segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Stiglitz (prêmio Nobel) critica medidas contra crise na Europa

Diante do terceiro “resgate” da Grécia, o economista norte-americano Joseph Stiglitz volta a defender a reestruturação da dívida dos países europeus em crise, critica a austeridade ("há mais desempregados, e mais desemprego pressiona a descida dos salários”), vê com pessimismo a eleição alemã e diz que o FMI não aprendeu nada com as crises latino-americanas do passado recente.

Do “Esquerda.net”, de Portugal

“Lisboa – O terceiro resgate à Grécia é a repetição, agora na Europa, da má gestão do Fundo Monetário Internacional que marcou sua intervenção na América Latina nos anos 90 e início dos 2000, denuncia o economista norte-americano Joseph Stiglitz.

"O que se deve fazer é tomar medidas para [promover] o crescimento e fazer reestruturações suficientemente profundas para não ter que se repetir várias vezes", defende o professor da Universidade de Columbia e prêmio Nobel de Economia, em entrevista ao semanário português ‘Expresso’.

"Nada é pior do que tentar subestimar a necessidade de reestruturar a dívida", sublinha Stiglitz, pois isso "deixa a economia num limbo em que não cresce, e foi isso que a troika [Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI)] fez" na Grécia.

O economista, que lançou recentemente o livro "O Preço da Desigualdade", explicou que "a crise, como tem sido gerida pela troika, tem exacerbado as consequências da desigualdade", uma vez que "há mais desempregados, e mais desemprego pressiona a descida dos salários, afetando todos os trabalhadores. Finalmente, os cortes nos serviços públicos afetam mais os que dependem deles".

Para Joseph Stiglitz, a Europa não tem razões para estar otimista em ver qualquer recuperação econômica "enquanto continuar a visão de que a austeridade funciona". A grande questão, aponta o economista norte-americano, é saber "até quando o eleitorado terá paciência".

Defensor da união bancária europeia e dos ‘eurobonds’, Stiglitz diz que a taxa de juro do BCE deve ser menor do que os atuais 0,5%, a fim de desvalorizar o euro e aumentar a competitividade da produção europeia. Entretanto, ele reconhece que "essas medidas não funcionam nos países que enfrentam as condições mais extremas", como Portugal e a Grécia.

"Enquanto estiverem ligados ao euro, a margem de liberdade política é muito restrita", avalia o economista. "Por isso, é necessário mudar a política da União Europeia e da troika”.

Stiglitz não poupa críticas à atuação do FMI, BCE e Comissão Europeia, e receia que a situação só possa piorar, dado que as eleições alemãs parecem indicar maioria que não se convence que a Alemanha "é a principal beneficiária do euro e que teve enormes excedentes à custa de déficits de outros países".

FONTE: publicado no “Esquerda.net”, de Portugal. Transcrito no site “Carta Maior”

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