Na informação que Snowden deu ao
jornalista Glenn Greenwald não se identifica qual era o objetivo do
roubo de informação que aparece no artigo escrito por um dos nossos
fundadores, Juan Luis Berterretche, em 5 de março de 2008: o
descobrimento de petróleo na Bacia de Santos. Também não informava quem
fez a espionagem (o intermediário Halliburton) nem sobre a colaboração
da diretoria da Petrobras.
Petrobrás confia sua informação sigilosa aos piratas da Halliburton
Por Juan Luis Berterretche.
05 03 2008
Cerca de 70 a 75 por cento de nosso
negócio está relacionado à energia, servindo a clientes como Unocal,
Exxon, Shell, Chevron e muitas outras entre as principais companhias
petrolíferas de todo o mundo. Como conseqüência, freqüentemente nos
encontramos operando em lugares muito difíceis. Nosso Senhor não achou
adequado colocar petróleo e gás apenas onde há governos eleitos
democraticamente e amistosos em relação aos EUA. Às vezes temos que
operar em lugares onde, considerando-se todos os sinais, ninguém
gostaria de trabalhar. “Mas nós vamos onde o negócio está”. [1]
Dick Cheney (CEO da Halliburton, 1998)
Em 21 de janeiro de 2008 a Petrobrás
anunciou o achado de uma reserva gigante de gás denominada Campo de
Júpiter a 37 km do mega-campo de petróleo de Tupi. O mega-campo de Tupi
dispõe de uma capacidade de 90 milhões de milhões de barris de óleo
equivalente (boe), medida que inclui petróleo e gás natural. Este
descobrimento elevaria o Brasil à condição de terceiro ou quarto maior
produtor mundial de hidrocarbonetos.
A prospecção foi realizada pelo
navio-sonda NS-21, conhecido como Ocean Clipper, que pertence à empresa
Diamond, na Bacia de Santos (São Paulo). Os laptops que haviam acumulado
a informação da descoberta foram trasladados a terra.
Os computadores foram enviados em um
contêiner que chegou ao Porto do Rio em 25 de janeiro, trazido desde a
Bacia de Santos, e ali ficaram até 29 de janeiro quando um caminhão da
empresa Transmagno o carregou para transportá-lo a Macaé. A distância do
Rio a Macaé é de três horas pela rodovia, mas “devido a fortes chuvas” o
motorista do caminhão fez uma parada em Itaboraí, onde passou a noite
num posto à beira da rodovia. Depois dessa acidentada viagem, em Macaé
se comprovou que os lacres do contêiner haviam sido retirados e o
cadeado substituído.
A partir desse momento as informações do
retirado foram contraditórios. Primeiro foi dito que havia desaparecido
um notebook, logo dois, dias depois que também faltavam os discos
rígidos. Hoje se sabe, pelo registro policial, que quando o técnico de
manutenção Guilherme da Silva Vieira foi confirmar a carga comprovou que
faltavam quatro laptops, dois discos rígidos, quatro pentes de memória
com informações, outro computador, uma impressora e um gravador de DVD.
Nas memórias dos aparelhos roubados estava toda a informação sobre a
reserva do Campo de Júpiter.
O roubo dos dados estratégicos da
estatal brasileira com informações sobre as reservas de hidrocarbonetos
na bacia de Santos não é o primeiro, segundo o diretor da Associação de
Engenheiros da Petrobrás (AEPET) e ex-engenheiro da área de exploração e
produção da estatal, Fernando Siqueira.
“O roubo é reincidente, porque sabemos
há um ano e meio que vem sendo roubados laptops na casa dos técnicos
envolvidos com a Bacia de Santos. Houve assalto na casa de dois
engenheiros e um geólogo de onde só levaram os laptops”, informou.
Siqueira lamentou que o roubo leve 30
anos de investigação feita pela companhia numa jazida com um valor
estimado em US$ 2 milhões de milhões (10 12 ), em mãos desconhecidas.
Halliburton
O de “mãos desconhecidas” seria certo se
não soubéssemos que a empresa encarregada de trasladar o contêiner era a
Halliburton. E que a transportadora Transmagno era uma companhia
subcontratada pela mesma Halliburton.
