segunda-feira, 25 de março de 2013

Mais de 350 trabalhadoras participam do 14º Encontro Estadual da Mulher da Fetiesc

Enviado pelo jornalista Sérgio Homrich

"Violência contra a Mulher" foi o tema do Encontro, realizado domingo (dia 24), na Fetiesc

Itapema – Mulheres trabalhadoras de todo o Estado se reuniram domingo (dia 24 de março) no Centro de Educação Sindical da Fetiesc (Federação dos Trabalhadores de Santa Catarina), em Meia Praia, para um debate sobre o grave problema da violência doméstica, que vem crescendo de forma assustadora em todos os municípios. Mais de 350 mulheres participaram do 14° Encontro Estadual da Mulher Trabalhadora, promovido pelas secretarias da Mulher e da Juventude da Fetiesc.
O Grupo Teatral Biriba fez uma apresentação divertida no início do evento, seguida das participações da delegada da Polícia Civil, Fedra Luciana Konell, da psicóloga Alessandra Rodrigues de Mello, da escrivã da Delegacia da Mulher de Jaraguá do Sul, Marci Deretti e da advogada do Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de Timbó, Dilma Marquetti. De acordo com a secretária da Mulher da Fetiesc, Elfi Hiller, a escolha do tema foi motivada pelo elevado número de casos de agressão e todo o tipo de humilhações sofridas pelas mulheres em Santa Catarina, tanto em casa como no ambiente de trabalho.
É preciso reagir
Foi consenso entre as participantes que a única maneira de combater a violência doméstica é denunciar o agressor, mesmo que o mesmo seja o pai dos seus filhos. Na avaliação das debatedoras, o agressor conta com o medo da vítima e com a impunidade gerada pela omissão. A delegada Fedra Luciana Konell mostrou coragem ao admitir já ter sofrido agressão do ex-marido e mais coragem ainda ao denunciá-lo, isso em uma época anterior à Lei Maria da Penha. “Só quem pode mudar a história é a própria mulher agredida”, alertou a delegada, afirmando ainda que, entre o público presente ao Encontro, certamente havia muitas vítimas de agressão doméstica. “É preciso dar um basta”, reforçou Fedra, salientando que a mudança pode começar com a educação que damos aos nossos filhos e filhas.
Feridas da alma
Na avaliação da psicóloga Alessandra Rodrigues de Mello as marcas deixadas pela agressão não são apenas físicas, mas permanecem para sempre na alma das mulheres. De acordo com ela, são muitas as seqüelas da violência doméstica, especialmente no aspecto psicológico. “As vítimas sofrem com angústias, mágoas, ressentimentos, baixa autoestima e esses males atingem a família toda”, avisa a psicóloga. Segundo ela, não é apenas a violência física que deixa marcas, e cita a violência psicológica, moral e patrimonial como causadoras de grandes males físicos e emocionais.
Coragem para denunciar
A advogada Dilma Marquetti atende todas as quartas-feiras no Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de Timbó. Segundo ela, a busca de informações por parte das mulheres sobre os direitos em caso de agressão começou a aparecer há alguns anos e tem aumentado a cada ano que passa. “Elas nos procuram antes mesmo de irem à delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência”, revela a advogada. Entre as causas da agressão, as vítimas apontam o alcoolismo como o mais freqüente. “O alcoolismo é muito grande na região”, revela a advogada.
Informação e Prevenção
A escrivã Marci Deretti convive com a violência todos os dias na Delegacia de Proteção à Mulher de Jaraguá do Sul. Na avaliação de Marci, a violência doméstica é uma doença que ataca toda a família e se perpetua de geração em geração. “Já temos filhos de agressores agredindo também, o que prova que a agressão é um mal que afeta toda a família”, insiste. A informação e a prevenção, ainda de acordo com Marci, são os caminhos que devem ser trilhados para libertar as mulheres e lembrou que os tipos de violência são os mais variados, desde queimar com ferro de passar roupa a arrancar os cabelos, sem contar as ameaças. “São relacionamentos doentios que devem ser analisados como tal. Temos que achar um caminho para o conflito familiar que está destruindo não apenas uma geração, mas as gerações futuras”, avisa. Marci Deretti lembra que a Lei Maria da Penha está aí para ser usada e que todas as mulheres devem estar cientes de que não estão sozinhas, mas amparadas pela Lei. Em Jaraguá do Sul,em apenas um ano, foram lavrados 2 mil boletins de ocorrência, sendo 30% de ameaças e 70% de agressões com lesão.
Defesa pessoal
Cansada de apanhar do ex-marido a costureira de Timbó, R., teve a coragem de reagir. Entrou em uma academia de Karatê e não deixou por menos. “Eu apanhei, mas também bati”, afirmou a trabalhadora, que atualmente é casada com outro companheiro, que lhe tem respeito e amor. “Não acreditava mais em homem, mas, felizmente, nem todos são iguais”, concluiu. Ela aconselha às mulheres que apanham do marido a reagirem. “Eles batem quando sentem que a mulher tem medo”.
Situação no Estado
O Estado de Santa Catarina ainda não possui Defensoria Pública, o que dificulta o acesso das mulheres pobres a um advogado. O Estado também foi o último a assinar o Pacto de Enfrentamento à Violência Doméstica, que deve criar políticas públicas de combate e prevenção à violência. Dos quase 300 municípios catarinenses, apenas 24 têm Delegacia da Mulher e nenhuma delas é especializada, ou seja, não atendem apenas mulheres, mas idosos, crianças e adolescentes e não abrem nos finais de semana. São apenas seis casas abrigos.
O orçamento para assistência é praticamente zero e não temos políticas públicas voltadas ao enfrentamento do problema da violência doméstica. A rede protetiva, prevista na Lei Maria da Penha, que tem sete anos de existência, não existe e as pessoas envolvidas em trabalhar com o problema são obrigadas a buscar soluções por conta própria. Estas foram as avaliações das participantes do 14° Encontro Estadual da Mulher. Recentemente, o governo federal anunciou a liberação de R$ 100 milhões para o combate à violência doméstica e a construção de 27 casas da mulher brasileira, em todo o País.

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