenda Khatua, teria afirmado que Brasil, África do Sul e Índia, estariam dispostos a apoiar a entrada de Buenos Aires no BRICS, a partir do próximo ano.

Com todo o respeito pelos irmãos argentinos, a idéia, por mais que possa ter sido apenas fruto de uma deferência do representante indiano junto ao governo que está servindo, não tem pé nem cabeça, e precisa ser seriamente debatida, se por acaso estiver sendo considerada, mesmo que remotamente, por alguém dentro do governo brasileiro, ou pelo Itamaraty.

Algumas condições fazem do BRICS o que ele é, e justificam a presença dos sócios que fazem parte do grupo até agora.

Em primeiro lugar, os BRICS são, em sua maioria, potências nucleares e espaciais, se considerarmos a própria Índia, a Rússia e a China; reúnem países que têm grandes reservas internacionais, como é o caso da Rússia, com mais de 600 bilhões de dólares em caixa, ou da China e do Brasil respectivamente o primeiro e o quarto maiores credores individuais externos do tesouro dos Estados Unidos.

A maioria são, também, países de grande peso territorial e demográfico, como China, Rússia, Índia e Brasil, ou as nações mais importantes, do ponto de vista geopolítico, comercial e tecnológico, em suas respectivas regiões.

A Rússia lidera as ex-repúblicas da órbita soviética, na Comunidade de Estados Independentes, a China, as nações reunidas no Grupo de Xangai, a África do Sul - que conta com avançada indústria de defesa – a União Aduaneira da áfrica Austral, o Brasil é a maior nação do MERCOSUL, da UNASUL, e do Conselho Sul-americano de Defesa.

PIB mais fraco do BRICS, antes da África do Sul, assim como o Brasil detêm o maior PIB do grupo depois da China, talvez a Índia esteja fazendo um balão de ensaio, na tentativa de diminuir o peso de potências mais fortes, como a China e o próprio Brasil, com a entrada de um país de médio porte, que diluiria o voto e o poder relativo dos países maiores.

O governo brasileiro, que, obviamente, não precisa sequer tocar nesse assunto publicamente, precisa cortar, no entanto - entre quatro paredes, essa hipótese, proposta, se ela realmente existir, no nascedouro.

O BRICS só permanecerá forte - e cada vez mais forte, a partir de iniciativas como a criação do Banco do BRICS, que será discutida na Cúpula Presidencial do grupo, em Fortaleza, em julho - se mantiver sua atual configuração, que lhe assegura presença e ampla cobertura, na Eurásia, no Atlântico Norte, no Extremo Oriente, na África e na América Latina.  


Nossa região já tem assento no BRICS, que está assumindo, cada vez mais, o papel de uma espécie de Conselho de Segurança dos países emergentes, rumo a um novo mundo, mais multipolar e autônomo, com relação ao Ocidente. E esse assento tem dono. Ele pertence ao Brasil.

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