O governador do Estado do Rio Grande do
Sul, Tarso Genro, concedeu, quarta-feira (23) a medalha Negrinho do
Pastoreio à Renée France de Carvalho, companheira de sonhos e de tantas
lutas de Apolônio de Carvalho. Apolônio e Renée preencheram com um
significado extraordinário suas trajetórias de vida. Ousaram viver a
plenitude de sua humanidade, assim como tantos outros que lutaram ao seu
lado. Vidas repletas de sentido. O artigo é de Vinicius Wu.
Vinícius Wu (*)
Data: 24/05/2012
Inicio esse breve artigo com uma afirmação que
soará desmedida, quem sabe até provocativa para alguns, mas que me
parece um tanto obvia. Apolônio de Carvalho representa para a história
brasileira o mesmo que Garibaldi representa para a Itália ou Charles De
Gaulle para a França. Tal afirmação, no entanto, dificilmente encontrará
respaldo em alguma obra de sucesso da historiografia nacional. Afinal, o
óbvio nem sempre adquire força suficiente para tornar-se consenso.
Mas embora nossa historiografia não reconheça – e não será difícil compreender os motivos – talvez a celebração do centenário de Apolônio nos abra a possibilidade de rompermos a cortina de silêncio e cinismo que a historiografia oficial reserva até aqui à figura quase mítica desse brasileiro singular.
Apolônio de Carvalho viveu plenamente os maiores sonhos, medos e esperanças que o século XX produziu. Enfrentou o medo de um mundo dominado pelo nazi-fascismo e com as próprias mãos contribuiu para que não sucumbissemos aos horrores do totalitarismo. Foi combatente das mais generosas lutas que a humanidade travou em favor da liberdade, justiça e democracia no século passado. Esteve na Espanha, ao lado dos republicanos, armas em punho para defender a Constituição e a dignidade daquele país.
No Brasil, lutou em favor dos mais pobres, combateu a censura das palavras e das ideias as quais jamais renunciou. Preso, exilado, derrotado por tantas vezes, jamais se curvou às adversidades de um mundo que parecia desenvolver uma luta particular para promover a ruína de seus sonhos e suas esperanças. Lutou pela democracia, a viu reconquistada, queria mais. Ajudou a fundar um partido, levantou a bandeira da anistia, das diretas. Até o fim de seus dias recusou-se a abrir mão de princípios que, por tantas vezes, quase lhe custaram a própria vida.
Ninguém por estas terras encarnou melhor que Apolônio o espírito enobrecedor e humanamente grandioso que inspirou o internacionalismo socialista. Foi um homem de luta e atuação globais, num mundo que esteve à beira de fechar as portas para o que hoje conhecemos como globalização.
Ontem, o Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, concedeu a medalha Negrinho do Pastoreio à Renée France de Carvalho, companheira de sonhos e de tantas lutas de Apolônio.
Muito já foi dito acerca dos vazios de nossa memória coletiva. E, certamente, uma das omissões mais gritantes se relaciona com o papel da mulher na construção de nossa identidade nacional. O gesto do governo gaúcho foi também um ato de indignação contra o renitente silêncio de nossa historiografia a respeito do papel que desempenharam mulheres como Renée. Sua história é belíssima e não apenas como “esposa” de Apolônio, mas como uma combatente tão corajosa quanto seu companheiro de longas e memoráveis jornadas. Renée é a Olga Benário com quem ainda podemos nos encontrar, entrevistar e brindar a vida.
Apolônio é um símbolo nacional, um orgulho para todos e todas brasileiras que, verdadeiramente, acreditam na vida, na solidariedade e no futuro da humanidade. Que bom seria ver ruas, avenidas, praças e cidades pelo Brasil homenageando gente como Apolonio ao invés de ditadores, oligarcas e tantos outros próceres do atraso.
Apolônio e Renée preencheram com um significado extraordinário suas trajetórias de vida. Ousaram viver a plenitude de sua humanidade, assim como tantos outros que lutaram ao seu lado. A democracia que herdamos, com todas suas imperfeições, é fruto de sua luta obstinada em favor da liberdade. Vidas repletas de sentido. Nossas homenagens estarão para sempre aquém do significado dessas vidas para a vida de todos nós. Só nos resta repetir insistentemente: obrigado Apolônio, obrigado Renée.
(*) Historiador e Chefe de Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Sul
Mas embora nossa historiografia não reconheça – e não será difícil compreender os motivos – talvez a celebração do centenário de Apolônio nos abra a possibilidade de rompermos a cortina de silêncio e cinismo que a historiografia oficial reserva até aqui à figura quase mítica desse brasileiro singular.
Apolônio de Carvalho viveu plenamente os maiores sonhos, medos e esperanças que o século XX produziu. Enfrentou o medo de um mundo dominado pelo nazi-fascismo e com as próprias mãos contribuiu para que não sucumbissemos aos horrores do totalitarismo. Foi combatente das mais generosas lutas que a humanidade travou em favor da liberdade, justiça e democracia no século passado. Esteve na Espanha, ao lado dos republicanos, armas em punho para defender a Constituição e a dignidade daquele país.
No Brasil, lutou em favor dos mais pobres, combateu a censura das palavras e das ideias as quais jamais renunciou. Preso, exilado, derrotado por tantas vezes, jamais se curvou às adversidades de um mundo que parecia desenvolver uma luta particular para promover a ruína de seus sonhos e suas esperanças. Lutou pela democracia, a viu reconquistada, queria mais. Ajudou a fundar um partido, levantou a bandeira da anistia, das diretas. Até o fim de seus dias recusou-se a abrir mão de princípios que, por tantas vezes, quase lhe custaram a própria vida.
Ninguém por estas terras encarnou melhor que Apolônio o espírito enobrecedor e humanamente grandioso que inspirou o internacionalismo socialista. Foi um homem de luta e atuação globais, num mundo que esteve à beira de fechar as portas para o que hoje conhecemos como globalização.
Ontem, o Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, concedeu a medalha Negrinho do Pastoreio à Renée France de Carvalho, companheira de sonhos e de tantas lutas de Apolônio.
Muito já foi dito acerca dos vazios de nossa memória coletiva. E, certamente, uma das omissões mais gritantes se relaciona com o papel da mulher na construção de nossa identidade nacional. O gesto do governo gaúcho foi também um ato de indignação contra o renitente silêncio de nossa historiografia a respeito do papel que desempenharam mulheres como Renée. Sua história é belíssima e não apenas como “esposa” de Apolônio, mas como uma combatente tão corajosa quanto seu companheiro de longas e memoráveis jornadas. Renée é a Olga Benário com quem ainda podemos nos encontrar, entrevistar e brindar a vida.
Apolônio é um símbolo nacional, um orgulho para todos e todas brasileiras que, verdadeiramente, acreditam na vida, na solidariedade e no futuro da humanidade. Que bom seria ver ruas, avenidas, praças e cidades pelo Brasil homenageando gente como Apolonio ao invés de ditadores, oligarcas e tantos outros próceres do atraso.
Apolônio e Renée preencheram com um significado extraordinário suas trajetórias de vida. Ousaram viver a plenitude de sua humanidade, assim como tantos outros que lutaram ao seu lado. A democracia que herdamos, com todas suas imperfeições, é fruto de sua luta obstinada em favor da liberdade. Vidas repletas de sentido. Nossas homenagens estarão para sempre aquém do significado dessas vidas para a vida de todos nós. Só nos resta repetir insistentemente: obrigado Apolônio, obrigado Renée.
(*) Historiador e Chefe de Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário