Thomaz Ferreira Jensen*
Como acontece todo início de ano, desde 1987, a elite empresarial global
se reuniu na cidade de Davos, na Suíça, para seu convescote, que
denominam
Fórum Econômico Mundial. Além dos principais executivos das maiores corporações transnacionais, acorreram ao “conclave” presidentes e ministros de diversos países, em geral, aqueles cujos governos são
sustentados e dirigidos aos interesses destas corporações.
Aproveitando esta reunião, o Transnational Institute of Policy Studies (Instituto Transnacional de Estudos Políticos, TNI, na sigla em inglês),
divulgou estudo sobre o poder econômico global. O TNI é uma rede de
pesquisadores militantes criada em 1974 com o objetivo de realizar
análise crítica dos problemas globais atuais e futuros. Sua missão é contribuir
com apoio intelectual aos movimentos sociais que lutam por um mundo mais
democrático, igualitário e ambientalmente sustentável. A ampla série de informações públicas sistematizadas pelo TNI indica
que:
- das 10 maiores corporações globais, 7 atuam na exploração e
produção de
petróleo e gás;
- menos de 1% das corporações, sobretudo os bancos, controlam as
ações de
40% dos negócios mundiais;
- mais da metade dos principais bancos e indústrias de petróleo mantém
interconexões entre suas respectivas direções executivas;
- num ranking listando os países segundo o tamanho de suas economias,
medido pelo PIB (Produto Interno Bruto), encontramos, entre as 100
maiores
economias do mundo, 40 corporações privadas
- apenas 0,001% da população mundial (cerca de 100 mil pessoas) detêm
patrimônio de 14,6 trilhões de dólares, mais de 20% do PIB mundial
- nos EUA, apenas 400 indivíduos detêm riqueza equivalente à de 50% da
população do país.
Para ver o relatório completo, em espanhol, acesse:
http://www.tni.org/es/report/estado-del-poder-2013
Refletindo sobre estes dados, a escritora Susan George, que integra o
TNI,
afirmou: “A natureza interconectada das corporações mais poderosas do
mundo, indivíduos intercambiáveis com interesses e objetivos comuns,
revela uma verdadeira classe social internacional, nômade, a qual eu
chamo
‘a classe de Davos’. Seus membros não fazem parte de nenhuma
conspiração e
seu modus operandi pode ser facilmente observado e identificado”. Estudos como esse ajudam a entender, muito concretamente, do que se
trata
o capital financeiro e como atua para concentrar empresas e poder econômico em pouquíssimas famílias e corporações, que adquirem tamanho e
força muito maior do que a imensa maioria dos Estados Nacionais.
A forma contemporânea do capitalismo está calcada na grande empresa, nos bancos e na predominância do cálculo financeiro sobre a estratégia
produtiva. Resultado de longo processo que remonta ao século XIX, quando a Inglaterra dominava o comércio e a indústria em nível global, o capitalismo atual recebeu impulso definitivo a partir das modificações
ocorridas na economia dos EUA na virada para o século XX. O surgimento e o desenvolvimento da grande corporação estadunidense se constituem no
embrião nacional do desdobramento transnacional do grande capital. É o
papel desempenhado pelo capital financeiro que explica tanto o
surgimento
da grande empresa como o caráter de sua hegemonia presente. As mudanças técnicas e administrativas profundas operadas no interior
desta organização industrial acompanharam a emergência de uma “classe
financeira”, constituída pelos grandes bancos, da qual passam a depender as estratégias empresariais.
O que distingue essa forma de capital
financeiro das que a precederam historicamente é o caráter universal e
permanente dos processos especulativos e de criação de capital fictício. Como o conjunto da economia capitalista só pode avançar com o
alargamento
do crédito, cabe aos bancos desempenhar papel crucial no
financiamento das
grandes corporações. À medida que o crédito vai se tornando a força
vital
dos negócios, a classe que detém o controle sobre sua destinação se vai
tornando cada vez mais poderosa, tomando sob a forma de lucro financeiro
uma proporção cada vez maior do produto da indústria. Desta forma, o
sistema financeiro e de crédito é a pedra angular da economia
capitalista porque:
a) adianta recursos para sancionar a aposta do empresário que
resolveu gastar – colocando o seu estoque de capital em operação e
contratando trabalhadores;
b) promove diariamente a avaliação e a negociação dos títulos de propriedade e de dívida que geram renda a seus
detentores.
Os Estados Nacionais debilitados estruturalmente pela dependência do capital externo – caso do Brasil – devem repudiar os falsos profetas que
cantam as proezas do capitalismo sem regulamentação pública. No
cassino em
que se transformou o sistema capitalista globalizado, cabe precisamente aos Estados Nacionais alicerçarem sobre rocha firme suas expectativas de
desenvolvimento econômico e social. Tem sido grande a ruína das
economias erigidas sobre a areia movediça do capital fictício. Esmorecem aos
primeiros ventos das crises financeiras da globalização.
Susan George conclui sua análise afirmando que “nossa tarefa, a dos
99% da
população mundial, consiste em construir uma grande coalizão com
todas as pessoas que desejam lutar por seu futuro e também por uma sociedade mais
justa, um mundo melhor, um planeta mais saudável”.
*Economista e técnico do DIEESE.
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