Mauro Santayama, em seu blog.
(JB) - Atribui-se ao controvertido general Golbery do Couto e Silva
a máxima de que só os incompetentes perdem o poder. A frase, em si, pode ser
inteligente, mas deve ser submetida a uma investigação da lógica. Devemos antes
entender de que poder se trata. Há os que consideram o poder como exercício do
hedonismo puro; outros, a colheita da bajulação ou da adoração. Outros ainda,
de pragmatismo canalha, dele fazem o meio de enriquecimento pessoal.
E há os que buscam o poder a fim de realizar projeto político
honrado. Na raiz da ideia milita a discussão entre os meios e os fins. Sendo
assim, o poder é apenas um meio. A ética aconselha não fazer distinção entre
uma coisa e outra; a prática vulgar da política faz dela uma regra, quando o
objetivo é o do poder pelo poder. O meio já encerra, em si mesmo, o fim, como
ocorre com qualquer caminho.
O governo da Presidente Dilma Rousseff está diante desse
dilema. Ministros defenestrados entram pelos portais palacianos, inflados de
insolência, a fim de indicar seus sucessores. E, entre os ministros atuais, há
os que, com arrogada autonomia, sabotam projetos do governo, agindo na
contramão dos fins anunciados, como é o caso do Ministro Paulo Bernardo, no
caso da Banda Larga e da Telebrás, e em suas concessões às empresas
estrangeiras.
Uma das grandes dificuldades do atual governo é a falta de
coordenação entre os seus integrantes. A boa prática administrativa recomenda
reuniões ministeriais periódicas e, no intervalo entre elas, consultas
bilaterais, sempre que for o caso. No governo atual elas são quase inviáveis:
como reunir 40 ministros, com a frequência recomendável? Argumenta-se que a
chefe do poder executivo federal é refém do parlamento e, para governar, tem
que dar a cada partido, conforme sua representação, fatias do poder. É verdade,
mas um governo, com a aprovação popular da atual presidente, pode virar a mesa,
se quiser, e reduzir o número de ministérios ao patamar da razoabilidade.
É difícil administrar sem projeto nacional que se apoie em
programa de ações coordenadas, como ocorreu, com seus acertos e erros, durante
os governos de Vargas e Juscelino. Vargas defrontou-se com a prolongada crise
econômica dos anos 30, agravada pela ascensão das potências do Eixo, mas, ainda
assim, iniciou a ocupação racional do território, estabeleceu as bases de uma
política social mais justa e, no momento certo, fez a opção internacional que
mais nos convinha, ao aliar-se aos Estados Unidos. No segundo governo, avançou
no desenvolvimento econômico, o que lhe
custou a vida – mas não se afastou do seu objetivo de construir a grandeza
nacional. Juscelino prosseguiu no mesmo caminho, e governou de acordo com o seu
programa de metas.
Os dois sofreram, tanto quanto o atual governo, da pressão
dos interesses antinacionais, exercida mediante parcela comprometida dos meios
de comunicação. A situação internacional, hoje, é mais favorável. Não estamos
submetidos ao maniqueísmo da Guerra Fria, e isso nos possibilitou aproximação com
países emergentes como o nosso – a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul.
Não estamos aproveitando bem essa aliança natural com os BRICS.
Estamos agora construindo submarinos movidos a energia
nuclear em parceria com a França, quando nos teria sido muito mais vantajosa
parceria com a Rússia, de tecnologia melhor. E, mais: nada explica nossas
relações desiguais com a Espanha, que tem retirado do Brasil, por intermédio de
suas empresas aqui, alguns dos recursos com que vai engambelando os seus
credores. O BNDES tem sido mais do que generoso com instituições espanholas,
como o Banco Santander e a Telefônica.
Terça-feira os países do BRICS se reúnem novamente em Durban,
na África do Sul, com a presença de seus líderes maiores. É um bom momento para
que o Brasil aprofunde as parcerias econômicas com a China, a Índia e a Rússia,
que dispõem de recursos e tecnologia que ainda nos faltam – a fim de que
possamos retornar ao Grande Projeto Nacional de Vargas. Mas é também necessário
que coloquemos a administração nacional sob o jugo da racionalidade.
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