Enviado pelo jornalista Sérgio Homrich
"Violência contra a
Mulher" foi o tema do Encontro, realizado domingo (dia
24), na Fetiesc
Itapema – Mulheres trabalhadoras de todo o Estado se reuniram
domingo (dia 24 de março) no Centro de Educação Sindical da Fetiesc (Federação
dos Trabalhadores de Santa Catarina), em Meia Praia, para um debate sobre o
grave problema da violência doméstica, que vem crescendo de forma assustadora em
todos os municípios. Mais de 350 mulheres participaram do 14° Encontro Estadual
da Mulher Trabalhadora, promovido pelas secretarias da Mulher e da Juventude da
Fetiesc.
O Grupo Teatral Biriba fez
uma apresentação divertida no início do evento, seguida das participações da
delegada da Polícia Civil, Fedra Luciana Konell, da psicóloga Alessandra
Rodrigues de Mello, da escrivã da Delegacia da Mulher de Jaraguá do Sul, Marci
Deretti e da advogada do Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de Timbó,
Dilma Marquetti. De acordo com a secretária da Mulher da Fetiesc, Elfi Hiller, a
escolha do tema foi motivada pelo elevado número de casos de agressão e todo o
tipo de humilhações sofridas pelas mulheres em Santa Catarina, tanto em casa
como no ambiente de trabalho.
É preciso
reagir
Foi consenso entre as
participantes que a única maneira de combater a violência doméstica é denunciar
o agressor, mesmo que o mesmo seja o pai dos seus filhos. Na avaliação das
debatedoras, o agressor conta com o medo da vítima e com a impunidade gerada
pela omissão. A delegada Fedra Luciana Konell mostrou coragem ao admitir já ter
sofrido agressão do ex-marido e mais coragem ainda ao denunciá-lo, isso em uma
época anterior à Lei Maria da Penha. “Só quem pode mudar a história é a própria
mulher agredida”, alertou a delegada, afirmando ainda que, entre o público
presente ao Encontro, certamente havia muitas vítimas de agressão doméstica. “É
preciso dar um basta”, reforçou Fedra, salientando que a mudança pode começar
com a educação que damos aos nossos filhos e filhas.
Feridas da
alma
Na avaliação da psicóloga
Alessandra Rodrigues de Mello as marcas deixadas pela agressão não são apenas
físicas, mas permanecem para sempre na alma das mulheres. De acordo com ela, são
muitas as seqüelas da violência doméstica, especialmente no aspecto psicológico.
“As vítimas sofrem com angústias, mágoas, ressentimentos, baixa autoestima e
esses males atingem a família toda”, avisa a psicóloga. Segundo ela, não é
apenas a violência física que deixa marcas, e cita a violência psicológica,
moral e patrimonial como causadoras de grandes males físicos e
emocionais.
Coragem para
denunciar
A advogada Dilma Marquetti
atende todas as quartas-feiras no Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de
Timbó. Segundo ela, a busca de informações por parte das mulheres sobre os
direitos em caso de agressão começou a aparecer há alguns anos e tem aumentado a
cada ano que passa. “Elas nos procuram antes mesmo de irem à delegacia para
fazer o Boletim de Ocorrência”, revela a advogada. Entre as causas da agressão,
as vítimas apontam o alcoolismo como o mais freqüente. “O alcoolismo é muito
grande na região”, revela a advogada.
Informação e
Prevenção
A escrivã Marci Deretti
convive com a violência todos os dias na Delegacia de Proteção à Mulher de
Jaraguá do Sul. Na avaliação de Marci, a violência doméstica é uma doença que
ataca toda a família e se perpetua de geração em geração. “Já temos filhos de
agressores agredindo também, o que prova que a agressão é um mal que afeta toda
a família”, insiste. A informação e a prevenção, ainda de acordo com Marci, são
os caminhos que devem ser trilhados para libertar as mulheres e lembrou que os
tipos de violência são os mais variados, desde queimar com ferro de passar roupa
a arrancar os cabelos, sem contar as ameaças. “São relacionamentos doentios que
devem ser analisados como tal. Temos que achar um caminho para o conflito
familiar que está destruindo não apenas uma geração, mas as gerações futuras”,
avisa. Marci Deretti lembra que a Lei Maria da Penha está aí para ser usada e
que todas as mulheres devem estar cientes de que não estão sozinhas, mas
amparadas pela Lei. Em Jaraguá do Sul,em apenas um ano, foram lavrados 2 mil
boletins de ocorrência, sendo 30% de ameaças e 70% de agressões com
lesão.
Defesa
pessoal
Cansada de apanhar do
ex-marido a costureira de Timbó, R., teve a coragem de reagir. Entrou em uma
academia de Karatê e não deixou por menos. “Eu apanhei, mas também bati”,
afirmou a trabalhadora, que atualmente é casada com outro companheiro, que lhe
tem respeito e amor. “Não acreditava mais em homem, mas, felizmente, nem todos
são iguais”, concluiu. Ela aconselha às mulheres que apanham do marido a
reagirem. “Eles batem quando sentem que a mulher tem
medo”.
Situação no
Estado
O Estado de Santa Catarina
ainda não possui Defensoria Pública, o que dificulta o acesso das mulheres
pobres a um advogado. O Estado também foi o último a assinar o Pacto de
Enfrentamento à Violência Doméstica, que deve criar políticas públicas de
combate e prevenção à violência. Dos quase 300 municípios catarinenses, apenas
24 têm Delegacia da Mulher e nenhuma delas é especializada, ou seja, não atendem
apenas mulheres, mas idosos, crianças e adolescentes e não abrem nos finais de
semana. São apenas seis casas abrigos.
O orçamento para
assistência é praticamente zero e não temos políticas públicas voltadas ao
enfrentamento do problema da violência doméstica. A rede protetiva, prevista na
Lei Maria da Penha, que tem sete anos de existência, não existe e as pessoas
envolvidas em trabalhar com o problema são obrigadas a buscar soluções por conta
própria. Estas foram as avaliações das participantes do 14° Encontro Estadual da
Mulher. Recentemente, o governo federal anunciou a liberação de R$ 100 milhões
para o combate à violência doméstica e a construção de 27 casas da mulher
brasileira, em todo o País.
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