Entrevistas
Terça, 25
de setembro de 2012
“Não
entendo
como o
conhecimento científico possa
ser colocado antes a serviço
das justificativas
do que de críticas aos argumentos das empresas”, lamenta
o engenheiro agrônomo.
Confira
a entrevista.
A soja transgênica Intacta
RR2 Pro, que
causou
polêmica
entre
os produtores
do Mato
Grosso,
incorpora
um novo
trangene
e resiste
“a banhos
de herbicidas
à base
de glifosato,
como também
carrega,
em todas
suas
células,
uma toxina
que não
está
presente
na soja
convencional”, diz
o engenheiro agrônomo, Leonardo Melgarejo, à IHU
On- Line em
entrevista
concedida por e-mail.
Para
ele,
a crítica
dos produtores
à Monsanto, por
comercializar o produto
antes
da aprovação do mercado
chinês,
é “coerente”. “Os
produtores
se preocupam
com a contaminação das
cargas
destinadas
à exportação, que
poderiam
ser rejeitadas
pelo maior
mercado
consumidor da soja
brasileira. As
implicações
seriam
enormes, pois,
uma vez
liberado
o plantio,
a contaminação seria
inevitável”, salienta.
De acordo
com Melgarejo, a Intacta
RR2 Pro
promete
reduzir
o uso
de inseticidas
e combater
lagartas
que “prejudicam”
a produção. Entretanto, esclarece, “o
que costuma
ocorrer
é que os
insetos-alvo terminam
adquirindo resistência, e,
mesmo
antes
disso, outros
insetos
que eram
pragas
secundárias crescem
em importância, exigindo
tratamentos químicos
que antes
não eram
realizados”. Representante do Ministério
do Desenvolvimento Agrário
– MDA
na CTNBio, o agrônomo ressalta
que “não
há sequer
um acompanhamento” de plantio
transgênico e não
transgênico. “Dispomos apenas
de estimativas com
base na
comercialização de sementes, que
ocultam
dados relativos
ao contrabando e ao
uso de
sementes
próprias”.
E dispara:
“Ademais, o milho
e a soja
entram
em praticamente todas
as cadeias
de alimentos
processados. A
única maneira
de assegurar ausência ou pelo
menos
redução
no consumo de
transgênicos, isso
na alimentação de qualquer
família,
reside
na aproximação com
redes
de produtores
orgânicos”.
Leonardo Melgarejo é engenheiro agrônomo, mestre
em Economia Rural,
e doutor
em Engenharia de Produção pela
Universidade de Santa
Catarina
– UFSC.
É membro
do Instituto
Nacional
de Colonização e Reforma
Agrária
– Incra,
no Rio
Grande
do Sul.
Confira
a entrevista.
IHU On-Line – Quais as características da
soja transgênica Intacta
RR2 Pro?
O que a diferencia das demais variedades transgênicas?
Leonardo Melgarejo – Ela
incorpora
um novo
transgene,
que gera
toxinas
que matam
lagartas.
Esta
produção de toxinas
(tecnologia BT)
se soma
à tolerância ao
glifosato
(tecnologia HT),
característica apresentada pela
soja RR.
Isso significa
que a soja
RR2 não
apenas
resiste
a banhos
de herbicidas
à base
de glifosato, como
também
carrega,
em todas
suas
células,
uma toxina
que não
está
presente
na soja
convencional.
IHU On-Line – Recentemente a Associação dos Produtores de Soja
e Milho
de Mato
Grosso
(Aprosoja-MT) criticou
a Monsanto por
comercializar
sua nova
variedade transgênica de soja,
a Intacta
RR2 Pro,
antes da
liberação para
importação pela
China.
Como vê essa
crítica?
