Clemente Ganz
Lúcio[1]
Conhecimento é poder,
especialmente
para quem quer mudar uma situação. E a tarefa primeira do
movimento sindical é
lutar para melhorar a realidade da vida dos trabalhadores!
Lutamos por
mudanças!
Por isso o movimento
sindical criou o
DIEESE, para produzir conhecimento. Recentemente lançamos um
estudo inédito analisando
a rotatividade de mão de obra, essa perversa caraterística das
relações de
trabalho no Brasil - uma das nossas jabuticabas! O livro
“Rotatividade e
Flexibilidade no Mercado de Trabalho” encontra-se disponível no
nosso site
(dieese.org.br).
A rotatividade é a troca
de um
trabalhador por outro no mesmo posto de trabalho. Não temos
acesso a esta
informação em relação a cada posto e em cada empresa, porque
simplesmente as
empresas não disponibilizam as informações. No Brasil, o direito
à informação é
muito limitado ou, na maior parte das vezes, inexistente. Como
garimpeiros,
escavamos bases de dados para descobrir, descrever e explicar os
fenômenos. Outras
vezes, acessamos bases de dados disponibilizadas pelo setor
público e deduzimos
explicações. Outras vezes ainda, reunimos recursos financeiros
para ir à campo
pesquisar.
Com base nos registros
administrativos
da RAIS analisamos o fluxo de demissões e contratações no
mercado formal de
trabalho. Consideramos que esse fluxo em relação ao total de
ocupados com
carteira assinada seria uma boa referência para nos aproximarmos
da mensuração
da rotatividade.
O resultado foi
surpreendente! O estudo
revela que nos últimos anos houve crescimento acentuado dos
postos de trabalho formais,
pois saímos de um estoque de 24 milhões de vínculos em 1997 para
mais de 46
milhões de vínculos em 2011. A taxa de rotatividade, por sua
vez, saltou de 45%
(2001) para quase 54% (2010). As informações revelam que o
crescimento do contingente
de ocupados com carteira de trabalho assinada carregou e ampliou
o ritmo
frenético de contratações e demissões.
A rotatividade cresceu,
ocorrendo justamente
o contrário do que muitos esperavam! Para alguns a rotatividade
era um fenômeno
característico de uma economia em recessão ou que patinava para
crescer. Assim,
na crise a rotatividade cresceria, atuando como mecanismo de
redução do custo
do trabalho. Por outro lado, deveria diminuir quando a economia
crescesse. Os
dados não confirmam essas teses. Contrariados pelos fatos,
alguns apressadinhos
buscam “bem intencionadas” explicações: Ah!, são as falcatruas
do nosso
sistema! São o fundos que incentivam os trabalhadores a romperem
os vínculos
para acessar ao seguro desemprego ou ao FGTS! É a má gestão
pública! dizem aqueles
que não perdem a oportunidade de tentar desqualificar o Estado e
o serviço
público. Concluem, muitas vezes, com o velho argumento de que
por detrás de
problemas complexos, há soluções simples! Pena que, de forma
geral, essas
soluções são equivocadas! Nossa tarefa primeira, portanto, é
qualificar o
debate!
Vamos olhar o fenômeno
com novas lentes.
Em uma economia de mercado sem proteção contra a dispensa
imotivada, como é o
caso do Brasil, as empresas rompem unilateralmente os vínculos
de emprego.
Outras vezes a iniciativa de rompimento é do trabalhador. Em
qual proporção
isso ocorre? Não há outras situações nas quais o vínculo é
rompido?
Bem, algumas vezes as
pessoas morrem
enquanto ainda trabalham, outras vezes se aposentam. Nessas duas
situações há a
interrupção do vinculo empregatício e a substituição por outro
trabalhador. O
estudo revelou que 1% dos desligamentos se devem a esses dois
motivos.
Por sua vez, os
registros
administrativos consideram que quando um trabalhador troca de
unidade da mesma
empresa, por exemplo quando vai de uma filial ou matriz para
outra, há o
rompimento de um vinculo e o estabelecimento de um novo, apesar
de o trabalhador
não ficar nenhum dia desempregado. Essa prática representou
pouco mais de 6% dos
desligamentos nos anos analisados.
Calculamos ainda o
volume de rompimentos
de vínculos por inciativa do trabalhador, quando este “pede a
conta”. Esse
motivo representava 16,6% dos desligamentos em 2001 e 19,6% em
2009. É muito
interessante observar que no período analisado cresce o volume
de rompimentos
por iniciativa do trabalhador, provavelmente porque ele percebe
novas
oportunidades ocupacionais em um mercado de trabalho aquecido,
com melhores salários e
condições de trabalho.
Ótimo, não?
Consideramos que esses
casos formam um
grupo de motivos que não devem ser objeto de nenhuma regulação.
A vida resolve!
Por exemplo, para a última situação, se uma empresa não quer
perder o
trabalhador, que faça uma oferta melhor, não? Ao retirarmos da
taxa total esses
casos (morte, aposentadoria, troca de sede na mesma empresa e
pedido de
demissão), ficamos com a taxa de rotatividade que ocorre por
inciativa da
empresa, a qual denominamos de taxa descontada. Esta a taxa em
2001 foi de
34,5% e em 2010 subiu para 37,3%. É no movimento de demissões
expressos por
essa taxa que se forma a demanda potencial de acesso ao seguro
desemprego.
Nos setores os
resultados são os
seguintes:
Setor
|
Taxa
Cheia %
|
Taxa
Descontada %
|
Construção
|
108
|
86
|
Agrícola
|
98
|
74
|
Comércio
|
58
|
42
|
Serviços
|
54
|
38
|
Industria de
transformação
|
50
|
37
|
Ind. Extrativa
mineral
|
27
|
20
|
Serviços Ind.
Util. Publica
|
25
|
17
|
Administração
Pública
|
15
|
11
|
Essas taxas mensuram o
movimento de milhões
de trabalhadores que rodam como peões no tabuleiro do mercado de
trabalho. Por
que isso ocorre? Na próxima semana continuaremos refletindo
sobre essa questão.
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