Vejamos alguns dados esclarecedores sobre a empresa a quem Petrobrás confia sua informação sigilosa. [2]
Os principais contratos governamentais
da Halliburton nos EUA se realizam com o Pentágono, por meio do Corpo de
Engenheiros do Exército (ACE, por suas siglas em inglês) ou da Marinha,
baixo uma modalidade conhecida como Logistics Civilian Augmentation
Program (LOGCAP), um esquema de privatização – e “mercenarismo” – das
funções de “logística” do Pentágono iniciado em 1985, que permite a
milhares de firmas suprir serviços e fornecimentos como transporte,
habitação, construção de prisões, preparação e distribuição de alimentos
e combustível, interrogatório de prisioneiros, limpeza, lavanderia,
etc., “liberando” milhares de tropas que são usadas na frente de
batalha.
O LOGCAP não conseguiu grande alento
senão até que Dick Cheney, atual vice-presidente dos EUA e grande
embusteiro [3] , como secretário de Defesa de Bush pai, o impulsionou e
generalizou em 1992 por meio de um estudo que contratou precisamente com
a subsidiária da Halliburton, Kellog, Brown and Root (KBR) para
determinar se os contratistas podiam fazer frente às necessidades
logísticas “básicas” do Pentágono.
O estudo, classificado, conclui que um
LOGCAP generalizado beneficiaria ao governo com “a vantagem” de que as
empresas não estão submetidas ao código militar, por exemplo, em matéria
de atrocidades – caso dos contratistas do Pentágono na Colômbia. Em
agosto de 1992 Cheney outorgou o primeiro contrato “ampliado” do LOGCAP a
favor da KBR e pouco depois, em 1995, foi nomeado presidente da
Halliburton. Este tráfico de influência e manejo pressuposto,
Estado-empresa e de pessoal é parte do modus operandi do capital
monopolista.
Em 1997 a Auditoria Geral detectou
irregularidades e a Halliburton foi substituída pela DynCorp, mas
manteve um contrato sem licitação por cinco anos para reconstruir os
campos petroleiros do Iraque. Em 2001, com Cheney na Casa Branca, a KBR
conseguiu um contrato LOGCAP por 10 anos e hoje domina 90 por cento de
todo o LOGCAP no Iraque, passando de 320 milhões de dólares em junho de
2003 para 2 mil milhões em setembro deste ano. Segundo Lolita Baldor, da
AP, entre 2003 e 2004 a Halliburton realizou contratos no Iraque
estimados em 10,7 mil milhões, sem incluir outros LOGCAP da KBR em
dezenas de países como a construção das prisões em Guantánamo e
Afeganistão. A Halliburton está submetida a “auditorias” e detectam-se
copiosas anomalias (“subornos” por atacado, cobrança de 10 mil refeições
diárias que não se serviram, sobrepreço na gasolina para o Exército,
uso de alimentos com um ano de vencimento, etc). Ainda assim, a imprensa
informa que em julho de 2005 o Exército atribuiu 5 mil milhões a
Halliburton para o apoio logístico das tropas no Iraque até julho de
2006, um aumento de mil milhões pelos mesmos serviços. [3]
Até janeiro de 2006 a Halliburton obteve o montante de 16 mil milhões de dólares em contratos para “reconstruir” o Iraque.
Em março de 2007 a empresa Halliburton
com sede central em Houston, Texas, anunciou que se mudava para os
Emirados Árabes Unidos, concretamente na cidade de Dubai, onde imperam
descontraídas e muito liberais taxas impositivas e cômodas leis de
residência. Desta forma pretende evitar os juízos nos EUA. contra os não
cumprimentos de contratos e as fraudes.
Em 2007 acumularam-se múltiplos casos de
fraude cometidos por empregados das empresas privadas na adjudicação de
contratos na erroneamente chamada reconstrução do Iraque. Os mais
notórios da Halliburton. Mas há indícios de que a corrupção endêmica
implica cada vez mais oficiais das forças armadas dos EUA. Em julho de
2007, deflagrou o escândalo do comandante John Cockerham, encarregado de
contratação e compras da base do exército de Fort Sam em Houston
(Texas). Cockerham e sua esposa Melissa foram detidos e acusados de
receberem subornos de mais de 15 milhões de dólares na adjudicação de
vários contratos, desde o fornecimento de água engarrafada até os
serviços de lavanderia para as tropas dos EUA no Iraque e Kuwait. Um
destes contratos por fornecimento de água foi adjudicado à empresa
kuwaitiana de transporte Green Valley em troca de 175 mil dólares. Após
ser empacotado em bolos de notas dentro de maletas, o dinheiro foi
depositado num banco do Oriente Médio e dali ao paraíso fiscal em
Barbados.
Na mesma semana o ex-comandante do
exército John Allen Rivard, outro oriundo do Texas, declarou-se culpado
de suborno, lavagem de dinheiro e conspiração enquanto exercia a máxima
responsabilidade de contratação de serviços e fornecimentos para a base
militar estadunidense de Camp Anaconda, no Iraque. Uma empresa com sede
em Dubai pagou subornos a Rivard por contratos avaliados em 20 milhões
de dólares relacionados com o fornecimento de tratores, equipamentos
elétricos e moradias pré-fabricadas para as tropas estadunidenses.
Anthony Martin, de Houston, confessou
que havia adjudicado dois contratos a uma empresa de transporte
kuwaitiana em troca de 50.000 e 150.000 dólares. Martin incorpora-se a
uma longa lista de empregados da Halliburton seduzidos pelo suborno.
Alex Mazan, diretor da Halliburton de Atlanta, responsável pela
adjudicação de contratos para o transporte de combustível, aumentou o
custo de um contrato assinado a uma empresa kuwaitiana e embolsou um
milhão de dólares. A principal empresa de transporte kuwaitiana que se
havia beneficiado de contratos com o exército estadunidense é a PWC.
Assim mesmo, Stephen Seamans, outro diretor de contratação da
Halliburton, recebeu subornos de uma firma paquistanesa.
Estes subornos são tostões comparados às
fraudes da transnacional. Segundo auditores governamentais, houve
gastos de 1.000 milhões de dólares sem justificar no mega contrato
LOGCAP adjudicado sem concurso à Halliburton em 2003.
Esta é a eficiente empresa na qual a
Petrobrás confia a informação confidencial de uma riqueza que pertence a
mais de 180 milhões de brasileiros.
O interrogatório aos possíveis
envolvidos no roubo não é mais que uma en cenação. A informação que
realmente interessa é quem é o responsável na Petrobrás pela contratação
da empresa pirata Halliburton e quanto recebeu por isso.
Todo o resto é resultado dessa traição ao país.
Notas
1- Tyler Marshall, High stakes in the
Caspian Los Angeles Times 23 de fevereiro de 1998. Richard B. Cheney,
Defending liberty in a global economy, discurso pronunciado na
Conferência sobre Danos Colaterais no Cato Institute, 1998. Cato
Institute é uma instituição liberal.
2- Juan L.Berterretche e Tali Feld Gleiser Réquiem para el sueño americano Livro em preparação.
3- Oito funcionários chave do governo
dos Estados Unidos, incluindo o presidente George W. Bush, realizaram
pelo menos 953 declarações falsas nas vésperas e depois da invasão do
Iraque em março de 2003. Assim indica uma investigação que acaba de
publicar na capital estadunidense o Centro para a Integridade Pública e
que dirigiu Check Lewis, fundador desta organização. Entre os
investigados figuram Bush, o vicepresidente Dick Cheney e quem então
encabeçavam o Departamento de Estado (chancelaria) Colin Powell, e o de
Defesa, Donald Rumsfeld, assim comoa ex conselhera de Seguridade
Nacional e atual secretária de Estado (chanceler), Condoleezza Rice, e o
ex-subsecretário de Estado Paul Wolfowitz. A lista se completa com os
hoje exportavozes da Casa Blanca Ari Fleischer e Scott McClellan.
4- John Saxe-Fernández Halliburton Irak y Katrina, La Jornada, Ciudad de México, 15 de setembro de 2005,http://www.jornada.unam.mx/
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