Leonardo Melgarejo – Trata-se de
posição
coerente
com os riscos
de mercado. Os
produtores
se preocupam
com a contaminação das
cargas
destinadas
à exportação, que
poderiam
ser rejeitadas
pelo maior
mercado
consumidor da soja
brasileira. As
implicações seriam
enormes, pois,
uma vez
liberado
o plantio,
a contaminação seria
inevitável. A utilização das
mesmas
máquinas
para colheita,
secagem
e transporte
fatalmente misturaria os grãos
levando
à sua
recusa
em alguns
dos portos
de chegada. Isso
seria
especialmente
grave
no caso
do mercado
chinês.
A China,
que é o
principal
comprador
da soja
brasileira,
ainda não
se posicionou
quanto
à proteína
tóxica
Cry1Ac, presente
nesta
soja,
e até
o momento não
demonstra interesse
em adquirir
a soja
RR2. Portanto, ela
não seria
aceita.
Temos
precedentes de
devolução de produtos
contaminados pelo
mercado
chinês,
portanto
seria
temerário correr
riscos
em situação
de tamanha
relevância.
Por este
motivo,
os agricultores pressionaram
a Monsanto, que
informou
desistir
da venda
de sementes
enquanto a soja
RR2 apresentar
este
quadro
de rejeição
pelo mercado
chinês.
As preocupações dos agricultores são
mais
do que fundamentadas, porque
os impactos
socioeconômicos, no
caso de
comprometimento daquele
mercado, seriam
enormes.
Aliás, já
aconteceu
fato
semelhante com
o arroz LL,
tolerante
ao herbicida
glufosinato de amônio.
Quando
ele estava
prestes
a ser
aprovado pela
CTNBio, as
principais
organizações dos orizicultores pressionaram
a Bayer em
função
de riscos
de mercado. Como
a contaminação seria
inevitável
e os consumidores europeus
rejeitariam
o produto,
perderíamos alternativas para
escoamento de safras.
Naquela
ocasião,
a Bayer
cedeu e solicitou
que o processo
fosse retirado
da pauta
das reuniões
da Comissão Técnica
Nacional
de Biossegurança –
CTNBio, antes
de qualquer
deliberação.
No caso
da soja
RR2, a
Monsanto preferiu
obter a
aprovação da CTNBio, multiplicar
as sementes, e agora
se vê
instada
a atender
os reclamos
dos agricultores brasileiros. Terá
que destruir
ou exportar
as sementes, talvez
para algum
país onde
a classe
produtora
se mostre
mais
afoita.
Chama atenção
o fato
de que nestes
dois casos
foram
as empresas
que decidiram
se atenderiam
ou não aos
imperativos de ordem
socioeconômica associados
à produção e comercialização dos organismos
geneticamente modificados. Infelizmente, a CTNBio não
leva
em conta
estes
aspectos
em suas
decisões.
Embora
se trate
de assunto
relativo à soberania
nacional, os riscos
de prejuízos
de curto
e médio
prazo,
decorrentes do comprometimento de mercados, têm
ficado
nas mãos
das empresas. No
Brasil,
as avaliações
de impactos
socioeconômicos deveriam
ser realizadas
pelo Conselho Nacional
de Biossegurança – CNBS,
conselho de ministros
responsável
por decidir
sobre a
conveniência e oportunidade de liberar
comercialmente organismos geneticamente modificados, após
parecer
da CTNBio, que
focaliza
apenas
questões
de biorrisco. Infelizmente, o CNBS
não tem
se reunido
e não
existem
avaliações
fundamentadas
que
examinem
as implicações socioeconômicas do plantio
de transgênicos aprovados
pela CTNBio.
IHU On-Line – Desde quando
e por que essa
nova variedade transgênica foi
aceita
no Brasil?
Leonardo Melgarejo – Os interesses
se associam
aos pacotes
tecnológicos desenvolvidos pelas
empresas,
que
detêm
os mercados
de sementes
transgênicas e dos
agrotóxicos a elas
associados. No
caso desta
soja, a
novidade
se resume
a uma
promessa
de redução
no uso
de inseticidas
para combate
a algumas
lagartas.
