quinta-feira, 24 de maio de 2012

Conjuntura econômica e as negociações coletivas



José Álvaro de Lima Cardoso
          Apesar da gravidade da crise mundial, que neste momento manifesta seus piores sintomas na combalida economia da zona do euro, o Brasil tem todas as condições para seguir crescendo e enfrentar os seus problemas. Nesse processo, o país conta com alguns trunfos, com destaque para:
1) Expansão do mercado interno via geração de empregos. O país gerou 1,7 milhão de empregos formais nos últimos 12 meses e a taxa de desemprego vem caindo continuamente;
2) Melhoria dos indicadores das contas públicas. A dívida líquida do setor público deve terminar 2012 em percentual inferior a 36% do PIB, melhor relação nas últimas décadas. Até março o governo federal realizou 120% da meta de superávit primário, equivalente a R$ 33,8 bilhões;
3) Estoque elevado de reservas internacionais. À exemplo do que ocorreu na brutal crise de 2008, os investidores externos em todo o mundo, em face do aumento do risco na economia mundial, vem “fugindo” em direção ao títulos do Tesouro americano e aos papeis do Tesouro alemão. Num momento de turbulência como o atual, são fundamentais as reservas internacionais para suprir o mercado com moeda estrangeira, evitando a disparada do preço do dólar (em pouco mais de duas semanas, até 18.05, os investidores externos retiraram US$ 5,19 bilhões do país).  As reservas internacionais atualmente são de US$ 370 bilhões, montante recorde.
           Isso tudo em um contexto em que a inflação está sob controle (em torno dos 5%), o que facilita muito a negociação coletiva, e a taxa de juros reais no país se encontra no menor patamar da história (3,6%). Ademais, há espaço para o Banco Central reduzir os juros para níveis ainda mais baixos, em função da situação global, onde, no resto do mundo, predominam juros extremamente baixos. Além disso, apesar do baixo crescimento no primeiro quadrimestre, o país começa a ingressar em um ciclo de retomada do crescimento, até pelas medidas que o governo vem tomando desde agosto de 2011.
           Em Santa Catarina, a tendência dos indicadores é muito semelhante ao quadro nacional. O mercado interno vem sendo expandido, primeiramente, pelo emprego: foram gerados 78 mil postos de trabalho de carteira assinada nos últimos 12 meses até abril, expansão acima do próprio crescimento vegetativo da população economicamente ativa do estado. Mas o mercado interno cresce também através da renda. O aumento médio dos pisos estaduais de Santa Catarina, de 10,12%, vem repercutindo sobre os pisos das categorias em geral, e por consequência, sobre o nível de atividade econômica. O incremento de massa salarial proporcionado pelos novos valores dos pisos certamente vem ajudando a fomentar o consumo dos artigos de primeira necessidade nas áreas do vestuário, alimentos, transporte, fortalecendo a indústria e o comércio catarinenses.      No estado, a exemplo do que ocorre no país, todas as negociações que se têm notícias, estão obtendo ganhos reais de salários, exatamente porque o emprego cresce, fazendo assim crescer o consumo e a lucratividade das empresas.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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