segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Veja exagerou



João Franzin
Comprei a Veja desta semana crente de que a revista trazia entrevista exclusiva com Marcos Valério, o famoso operador de esquemas ilegais, primeiro com os tucanos de Minas e depois com alguns destacados petistas e adjacentes no início do governo Lula.
Uma entrevista com Valério, a esta altura, ou seja, no momento em que o Supremo vai chegando mais perto de políticos do epicentro do chamado “mensalão”, seria, sob todos os aspectos, um depoimento interessante ou mesmo bombástico.
A Veja, como de outras vezes em que quis dar um ar mais dramático à capa, valorizou os tons do vermelho. O alto na página, a palavra “exclusivo”, em caixa alta, não deixava dúvidas sobre o caráter inédito e especial do conteúdo.
Ao estampar, em tamanho grande, o rosto de Valério, pegando quase que toda a metade esquerda da página, era também indicativo claro de que ele, Valério, é quem falaria na matéria. Ainda mais que embaixo, após a manchete “Os segredos de Valério”, também em caixa alta, vinha o seguinte texto, entre aspas: “Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”.
Porém, o texto, que vai da página 62 à 68, é uma decepção. Rigorosamente, não traz uma única declaração de Marcos Valério. Tudo o que revista publica se baseia em supostas fontes próximas ao publicitário encrencado. A historieta, no meio da reportagem, de que a mulher de Valério anunciara a uma amiga que iria a uma “boca de fumo” de BH comprar arma para se matar, é inverossímil e despreza a inteligência do leitor.
Outra passagem sem qualquer credibilidade, e até risível, é a que fala de um suposto safanão de Paulo Okamoto em Renilda, mulher da Valério. Sinceramente, é rocambolesco. Há outras inconsistências na matéria, que nem cabe ficar aqui relacionando.
A pergunta é, então, por que a Veja criou a suposta reportagem. Fica claro que se trata de uma tomada de posição da revista no debate eleitoral, nesta reta final, tentando criminalizar o PT no atacado. A mim parece, também, que o objetivo imediato é favorecer a candidatura Serra, na medida em que ele disputa exatamente com o candidato do PT (Haddad) a vaga para o segundo turno da eleição paulistana.
Comprei a Veja e tenho nota fiscal da compra. A leitura da matéria me fez sentir ludibriado. Primeiro, pela edição maliciosa, que insinua, mas não traz nada de concreto e confiável. Segundo, por induzir, com chamadas de capa e texto entre aspas, atribuído a Marcos Valério, à leitura de um material supostamente inédito e bombástico, que se revela chocho.
A revista, que num passado antigo revelou ao mundo a existência do boimate (sim, uma mistura de boi com tomate), que anos mais tarde mostrou foto em muro do cemitério da Consolação, dizendo tratar-se do “formato das almas”, que garantiu queda nos preços caso caísse a CPMF, mas manteve o mesmo valor de capa do exemplar na banca (não baixou um único centavo), precisa parar de manipular e induzir o leitor ao erro.
Enquanto consumidor, já pedi a um advogado que avalie se cabe acionar a revista por atentado contra o Código de Defesa do Consumidor, ou seja, por anunciar uma coisa e vender outra.
João Franzin é jornalista

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