Entretanto, o que
costuma
ocorrer
é que os
insetos-alvo terminam
adquirindo resistência, e,
mesmo
antes
disso, outros
insetos
que eram
pragas
secundárias crescem
em importância, exigindo
tratamentos químicos
que antes
não eram
realizados. A aprovação desta
soja ocorreu
em agosto
de 2010, conforme
pode ser
verificado no
parecer
técnico
2542/2010 da CTNBio. A aprovação ocorreu
contrariando opiniões
dos representantes do Ministério da Saúde,
do Ministério do
Meio Ambiente e
do Ministério do
Desenvolvimento Agrário. Também
votaram
contra
representantes da Agricultura Familiar
e dos Consumidores. Portanto, resta
interpretar
que esta
soja foi
liberada
porque atendia
às expectativas e opiniões
da maior
parte
dos membros
da CTNBio, em
que pese
a resistência de ministérios e outros
representantes especificamente preocupados com
a saúde
humana
e ambiental. Agora
se revela
que os interesses
socioeconômicos, desconsiderados naquela
votação
da CTNBio, não
apenas
se mostram
ameaçados como
justificam
esta reação
de parte
dos produtores.
IHU On-Line – Como
os países que importam
soja do
Brasil
se posicionam
diante da
produção
transgênica brasileira?
Leonardo Melgarejo – O Brasil
perdeu seu
momento na
história
quando
aceitou
o fato
consumado da contaminação de nossas
safras,
e agravou
nossa dependência das
grandes
sementeiras transnacionais
quando, posteriormente, optou
por políticas
agrícolas
que apoiam
– com recursos
públicos
– a pesquisa
e a
produção da soja,
do milho
e do algodão
transgênicos. Não
ganhamos
em produtividade; estes
produtos
não são
desenhados para
isso. No
máximo
eles
reduzem
as perdas
sob ataque
pesado
de insetos
controlados
pelas toxinas,
no caso
das tecnologias HT.
Não reduzimos
problemas
ambientais. Tornamo-nos os maiores
consumidores globais
de agrotóxicos. Mas
seguramente perdemos
a condição de ditar
preços no
mercado
internacional, circunstância que
ocorreria
caso dispuséssemos de safras
não transgênicas.
IHU On-Line – O
que justifica
a ampliação de transgênicos no
Brasil?
Por que,
diferentemente de
outros países do
mundo, o
Brasil
aceita
a transgenia com
facilidade?
Leonardo Melgarejo – No Brasil,
como na
Índia,
existem
dois movimentos. De
um lado,
temos
o desaparecimento de sementes
não transgênicas. As
grandes
empresas
compram
as pequenas, e as
sementes
tradicionais somem
dos mercados. Os
vendedores recebem
comissões
por volume
vendido
e, como
as sementes
transgênicas custam
mais
caro, isso
estimula
o interesse
pessoal
dos balconistas.
Além disso,
é fato
que os agricultores que
trabalham
em grande
escala
percebem
facilidades no
uso de
tecnologias que
uniformizam
os tratos
culturais. A agricultura se
torna
menos
complexa
quando
se utiliza
um mesmo tipo
de herbicida em toda
a área
cultivada, sem
preocupações com
riscos
de queimar
a cultura
principal. Da
mesma
forma,
a ideia
de que as
plantas
carregam
dentro
de si um
inseticida
é muito
atraente.
Supostamente existirão
reduções
na aplicação de agroquímicos, haverá
proteção
ambiental, e os
consumidores não
serão
afetados.
