sexta-feira, 25 de maio de 2012

FMI sugere alternativas keynesianas para Inglaterra


Valor Econômico

Quem imaginava que a Inglaterra era uma ilha de tranquilidade no mar revolto da Europa enganou-se totalmente. Apesar de estar fora da zona do euro e do pacto fiscal que a União Europeia selou em janeiro, a Inglaterra mostra que não há como escapar da crise que assola o planeta.
O país está em companhia nada recomendável como dono de um dos maiores déficits da Europa, sua economia patina e o desemprego é elevado. Como se tudo isso não bastasse, levou um puxão de orelha nesta semana do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, para confirmar que os tempos definitivamente mudaram, lhe prescreveu uma receita bastante heterodoxa, digna de um dos seus cidadãos mais ilustres, Keynes. O FMI aconselhou o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) a cortar os juros e imprimir dinheiro para estimular a demanda e, ainda, a preparar um plano B para afrouxar o ajuste fiscal se essas medidas não funcionarem.
No primeiro trimestre, a economia inglesa repetiu o desempenho sofrível do quarto trimestre de 2011 e encolheu 0,3%, desempenho prejudicado pela retração de 0,4% da indústria, enquanto os serviços, setor mais dinâmico do país, cresceu apenas 0,1%. No mesmo período, a economia da União Europeia e da zona do euro teve desempenho estável e a Alemanha cresceu 0,5%. O desemprego subiu de 8% em 2011 para 8,2% e está especialmente elevado entre os jovens. Parece difícil que a economia britânica cresça neste ano os 0,8% previstos pelo FMI. Os mercados esperam metade disso.
Para o FMI, o Reino Unido necessita de "um afrouxamento monetário adicional", com mais injeção de dinheiro e corte dos juros. A questão é que o juro inglês já é negativo. A taxa básica está em 0,5% desde março de 2009, enquanto a inflação prevista para este ano é de 2,4%. Esse patamar de juro foi reafirmado no início do mês, em reunião do Banco da Inglaterra, que também manteve aberto o programa de recompra de ativos dos bancos, lançado igualmente em março de 2009 e ampliado em 50 bilhões de libras em fevereiro para os atuais 325 bilhões de libras.
O FMI já havia receitado mais afrouxamento na visita de 2011. Desta vez, foi muito mais incisivo. A própria diretora-gerente, Christine Lagarde, disse que novas medidas para estimular a demanda são necessárias, antes que o "baixo crescimento fique entrincheirado". Nem o juro no chão nem a inflação relativamente elevada para as economias avançadas atemorizaram Lagarde. Para ela, há espaço para cortar mais o juro, "a pressão inflacionária é fraca e esse tipo de afrouxamento é consistente com o retorno da inflação à meta de 2% em um tempo razoável".
O Fundo não economizou ideias. Sugeriu que o governo aproveitasse seu baixo risco para garantir as captações privadas e para comprar mais hipotecas e títulos dos bancos. O banco central deveria também persuadir os bancos a emprestarem mais, e não constituírem montanhas de reservas. Alguns deles ainda têm participação acionária do governo nascida das operações de resgate. Além disso, banco central e Tesouro deveriam trabalhar juntos para estimular os investimentos do setor privado.
O BoE vem resistindo a ampliar seu programa de compra de ativos, mas, para o FMI, ele deveria seguir o exemplo do Banco Central Europeu (BCE). Sua ação também esbarra nas fragilidades do sistema bancário, que tira a potência da política monetária.
Se tudo falhar, disse ainda o FMI, a Inglaterra tem que rever seu programa de consolidação fiscal. O Fundo não aconselhou um relaxamento fiscal imediato, mas recomendou ao governo avaliar os cortes de investimentos em infraestrutura e pôr a tesoura em outras áreas, como os salários do setor público.
A proposta de desacelerar o ajuste fiscal vem sendo pedida pela oposição trabalhista. Mas os conservadores resistem e essa foi uma das bandeiras com as quais assumiram o poder em maio de 2010. O Reino Unido tem o quarto maior déficit fiscal da Europa, com 8,3% do Produto Interno Bruto (PIB), logo depois de países que estão sendo duramente castigados pelos mercados - Espanha (8,5%), Grécia (9,1%) e Irlanda (13,1%).
Lagarde deixou claro que a alternativa de relaxamento fiscal era a quarta na sua lista, depois das medidas monetárias. Apesar disso, as críticas dos conservadores foram contundentes. Recorrer à expansão do déficit fiscal para estimular a economia é a última coisa que o governo deve fazer, defendeu o jornal "Financial Times" (23/5).

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