Por
Luis
Nassif
“Entenda melhor como se dá o jogo da
SELIC [Sistema Especial de Liquidação e de Custódia].
[Ontem,] quase todos os jornais cobriram
a reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária)
do Banco Central com a informação de que os juros foram mantidos e a
especulação de que será aumentado na próxima reunião em abril.
A base da especulação é um trecho do
comunicado, no qual o COPOM informa que aguardará a próxima reunião para saber
o que fazer com a política monetária.
Nas reuniões, o COPOM pode tomar as
seguintes medidas em relação à SELIC:
1. Mantê-la inalterada.
2. Aumentar ou diminuir.
3. Mantê-la inalterada, mas
sinalizando sua intenção futura, na forma de viés de alta ou viés de baixa.
Quando define o viés, sinaliza a
tendência. Mas não significa que terá que seguir o viés na próxima reunião.
Justamente porque o viés não tem
nada de impositivo, se quisesse sinalizar a intenção de aumentar a SELIC, o BC
teria votado pela manutenção da SELIC com viés de alta. Não o fez. Por
unanimidade manteve a SELIC sem viés algum. E a votação foi por UNANIMIDADE.
Por que, então, esse alarido unânime
da mídia sobre a suposta intenção do COPOM de aumentar a SELIC em abril? Se não
tem base nas conclusões objetivas do COPOM, é porque foi puramente
especulativo.
Nem se imagine que os jornalistas
participem intencionalmente do jogo de especulação do mercado. São induzidos a
isso pelo próprio modelo de cobertura.
Do ponto de vista dos supostos
efeitos objetivos da SELIC (reduzir a
demanda por crédito quando aumentada), no caso brasileiro é insignificante.
Repito: insignificante. Meio ponto ou
um ponto ou dois pontos de alta na taxa anual da SELIC é irrelevante para o custo
do crédito e, consequentemente, da demanda.
Em outros tempos, havia o efeito
câmbio. Mais a SELIC atraía mais capital internacional especulativo, apreciava
o câmbio e, por vias tortas e nefastas, atuava sobre os preços.
Esse jogo acabou. Tanto o Ministro
da Fazenda quanto o presidente do Banco Central afirmaram taxativamente que não
mais irão se valer do câmbio para combater a inflação.
O jogo da SELIC é puramente
psicológico. Ou seja, puramente de expectativas. Ou seja, puramente
especulativo.
Um grupo de cabeças de planilha fica
batendo diuturnamente na questão de que o BC abandonou a luta contra a inflação
porque se recusa a aumentar a SELIC.
Aí, o sujeito que define preços nas
grandes indústrias de consumo percebe uma elevação pontual dos alimentos - que nada tem a ver com a SELIC. Em
outros momentos, saberia que o movimento seguinte seria de assentamento de
preços.
Mas com a mídia repercutindo
diariamente as previsões furadas dos cabeções, salta o receio de que haverá
aumento generalizado de preços. Então, preventivamente, aumenta seus preços.
Isso aconteceu com gigantes como a
Nestlé, Gessy Lever e Procter Gamble neste início de ano, reajustando em quase
10% os preços nas negociações com os atacadistas.
O BC sabe que o movimento é
puramente especulativo, ou se deve a altas que nada têm a ver com a SELIC. Para
conter esse movimento, precisa reafirmar, a todo momento, que não abandonou a
luta contra a inflação.
Aí, faz um comunicado objetivo - manutenção da SELIC sem viés de alta -,
e, no mesmo comunicado, diz que continua atento aos movimentos da inflação. E a
cobertura unânime é de que ele vai aumentar a taxa em abril.
Ou seja, criou-se uma ficção
econômica - os efeitos da SELIC na
inflação -, e o país inteiro passou a depender de movimentos psicológicos,
ou seja, de pura especulação alimentada por expectativas geradas pela confraria
da SELIC.”
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