Nos últimos dias, os preços de alguns alimentos voltaram a subir por razões sazonais, climáticas e, também, por pura especulação. De imediato, os “analistas de mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos agiotas que lotam as redações dos jornalões e das emissoras de rádio e tevê – berraram que a inflação está fora do controle e que é preciso elevar os juros e adotar outras medidas amargas de contração da economia. Só falta a apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, retirar do seu armário aquele ridículo colar de tomates que ela utilizou em abril do ano passado para aterrorizar a sociedade com o fantasma inflacionário. Na prática, a mídia privada usa todos os expedientes para defender os interesses dos rentistas. Os editoriais da Folha e do Valor desta semana são prova disto.
No editorial intitulado “Tomate, o retorno”, a Folha de quinta-feira (20) garante que, “com o aumento próximo de 50%, o alimento volta a simbolizar pressões que afastam a inflação do centro da meta” do governo Dilma. Mesmo reconhecendo que “o ritmo da alta dos preços desacelerou” nos últimos meses, o jornal afirma que será “improvável” manter o controle da inflação. O editorial mais parece torcida. Ele não esconde que objetivo é o de pressionar o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a endurecer nas políticas monetárias e fiscais. Para a Folha rentista, a visita do presidente do BC ao Senado nesta semana não serviu para “acalmar” o mercado, porque ele teria feito “um discurso mais político do que técnico --e lá se vão quatro anos de maus resultados”.
Mais direto, o jornal Valor – que é dedicado ao chamado “mundo empresarial” – não vacila em propor abertamente a elevação das taxas de juros e os cortes de gastos públicos. O editorial, também de quinta-feira, garante que a inflação ficará fora do centro da meta por culpa do governo, que não tem “interesse ou desejo em pagar o preço necessário para reduzi-la”. E qual é o preço proposto. “Parece inevitável que o ciclo de elevação da taxa de juros terá agora de ser mais longo do que o previsto pelo Banco Central... Se quiser evitar romper o teto de 6,5%, o BC terá de elevar mais os juros e se manter ‘especialmente vigilante’ o tempo todo”. Além do arrocho monetário, que reduz a produção e gera desemprego, o jornal Valor também propõe mais austeridade fiscal.
“A política fiscal foi claramente expansionista, especialmente a partir de 2010, último ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, interessado em eleger sua sucessora, Dilma Rousseff”, critica o jornal dos rentistas. Ele também condena o governo pelos incentivos ao consumo – por motivos “eleitorais, populistas e outros”- e garante que o atual rumo da política econômica explica o pessimismo “das empresas de classificação de risco, hoje claramente de mau humor com o país”. Os dois editoriais, com estilos e palavras diferentes, têm o mesmo objetivo: enquadrar o governo Dilma e força-lo a adotar o receituário neoliberal, de mais juros e menos gastos públicos, de menos empregos e menos renda dos trabalhadores. O fantasma da inflação serve apenas como pretexto!
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