quinta-feira, 28 de março de 2013

'Não há direção política na União Europeia’, diz economista português

Internacional

28/03/2013


Francisco Louçã, um dos economistas que mais influenciam o Bloco de Esquerda de Portugal, critica o plano da troika de impor taxas sobre os depósitos bancários daquele país, afirmando que, se a UE queria combater a evasão fiscal, deveria taxar a entrada de capitais e o controlar dos seus movimentos, inclusive de offshores britânicas.
Data: 24/03/2013
Lisboa – No programa "Tabu" de sexta-feira (22) na SIC Notícias, Francisco Louçã, economista e político português ligado ao Bloco de Esquerda, referiu-se em termos muito duros à atuação das autoridades europeias na crise do Chipre, e notadamente em relação ao plano de impor uma taxa sobre os depósitos bancários do país. Esta solução foi rejeitada pelo parlamento cipriota, mas volta a estar na ordem do dia nas negociações que estão a ser levadas a cabo neste início de semana.

Louçã recorda que "a decisão foi tomada numa maratona noturna de uma reunião do Eurogrupo, que decide por unanimidade, com consulta ao FMI e ao Banco Central Europeu". Mas, no dia seguinte, ninguém queria assumir a responsabilidade por ela. "O ministro das Finanças alemão diz que foi o BCE. O BCE diz que foi a Comissão Europeia. A Comissão Europeia fez um texto escrito dizendo que tinha sido o governo de Chipre, que diz que foi obrigado a encaminhar tudo", criticou o economista. Para ele, isso "dá uma ideia de inconsistência e a percepção de que tinham feito um disparate gravíssimo do ponto de vista sistémico sobre a Europa, para que imediatamente o castelo de cartas caia".

Para Louçã, o episódio demonstrou que "não há direção política na União Europeia". Recordando que a justificativa para tal plano era de que "os russos tinham lá muito dinheiro de lavagem ou evasão fiscal", Louçã foi enfático: "Entendamo-nos bem: se a Europa quisesse controlar a evasão para paraísos fiscais como o Chipre, então impusesse uma taxação sobre a entrada de capitais e o controle dos seus movimentos. Mas tinha que o fazer em relação aos offshores britânicos também, que são muito mais importantes do que Chipre. Ou os offshores de outros Estados europeus, incluindo Portugal".

Para Francisco Louçã, "a estupidez desta decisão é tão grave, de gente que não é capaz de imaginar as consequências gravíssimas de desagregação da União Europeia, quando ao mesmo tempo estão a pedir enorme poder para si - o poder orçamentário, o poder federal, o poder de decisão política, um governo europeu".

E concluiu: "Não são capazes de liderar a solução econômica para um país que representa 0,2% do PIB europeu, como é que se atrevem a dizer que têm uma solução para a Europa? Não têm, e portanto todos os efeitos de consequência e de desânimo e de desconfiança vão atingir as taxas de juros, as economias europeias e a credibilidade da União Europeia".

Publicado no Esquerda.net

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