Javier Moro
Do “Sul 21”
ENTREVISTA COM JAVIER MORO: “O BRASIL, LÍDER DE LÍDERES”
Por Nubia Silveira
“Javier Moro, escritor espanhol de
sucesso, parece ter nascido viajando. De mãe francesa e pai espanhol, executivo
de uma empresa de aviação, Javier, desde jovem, andou pelo mundo, conhecendo
países da África, da Ásia e das Américas, além dos da Europa. Estudou na
Espanha e na França, diplomou-se em História e Antropologia. Aos 17 anos,
ganhou uma bolsa de estudos para viver, durante três meses, entre os esquimós,
em Igloolik, uma vila canadense próxima ao Polo Norte. O relatório dessa
experiência lhe valeu uma segunda bolsa: para
conhecer os Yanomamis, na Amazônia brasileira.
Moro iniciou a vida profissional
como pesquisador das obras de seu tio Dominique Lapierre e de Larry Collins,
ambos escritores. De pesquisador a escritor foi um pulo. Seus livros têm como
ponto de partida a realidade. Já contou a vida de dois brasileiros: Chico Mendes
(Caminhos de Liberdade)
e Dom Pedro I (O Império é
Você). Romanceou a vida de Sônia Gandhi, a italiana que se tornou
uma das principais políticas da Índia, em o “Sári Vermelho”, e da espanhola Anita
Delgado, que se tornou uma princesa indiana, em “Paixão Índia”. Sobre a
luta pela liberdade do Tibete, escreveu “As Montanhas de Buda”. No Brasil, seus
livros são editados pela “Planeta”.
Ao escrever sobre personagens reais,
Javier se expõe a críticas. Foi assim com “Paixão Índia”, “Sári Vermelho” e
o “Império é Você”.
Aos 58 anos, ele se mostra tranquilo. Não faz História, não é historiador.
Escreve romances sobre personagens que admira, como Chico Mendes e Dom Pedro I.
O Brasil, portanto, é seu velho conhecido. Já passou por aqui muitos anos.
Agora que os corpos da família imperial – Dom
Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia – foram exumados e examinados, ele
volta a falar, com humor, sobre sua última obra e o Brasil. A entrevista foi,
prontamente, concedida ao “Sul21”, por
e-mail. Para ele, o Brasil é “líder de líderes”.
Sul21 – Você tomou
conhecimento da exumação dos restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e
Dona Amélia? A seu ver, qual a importância desses estudos?
Javier Moro - Me pareceu fascinante ver
como a imperatriz Dona Amélia segue bonita, ainda que seja uma múmia. E que
linda múmia! A importância desses estudos é a de esclarecer, de uma vez por
todas, as meias verdades e os boatos que se sucederam ao longo da história. É
importante conhecer a História, porque ela nos ajuda a nos conhecermos melhor.
Conhecer o passado é fundamental para entender o Brasil de hoje. E quanto mais
exato for esse passado, melhor.
Sul21
– O que o levou a escrever sobre Dom Pedro I?
Javier Moro – Ele sempre me pareceu um personagem
fora do comum. Maior do que a sua própria vida. Um homem contraditório, com
grandeza. Um homem aberto e progressista, apesar de ter crescido em um meio
muito convencional.
Sul
21 – Você já havia escrito sobre outro brasileiro – Chico Mendes. Considera que
os dois – Dom Pedro e Chico -, cada um a seu tempo, são heróis brasileiros?
Quais os maiores legados de cada um deles?
Javier Moro – Dom Pedro I possibilitou que
o Brasil se mantivesse unido, e hoje essa unidade faz com que o Brasil seja uma
grande potência. Também lutou em Portugal pelo constitucionalismo. E,
definitivamente, pela liberdade de todos. Chico Mendes foi um pequeno grande
líder, que ajudou o mundo a tomar consciência da crise ecológica. Obviamente,
um não tem nada a ver com o outro, a não ser pelo fato de que suas vidas
tiveram uma projeção mundial, além das fronteiras do Brasil.
Sul
21 – Você costuma passar algum tempo – até anos – nos países em que se situam
suas histórias, como, por exemplo, no Brasil e na Índia. Em qual dos países em
que já esteve pesquisando para seus livros encontrou maiores dificuldades para
trabalhar? Por quê?