Estudos
Infelizmente, essas
suposições não
são confirmadas. De
um lado,
os estudos
são insuficientes, muitas
vezes
não se
sustentam
sequer
nos próprios
dados. A
maior
parte
dos documentos apresentados para
a CTNBio
foi elaborada
pelas
empresas, provém
de seus
relatórios
técnicos, internos,
não publicados. Portanto, não
existem
avaliações
independentes, o que
permite
dúvidas
quanto
aos resultados, posto
que só
são conhecidos
aqueles
que reforçam
os interesses
comerciais dos proponentes destas
tecnologias. Além
disso, praticamente inexistem
estudos
de longo
prazo
e, mais
grave
ainda,
os estudos
de toxicologia e de
nutrição
animal
são realizados
com base
em grãos
sobre os
quais
não foram
aplicados
os agrotóxicos que
deram razão
de existir
àquelas
sementes
transgênicas. Em
outras
palavras, os testes
nutricionais realizados
com a soja
RR, com
a soja
RR2 e com
todos os demais
organismos geneticamente modificados, criados
para sobreviver
a banhos
de glifosato, foram
realizados
na ausência
do glifosato. Isso,
que jamais
ocorre em
lavouras
e que,
portanto, não
acontece
com os grãos
destinados
ao consumo, é a
regra
nos laboratórios que
realizam
os testes
de segurança alimentar
e nutricional. Além
disso, tais
testes
são de
curto
prazo,
realizando
apenas
avaliações
de intoxicação aguda.
Os únicos
estudos
de longo
prazo
a que se
tem notícia
foram
realizados
na Áustria,
com camundongos, e na
França,
com ratos.
Ambos,
na presença
dos herbicidas, mostraram
problemas
hormonais
graves,
com impactos
sobre rins
e fígado,
com emergência de tumores
malignos, redução
na fertilidade, entre
outros.
Por que isso
é assim?
Porque
a maior
parte
dos membros
da CTNBio considera
suficiente
e adequado que
assim seja.
Porque
no Brasil
as decisões
de liberação se
dão por maioria
simples,
em contexto
onde a maior
parte dos
votantes
não parece
ter dúvidas
relevantes
quanto
à segurança destas
tecnologias, ou pelo
menos entende
que todas
suas
dúvidas
são apaziguadas pelas
informações contidas
nos processos.
IHU On-Line – É
possível
estimar
o percentual
de alimentos brasileiros que são
transgênicos?
Leonardo Melgarejo – Não. Não
há sequer
um acompanhamento de plantio,
discriminando as
áreas
cultivadas
com sementes
transgênicas e não
transgênicas. O IBGE
não está
preparado para
isso. Dispomos
apenas
de estimativas com
base na
comercialização de sementes, que
ocultam
dados relativos
ao contrabando e ao
uso de
sementes
próprias.
Ademais, o milho
e a soja
entram
em praticamente todas
as cadeias
de alimentos
processados. A única
maneira
de assegurar
ausência
ou, pelo
menos,
redução
no consumo de transgênicos, isso
na alimentação de qualquer
família,
reside
na aproximação com
redes
de produtores
orgânicos. Porém,
dificilmente isto
será alcançado para
todos os itens
de consumo, dado
que estas
redes
e cadeias
de produtos
“limpos”
não contemplam
o universo
de itens
alimentares.
IHU On-Line – Como
acontece hoje a produção e exportação de grãos e alimentos transgênicos e não
transgênicos? Há
alguma
divisão
na produção?
Leonardo Melgarejo – Não há
separação, excetuados exemplos
de algumas
cadeias
de produção orgânica
ou mesmo
de produção convencional
destinada
a mercados
específicos, não
necessariamente para
exportação. Como
regra
geral,
não há
segregação de cadeias
produtivas. Os
mecanismos envolvidos
estabelecem
tamanha
convergência em
pontos de
estrangulamento, como
máquinas
e equipamentos alugados
para colheita,
secagem
e transportes, que
os grãos
fatalmente acabam
se misturando. Todos
consomem
transgênicos, com
exceção
daqueles
que buscam
cadeias
específicas de produção orgânica
ou de produção
convencional
não geneticamente modificada.
IHU On-Line – Como
a lei
de biossegurança tem
sido
aplicada diante dos novos produtos
transgênicos? Como
a questão
da segurança
é abordada
diante da
apresentação de
novas variedades transgênicas?
