José Álvaro de Lima Cardoso*
Falar mal
do Brasil virou esporte predileto de muitos no Brasil e no mundo. A mídia internacional
fala mal do Brasil e tudo que venha dele, nunca se criticou tanto o país nas
redes sociais quanto agora. Alguns brasileiros, considerados “celebridades”,
com amplo espaço na mídia mundial, desancam o país à vontade. Na mídia mundial,
principalmente em alguns países europeus, há uma verdadeira campanha contra o
Brasil. Preferido da grande imprensa mundial e dos investidores, há alguns anos
atrás, o Brasil passou à condição de país em que nada funciona,
tudo é ruim e precário, campeão da corrupção e da violência, sem nenhuma preocupação
pelo meio-ambiente e com os pobres. O que se lê nas abordagens, muitas vezes, é
um amontado de bobagens, de desinformação, de grosseria e desprezo. Conforme
alguém já falou, a opinião pública foi sequestrada por uma espécie de
“denuncismo conservador”.
Os exemplos são inúmeros, mas pode-se ilustrar com o tratamento dado à
Copa do Mundo, dentro e fora do país. É acontecimento desejado, raro e
histórico, perseguido por todos os países. Estudos internacionais
indicam que eventos da magnitude da Copa do Mundo proporcionam ganhos enormes,
como o aumento da autoestima da população e da imagem do país no exterior, o
que pode representar, nos anos seguintes à realização, grande aumento do afluxo
de turistas, maior atração de investimentos estrangeiros e expansão da
visibilidade internacional. Ao invés de destacar o óbvio, os críticos transformaram
esta conquista histórica do Brasil num acontecimento negativo e pernicioso para
o país.
Não
se trata de querer impedir críticas ao país e/ou governos, que são inerentes à
democracia. Mas, no sistema democrático, um princípio elementar é o direito ao
contraditório na veiculação da notícia. Este processo de ataques sistemáticos
ao Brasil, vindo de vários setores, levou claramente, a um distanciamento entre os
indicadores econômicos e sociais objetivos, e a percepção da sociedade. Nunca
se criticou tanto o Brasil e sua economia, o que é surpreendente, num momento
em que os indicadores, possivelmente, sejam os melhores da história. Este
distanciamento, que não é casual, é gravíssimo, na medida em que pode induzir
os diferentes atores sociais a estratégias equivocadas, por estarem baseadas em
informações erradas.
O
pessimismo dominante em alguns meios não encontra guarida nas informações econômicas
objetivas. Por exemplo, se, de fato, a taxa média de crescimento do PIB dos últimos
anos (2%), realmente é baixa, a informação deve ser contextualizada. Porque a
maior crise do capitalismo nos últimos 80 anos pouparia o
crescimento da sétima economia do mundo? O resultado do PIB de 2013 (2,3%),
foi baixo, mas ficou acima das expectativas da maioria dos analistas e, no G-20,
foi o 9º maior crescimento, superior aos EUA (1,9%), Zona do Euro (-0,4%),
Japão (1,6%), Alemanha (0,4%),Rússia (1,3%), e México (o atual “país modelo”
dos investidores, 1,1%). Além disso, 2%
a 3% de crescimento de PIB ao ano é razoável se você tem a menor taxa de
desemprego da história e se a renda das famílias está aumentando.
Será que
vai tão mal assim uma economia em que o consumo das famílias sobe,
ininterruptamente, durante 120 meses seguidos, como constatou o IBGE nos dados
das contas nacionais de 2013? Este
processo explica, inclusive, a pressão sobre a inflação, ou seja, em parte, a
pressão inflacionária decorre uma virtude da política econômica brasileira: a
mudança da estrutura de distribuição de renda e a inclusão de milhões de
brasileiros, nos últimos anos, no processo de consumo.
Em 2013, só um país cresceu mais a
agricultura que o Brasil no G-20: os EUA (16,4%). A agricultura brasileira
cresceu 7%. Vários países, inclusive, viram a sua agricultura decrescer como
Coréia do Sul, Alemanha, França, Rússia e o Reino Unido (-4,1). Já pensou se Brasil
a agricultura tivesse retraído em 2013 como ocorreu nos países mencionados? O
mundo viria abaixo. Enquanto
o mundo se desmancha no desemprego (a Europa tem 26 milhões de desempregados),
entre 2008 e 2013, o Brasil gerou 11 milhões de empregos formais, reduzindo a
taxa de desemprego e aumentando fortemente a formalização. Pela medição do IBGE
a taxa de desemprego em abril caiu para 4,9%, o menor índice da série histórica
para esta época do ano. A
média salarial do país, embora ainda seja baixa, chegou a dois salários
mínimos, o que significou uma expressiva mudança na inserção social e econômica
de milhões de pessoas.
Dentre outras razões, é este
crescimento do emprego que tem possibilitado a redução da pobreza no país.
Entre 2003 e 2012, enquanto o PIB do país cresceu 40%, a renda dos 10% mais pobres
aumentou 206% graças às políticas sociais desenvolvidas. O PIB cresce a 2% mas
se isso melhora a vida do povo, é o mais importante. Em boa parte tem
contribuído para isso o salário mínimo, que nos últimos 10 anos teve ganho
real acima de 70%. Isso não significa nada pra quem ganha 10 salários mínimos,
mas é espetacular para quem está na base da pirâmide social.
Por que essa tão grande
diferença entre a percepção da população e os dados objetivos da economia? Do
ponto de vista mais imediato há muita desinformação e superficialidade. Mas o
processo eleitoral brasileiro é de grande interesse no mundo, não só aqui
dentro do país. Além disso, o ataque
sistemático que a Petrobras vem sofrendo, por exemplo, não decorre apenas da
disputa eleitoral deste ano, mas tem também um aspecto de disputa comercial
muito grave, onde simplesmente o inimigo são as gigantes internacionais do
petróleo. De certa forma, os ataques contra o Brasil vindos da mídia
internacional, e dos analistas localizados nos países dominantes e no interior
do país, são uma espécie de recado velado: “ponha-se no seu lugar de país
periférico e dependente”.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa
Catarina.
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