Quais foram os erros da política econômica do regime militar?
O
erro foi um modelo que persegue o crescimento a qualquer custo, à custa
da classe trabalhadora, do bem-estar social, coisa criminosa. Foi uma
maravilha crescer, mas cresceu aleijado, não é ideia muito boa. É melhor
não crescer muito e não aleijar. Não fazer da maneira desvairada,
agressiva como fizeram. Com crédito ao consumo, ao consumo de luxo das
classe altas, houve perda salarial fortíssima.
O que ficou de herança da política daquela época?
Sobrou
uma industrialização mais branda. As décadas de 80 e 90 foram muito
ruins. Em 90, com neoliberalismo, vivemos um período de
desindustrialização. Só voltamos a crescer com Lula, mas não no mesmo
patamar, mas com um programa de distribuição de renda, com salário
mínimo subindo acima da média, previdência, Bolsa Família, uma porção de
políticas sociais para combater a pobreza, para melhorar a
distribuição. E melhorou. O Coeficiente de Gini (indicador de
concentração de renda) voltou aos níveis dos anos 60. Nesse sentido não é
um modelo só desenvolvimentista, é um modelo social. Uma tentativa de
fazer tardiamente um modelo de estado de bem-estar social.
A concentração de renda aumentou durante o regime...
O
grosso do aumento da concentração foi no regime militar. Mas é claro
que a crise da dívida externa nos anos 80 e o baixíssimo crescimento e o
neoliberalismo dos anos 90 não ajudaram nada. Continuou concentrando. O
regime concentrava com crescimento, o emprego crescia. Nas décadas de
80 e 90, não. Teve aumento do desemprego, coisa que agora também não
tem. Além de política de salário, tem uma política de emprego.
Há críticas que a política industrial atual seria semelhante à do regime?
Não
se assemelha em nada. Era um período de industrialização pesada, forte.
Não estamos num período de industrialização pesada. Estamos investindo
em infraestrutura basicamente.
E a escolha de campeões nacionais? Está dando certo?
Não
acho uma maravilha de ideia. Muito praticada na Coreia, no Sudeste da
Ásia. Não tenho certeza se está dando certo. Uma coisa é falar, outra
coisa é provar. Se ocorreu, não tenho dado nenhum para afirmar. A
oposição tem que pesquisar e botar os números. Fica tudo no gogó. De
qualquer maneira, é uma concentração de capital, sem dúvida.
Com a crise de 2008, o neoliberalismo sofreu um golpe, não?
O
que aplicaram foi um modelo ultraliberal. Não acho que o neoliberalismo
esteja morto. Estou sempre na defensiva nesse particular. Os
porta-vozes estão aí, cada vez falam mais alto.
O Brasil cresce pouco...
A
crise (global de 2008) bateu aqui em 2009. Em 2010 o crescimento já
tinha retomado, mais instável e mais brando. O crescimento não está essa
Brastemp, mas não piorou o emprego, nem a distribuição de renda, o que
para mim é o essencial. Ninguém come PIB, come alimentos.
Há analistas que chegaram a defender mais desemprego para combater a inflação...
Imagina,
é um absurdo! O governo está combatendo a inflação da melhor forma que
pode. Aumentar o desemprego para combater a inflação... Vou te contar, é
pior que o Fundo Monetário. Não leio mais economia para não me
aborrecer. É um festival de besteira. Não acho que inflação passe da
meta. Não vejo pressão inflacionária, a não ser que tenha uma grande
desvalorização. Mas não creio. O difícil é saber o que vai acontecer com
a economia mundial, que sempre dá reflexo aqui. Não dá para ser
ultraotimista, nem ultrapessimista. Estou moderadamente otimista.
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