Leonardo Melgarejo – Nossa
lei de
biossegurança é boa.
Seus
pressupostos deveriam
permitir
resultados
muito
satisfatórios. Entretanto, as
preocupações quanto
aos resultados
que vimos
obtendo
são mais
do que justificadas.
Explico
melhor.
A lei
prevê
que as
empresas
devem
constituir
Comissões Internas
de Biossegurança, com
corpo técnico
especializado, e que
estas
CIBios
devem
apresentar
estudos
para a
avaliação e deliberação da CTNBio. A CTNBio é
composta
por doutores, especialistas nos
temas
de biossegurança, que
avaliam
estudos
apresentados pelas
CIBios e
deliberam
por maioria
quanto
aos riscos
de impactos
ao ambiente
e à saúde
humana
e animal
para cada
organismo geneticamente modificado. Em
havendo
motivo,
os membros
da CTNBio podem
solicitar
novos estudos,
até que
quaisquer
dúvidas
sejam
sanadas.
Esta
condição se
reflete
em “pedidos
de diligência”, em
que os membros
votam
argumentos dos relatores
que se
consideram
insatisfeitos com
as informações contidas
nos processos.
Os 27
membros
da CTNBio representam
a perspectiva de vários
ministérios, da comunidade científica, da defesa
do consumidor, do meio
ambiente
e da agricultura familiar,
de maneira
a garantir
representatividade
para todos
os interesses
envolvidos. Após
a deliberação da CTNBio, a lei
prevê
que haveria
intervenção do Conselho de Ministros. Portanto, o Conselho Nacional
de Biossegurança –
CNBS
deliberaria, em
última
instância, pela
conveniência e oportunidade de ratificar
decisões
aprovação para
liberação tomadas
pela CTNBio.
Pedidos de diligência
Entretanto, o que
se observa
é que pedidos
de diligência apresentados pelo
Ministério do
Desenvolvimento Agrário
– MDA,
pelo Ministério do
Meio Ambiente – MMA,
pelos representantes
dos consumidores e dos
agricultores familiares
tendem
a ser
rejeitados, com
base nos
votos da
maioria.
Aliás,
isso acontece
mesmo
em casos
onde os pedidos
de diligência ou os
pedidos para
rejeição
da
liberação comercial
apontam
estudos
não apresentados no
processo, em
que pese
previstos
nas normas
da CTNBio. Isso
ocorreu
no processo
da soja
RR2 e em
muitos
outros
que foram
liberados
para plantio
comercial
no Brasil
sem apresentação de estudos
de longo
prazo,
de estudos
plurigeracionais, de estudos
com animais
em gestação, entre
outros.
Trata-se
de algo
grave,
pois os seres
em formação são
os mais
frágeis,
os mais
sujeitos
a alterações
em rotas
metabólicas. Portanto, são
aqueles
onde os problemas
podem exigir
tempo
de maturação que
excede
os prazos
observados nos
estudos
contidos
nos processos, que
raramente excedem
os 42 dias.
Além disso,
os estudos
apresentados pelas
Comissões Internas de Biossegurança – CIBios,
como já
referido,
são efetuados
sob o controle
exclusivo das
empresas, raramente são
publicados na
literatura
especializada, e ainda
costumam
ocultar
os dados básicos.
Via de
regra,
são apresentadas médias
que embutem
elementos
de distorção com
impacto
sobre a
dispersão dos resultados. Com
a ampliação na
variância
dos resultados, impulsionada pelo
uso de
diferentes
dosagens
de diferentes
agroquímicos, os testes
de diferença
de média
tendem
a mostrar
similaridade que
facilita
a aceitação de “igualdades”
entre
as plantas
transgênicas e não
transgênicas. Quando,
ainda
assim,
os testes
mostram
diferenças
estatísticas significativas,
a influência dos diferentes
locais
e práticas
de manejo
conduzidas onde
os plantios
são realizados
permitem
argumentar
pela confusão e superposição entre
os efeitos
dos tratamentos e os
efeitos
do ambiente,
permitindo argumentar
por sua
não significância biológica.
