terça-feira, 18 de setembro de 2012

Será o Brasil uma economia auxiliar dos EUA?


Ceci Juruá
Eu me inclino definitivamente a pensar que os Estados Unidos, isto é, o governo e os conglomerados sediados naquele país, resolveram fazer do Brasil uma economia auxiliar, por eles controlada para suas operações mundiais. Claro que, ao dizer Estados Unidos, refiro-me também ao bloco de países e grupos econômicos liderados, em particular Israel, Reino Unido e Alemanha. Sobre a Espanha há dúvidas, frente à crise atual que ela atravessa. Mas se poderia também incluir a Coréia do Sul no grupo de liderados.
Penso ainda que caberia à Fiesp fazer um estudo global da indústria brasileira, isto é, aqui instalada, e detectar segmentos e ramos cujo controle está em poder de empresas com maioria de capital estrangeiro. Deveria delimitar ao mesmo tempo a amplitude desse controle. Fiesp e as universidades brasileiras, públicas e privadas, deveriam igualmente analisar os efeitos desse controle estrangeiro sobre as perspectivas de longo prazo da economia brasileira. Não me parece que este esforço esteja sendo realizado.
O governo brasileiro tampouco parece preocupado com a desnacionalização crescente da economia brasileira, nem quando ela atinge setores estratégicos, como a indústria responsável pela Defesa Nacional. Recente artigo de Mauro Santayana advertiu que “estamos desnacionalizando o pouco de indústria bélica de que dispomos, com a entrada maciça de empresas estrangeiras (entre elas, e de forma agressiva, as de Israel) no parque industrial brasileiro...”. Faz parte da despreocupação oficial o recente anúncio de privatização de portos e de aeroportos, e o envio de uma comitiva ao exterior para contato com o capital estrangeiro interessado em dominar ou simplesmente participar do controle desses dois segmentos de atividade, ambos estratégicos à defesa nacional e ao controle das fronteiras.
Recentemente a desnacionalização atinge setores que pareciam propícios a serem guardados como bastiões de tecnologia nacional. Um desses setores é o de software. Outro é o do etanol e do biodiesel. Nesta data, por exemplo, estamos sendo informados que a empresa brasileira “detentora da tecnologia mais avançada” em matéria de desenvolvimento de “softwares para a proteção de transações bancárias realizadas por meio da Internet e de dispositivos móveis” (Valor, B-2, 5-9-2012), criada em 1992, e que foi “uma das primeiras empresas brasileiras a conquistar a qualificação VISA AIS (Account Information Secutiry)”, está sendo repassada integralmente a uma empresa norte-americana.
Trata-se da GAS Tecnologia, responsável por sistemas de blindagem para utilização em transações em meios eletrônicos, destacando-se pelo emprego de “uma ferramenta considerada de alta produtividade, a GAS (Gerador Automático de Sistema), que atingiu a marca dos 300 mil usuários no Brasil e no exterior”.
A empresa compradora é uma subsidiária da norte-americana Diebold, fabricante de equipamentos de automação. Essa empresa posicionou-se no mercado brasileiro graças à compra da brasileira Procomp, em 1999. Anuncia-se hoje que a Diebold, em seu processo de expansão internacional, resolveu comprar a GAS, em vista do “fato de a GAS responder pela proteção de cerca de 70% das transações de internet banking realizadas no Brasil (...), 24% do total de transações bancárias no Brasil (...)”.
Como que tripudiando frente à nossa permissividade, o artigo do Valor informa que a empresa norte-americana tem a ideia de “usar o Brasil como um laboratório e depois estabelecer um departamento global para que a tecnologia seja exportada para o mundo todo”.
Somos ou não uma economia auxiliar dos conglomerados norte-americanos? Se a resposta for positiva, nosso futuro será sombrio. É abismal a diferença entre as culturas norte-americana e brasileira e o preço desta dominação econômica, consentida e até incentivada pelas elites dirigentes, não será fácil de suportar. Apesar do know-how de que dispomos, adquirido durante um século de dominação britânica, o fardo será pesado e cairá nas costas da grande maioria da população brasileira.
Ceci Juruá é economista, pesquisadora e membro do Conselho Consultivo da CNTU

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