Javier Moro – Não encontrei dificuldades
por causa dos países. As dificuldades estão nos assuntos. Por exemplo, foi
muito difícil pesquisar sobre Sônia Gandhi porque ela era contra que eu
escrevesse o “Sári
Vermelho”. Quanto mais altos os personagens estão na escala de
poder, mais dificuldades se encontram. Os poderosos, geralmente, têm o que
esconder e não querem ver seus segredos revelados.
Sul21
- Ao concluir a leitura de “O
Império é Você” fica-se com a sensação de que, para o escritor,
não só Dom Pedro I, mas também Dona Leopoldina foi injustiçada pela História do
Brasil. Essa injustiça se deve a quê? À forma como Dom Pedro a tratou?
Javier Moro – Em vida, dona Leopoldina foi
tratada injustamente por determinada classe social dos portugueses no Brasil.
Mas, o povo sempre a considerou uma heroína. O povo também se compadeceu dela,
ao saber o quanto Pedro a tratava mal.
Sul
21 – Há alguma outra figura injustiçada pela História do Brasil?
Javier Moro – Não sou especialista em
História do Brasil para poder responder a essa pergunta. Não sou historiador.
Sou escritor. Todos os países têm personagens tratados injustamente pela
História. Nem a vida, nem a História são justas. O importante, porém, é que se
continue pesquisando, porque a História tem que ser algo vivo, sujeito a
constantes questionamentos.
Sul
21 - Qual dos atos de Dom Pedro I, como imperador, além da renúncia, a seu
ver, foi o mais marcante para a vida política brasileira?
Javier Moro – Por exemplo: negociar com os
militares insurgentes quando ainda não era imperador. Depois, sua negativa de
participar em golpes de estados anticonstitucionalistas.
Sul
21 - Qual ato de Dom Pedro I, como governante, deveria ser adotado, na
atualidade, pelas autoridades brasileiras? Para salvar a economia do país, por
exemplo, ele reduziu seu salário, reduziu os custos da casa imperial e até as
joias de Dona Leopoldina foram “provisoriamente depositadas nos cofres do Banco
do Brasil”. Nos dias de hoje ações como essas não soariam demagógicas?
Javier Moro – Ações como essas, e em
grande escala, são o que estamos sofrendo aqui na Europa. Uma política de
cortes para equilibrar o orçamento. O mesmo que Pedro se viu obrigado a
fazer quando seu pai voltou para Portugal, deixando vazios os cofres do estado
brasileiro. Não sei, no entanto, se é possível adotar essas medidas na
atualidade. Cada momento histórico tem seus próprios desafios e complicações.
Sul
21 - O que causou a destruição política de Dom Pedro I? Seu lado
mulherengo? Ou sua faceta autoritária?
Javier Moro – Acho que foi o fato de
que ele não se amoldava aos nacionalistas brasileiros. Pedro sempre esteve no
meio. Para os nacionalistas brasileiros, ele era demasiadamente português. Para
os portugueses, era ele que tinha feito a independência da colônia… Ele não
entrava em nenhum molde, porque era um espírito livre. Ele se sentia
brasileiro, mas também português. Seu coração não podia renunciar às suas duas
pátrias. Os extremistas de ambos os lados do Atlântico não admitiam isso.
Sul 21 - Você já acumulou
alguns anos pesquisando, trabalhando e visitando o Brasil. Como descreveria a
forma de atuação dos políticos brasileiros? Ela é uma herança do Império, com
suas futricas e interesses pessoais?
Javier Moro - Hoje, o Brasil
é líder de líderes, graças a Lula e, agora, a Dilma. Provavelmente, a
política brasileira é tão corrupta quanto a de muitos outros países,
porque a corrupção é um mal endêmico. No entanto, são notórios e exemplares os
esforços empreendidos por Dilma para combater a corrupção.
Sul
21 - Você, admirador e defensor de Dom Pedro I, admira algum político
brasileiro da atualidade? Qual e por quê?
Javier Moro - Admiro a Dilma. Por ser
uma mulher valente, honrada, simples e inteligente.
Sul
21 – Você está preparando um novo livro? Se está, sobre o que é?
Javier Moro – Segredo… ssshhh…”
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