As redes sociais ocupam um papel cada vez mais decisivo na luta de ideias na sociedade. Nos momentos de maior tensão politica, a internet se agita com a explosão de opiniões das mais diversificadas – e, inclusive, antagônicas. Na votação desta quarta-feira (18) dos embargos infringentes no STF, que definiria o futuro do midiático julgamento do “mensalão”, a batalha neste campo virtual se acirrou novamente. Em sua coluna de ontem no sítio do Estadão, o jornalista José Roberto de Toledo avaliou como se deu o confronto com base num levantamento preparado pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espirito Santo. Reproduzo alguns trechos do seu artigo:
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Voto de Celso de Mello polariza Twitter. De novo.
Está ficando monótono: a cada polêmica envolvendo política brasileira, o Twitter se divide em dois campos antagônicos, que se ignoram. Foi assim com o Mais Médicos, é assim com o voto de minerva do ministro Celso de Mello – que decidiu por dar nova chance aos réus do mensalão julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
O gráfico preparado pelo Labic.net (Universidade Federal do Espírito Santo) a pedido do Estadão Dados evidencia a polarização dos tuiteiros em duas redes distantes e distintas, cujos integrantes tendem a se conectar quase exclusivamente entre si. No meio das duas aparecem os perfis de veículos impressos, da chamada velha mídia, que são os únicos capazes de se conectar aos dois lados.
No Fla-Flu sobre o voto de Celso de Mello, a rede azul reúne tuiteiros que, na maioria, são a favor da condenação dos réus. Destacam-se perfis como @faxinanopoder_ e @mensalaonao. Na ponta oposta do gráfico, a rede verde conecta usuários que, majoritariamente, são mais simpáticos aos réus, como @blogdomiro e @stanleyburburin.
Entre os dois extremos, ocupando o espaço deixado entre as redes azul e verde, aparecem perfis de veículos de comunicação, como @estadao, @jornaloglobo e @canalglobonews – todos pintados de vermelho.
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Mesmo entre os veículos de comunicação há os que atraem mais conexões de um lado do que de outro e acabam pintados pelo software com a cor da rede dentro da qual mais se relacionam. São os casos das revistas Veja, na rede azul, e Carta Capital, na rede verde.
Não há qualquer avaliação sobre posições ideológicas ou comportamentais de cada usuário. Sua cor e sua posição no gráfico dependem exclusivamente de suas conexões. É literalmente um caso de “diga-me com quem andas que te direi quem és”.
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Deixando de lado as opiniões do colunista do Estadão – “monótono” era quando apenas os monopólios midiáticos difundiam suas posições políticas como se elas expressassem a “opinião pública” e no qual não havia clima de “Fla-Flu”, mas apenas o pensamento único e autoritário da ditadura da mídia –, a pesquisa evidencia a importância do uso das redes sociais nos momentos de maior tensão. Quem fica de fora deste espaço virtual perde pontos na batalha de ideias.
Manuel Castells, no livro recém-lançado “Redes de indignação e esperança – Movimentos sociais na era da internet”, da Editora Zahar, analisa a força das redes sociais nos protestos que abalaram vários países do planeta nos últimos três anos. Ela dá detalhes sobre o uso da internet na chamada “Primavera Árabe”, na “Revolta dos Indignados” na Espanha e no movimento Occupy Wall Street nos EUA. Num posfácio bem polêmico, ele também opina sobre a “jornada de junho” no Brasil.
Considerado um dos maiores especialistas no tema, Manuel Castells mostra que não é a internet que promove revoluções – que dependem de outros fatores objetivos e subjetivos -, mas que ela é decisiva para impulsionar ou barrar os processos políticos de mudanças. Quem não se apropriar destes novos instrumentos terá maiores dificuldades para interferir nas batalhas contemporâneas.
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