Por último,
observa-se omissão
do Conselho de Ministros, que
abdica
de sua
obrigação de realizar
avaliações
de ordem
socioeconômica, endossando as
decisões
da CTNBio. Como
a maioria
dos membros
da CTNBio rejeita
argumentos que
examinam
os riscos
e os impactos
socioeconômicos, surgem
situações
como as
observadas no
caso do
Arroz LL e da soja
RR2, onde
os agricultores se
mobilizam, em
desespero,
para evitar
prejuízos
à economia
nacional. Não
parece
estranho
que decisões
associadas
à nossa
soberania
sejam
tomadas
pelas
empresas? Não
parece
grave
que os agricultores recorram
a quem
detém
a tecnologia das
sementes
geneticamente modificadas e que
pode, eventualmente, resolver
prejudicar
o mercado
de alguns
ofertantes
para beneficiar
o de outros?
IHU On-Line – Deseja
acrescentar
algo?
Leonardo Melgarejo – Sim. Os
processos
decisórios
que ocorrem
na CTNBio são
todos previsíveis. A composição daquela
comissão e sua
prática
permitem
segurança para
os demandantes. Os
pedidos serão
aprovados
e o histórico
mostra
inexistência de rejeição
a qualquer
pedido de
liberação comercial. Isso
se dá,
na opinião
da maioria,
porque “quando
os processos
vão para
votação,
todas as
dúvidas
foram
resolvidas”.
Esta não
tem sido
a opinião
da minoria.
Entretanto, houve
muitas
aprovações unânimes.
A unanimidade observada em
alguns
casos de
aprovação, assim
como a
inexistência de rejeições
por maioria,
mostra
que o radicalismo está
incrustrado no
grupo
dos que não
possuem
dúvidas
relativamente à eficácia
e a segurança destas
tecnologias, no
grupo
da maioria.
Aliás,
é possível
mapear
os votos.
Os argumentos apresentados pelos
representantes do Ministério da Saúde,
do Ministério do Meio
Ambiente,
sempre
são rejeitados
por determinados membros. Basta
olhar
a degravação das
reuniões
para constatar
este fato.
Esta
espécie
de “contaminação”
do argumento em
função
de sua
origem,
independentemente de sua
substância, não
deve ser
visto
como algo
que compromete a própria
CTNBio?
Os que
possuem
dúvidas,
os que gostariam
de mais
estudos,
os que gostariam
de ver
os resultados
publicados em
revistas
científicas, os que
gostariam
de maior
transparência e independência nos
processos,
estes
são minoria.
Particularmente, faço
parte
deste
grupo.
Representando o MDA,
tenho
dúvidas.
Não entendo
como a
CTNBio possa
aprovar
a liberação de produtos
transgênicos sem
apresentação dos estudos
previstos, não
entendo
como as
questões
socioeconômicas possam
ser desconsideradas, não
entendo
como membros
da CTNBio possam
se esforçar
em defender
as tecnologias, quando
deviam
duvidar delas.
Não entendo
como o
conhecimento científico possa
ser colocado antes
a serviço
das justificativas do que
de críticas
aos argumentos das
empresas.
E minhas
preocupações aumentam
enormemente quando
percebo
esforços
e interesses
no sentido
de ampliar
o sigilo
sobre o
que se
passa na
CTNBio. Entendo
que os riscos
são grandes,
que as
avaliações
de biossegurança são
insuficientes, mas
espero
estar
errado.
Espero
que a maioria
tenha
razão,
que os estudos
não apresentados sejam
desnecessários, que
a ausência
de avaliações
independentes não
comprometa
decisões
baseadas
em relatórios
das empresas, que
as movimentações dos agricultores sejam
suficientes
para
resguardar
interesses
nacionais
e que,
no futuro,
o desinteresse da sociedade sobre
este
tema
não reverta
em problemas
insolúveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário