sexta-feira, 28 de março de 2014

Lembranças de 64

Publicado no Repórter Sindical



Maria Thereza Goulart
O que o golpe militar mudou em minha vida?
É muito difícil ter as respostas certas para essa pergunta.
Até hoje, 50 anos depois, eu me questiono para conseguir entender o porquê daqueles momentos tão assustadores que de repente mudaram o rumo de nossas vidas, de nossa pátria e de nosso povo.
As mudanças foram infinitas.
Perdi pessoas que eu amava sem poder dizer adeus.
Perdi amigos, perdi meu lar e perdi minha pátria.
Fiquei sem meus sonhos, vivendo uma realidade de incertezas e desafetos.
Tive medo sim e pensei que aqueles momentos eram de uma perseguição coletiva que acabaria envolvendo nosso futuro.
Esse medo tornou-se um grande inimigo capaz de me confundir entre o ódio e o perdão.
Eram muitas perguntas sem respostas, que me faziam pensar algumas vezes que nós éramos os responsáveis por todos aqueles acontecimentos.
O tempo foi passando e os desafios foram diários.
Esquecer não foi fácil e eu aprendi muito com o sofrimento
Aconteceram novas mudanças, meus filhos cresceram, voltamos para a nossa pátria, para uma nova vida e novos amigos em um tempo de esperança.
Nossas vidas, no entanto, ficaram com um grande espaço vazio sem a presença de nosso melhor amigo, pai e companheiro.
Hoje sinto meu coração comprometido com o passado e em vários momentos de melancolia olho para o céu azul e me encontro de volta para o Uruguai, mudando os rumos de meus pensamentos neste tempo de espera para outros caminhos.
Sei que minha vida mudou. Continuo meu destino, até quando não sei.
 


Maria Thereza Goulart é viúva do presidente Jango e presidente de Honra do Instituto João Goulart

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