(Veiculado pelo Correio da
Cidadania a partir de 18/05/12)
Paulo Metri – conselheiro da Federação
Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de
Engenharia
“O Pré-Sal pertence à humanidade” é a tradução do título
do editorial do “The New York Times” que irá sair em um futuro não muito
distante. A pregação diz que o Pré-Sal é da humanidade porque está em área do
globo terrestre que não pertence a nenhum país. Logo após esta afirmação, o
jornal lança o conceito de que quem chegar primeiro passa a ter a propriedade do
petróleo e do gás produzidos. Estas são as teses principais do editorial,
representando a opinião de fortes grupos de interesse do capitalismo
internacional.
A maioria das áreas do Pré-Sal está realmente em mar
internacional. Os Estados Unidos não ratificaram o tratado internacional que
aceita a faixa de 12 até 200 milhas da costa como pertencente ao domínio
econômico exclusivo do país, apesar de 150 nações das 190 existentes já o terem
ratificado. Porém, este editorial esconderá o fato de que é muito custoso
explorar o Pré-Sal sem utilizar bases logísticas no Brasil. Talvez porque esta
seja uma batalha posterior.
Apesar de o editorial ser uma ficção, é bem possível que
a tese descrita já esteja sendo germinada. O tema petróleo sofre manipulação da
mídia do capital, devido a sua importância estratégica e valor econômico.
Tenta-se convencer a pequena parcela da população mundial que está atenta aos
acontecimentos sobre a atratividade das posições do capital, que, via de regra,
não são benéficas à sociedade.
Usa-se de todos os métodos necessários para tal
convencimento, desde o fato de salientar aspectos irrelevantes na análise, para
confundir, até mentiras deslavadas. Tem-se liberdade total para criar versões
substitutas dos fatos reais. Comunicadores excelentes, capazes de distorcer os
fatos, criadores de verdades infundadas, além de analistas hábeis, despojados de
compromissos para com a sociedade, estão sempre a serviço do capital petrolífero
privado, ofuscando aspectos e valores de maior interesse para o povo
brasileiro.
Como a acumulação máxima de riqueza é a única meta do
capital, este vê, no negócio petróleo, uma imensa oportunidade para tal
acumulação; 58% da energia comercial consumida no mundo são oriundos de petróleo
e gás natural, que comprova a grande dependência da economia mundial ao
petróleo. A escassez futura do petróleo está próxima, tanto que o barril se
mantém acima de US$ 110, apesar do baixo crescimento da economia mundial. Além
disso, não há fontes substitutivas ao petróleo, no curto prazo. Obviamente, no
médio prazo, outras energias mais caras tornar-se-ão viáveis, elevando o patamar
de preços das economias.
Desta forma, quem possui petróleo pode garantir às
economias mundiais a fonte de energia ainda barata a que seu aparato produtor
está adaptado. Pode garantir à sociedade mundial o aquecimento no inverno, o
combustível para o transporte e as indústrias e, em alguns países, o combustível
para a geração de eletricidade. Pode garantir também ao capitalismo
internacional insumo vital para a acumulação de riqueza.
Para fechar este pano de fundo, todos os países
desenvolvidos, nos quais o capital internacional sente-se protegido, não têm
reservas de petróleo, com exceção de Canadá e Noruega. Só os Estados Unidos
foram responsáveis, em 2010, por 21,1% do petróleo consumido mundialmente e,
entretanto, se usassem o próprio petróleo para seu abastecimento, teriam
garantidos somente 4,4 anos.
Em compensação, alguns países em desenvolvimento, de
baixa industrialização, são detentores de reservas de petróleo que ultrapassam
centenas de anos de abastecimento próprio, e têm estruturas democráticas
frágeis, com populações fáceis de enganar, mais parecendo gazelas na pradaria
com leões à espreita. No nosso país, infelizmente, uma lei contrária aos
interesses da sociedade, que traz benefícios para grupos econômicos, pode ser
aprovada sem grandes contestações no Congresso, haja vista a aprovação da lei
das concessões de petróleo (no 9.478 de 1997).
Assim, a Petrobras descobriu para o Brasil, na área do
Pré-Sal, em torno de 90 bilhões de barris de petróleo. O petróleo já medido é
bem menor, em torno de 14 bilhões, entretanto, a reserva total da área do
Pré-Sal certamente não ficará neste número. A reserva estimada do Pré-Sal vem a
ser um acréscimo de 6,5% nas reservas mundiais de 2010. Partindo de um lucro
conservador por barril, em torno de US$ 50, em valores de 2010, esta reserva
representa um lucro total de US$ 4,5 trilhões.
Além deste lucro, a economia mundial viciada em petróleo
terá uma sobrevida, se hipoteticamente o Pré-Sal abastecesse sozinho o mundo, de
três anos. O Iraque foi invadido por causa de uma reserva não muito diferente,
de 115 bilhões de barris. Hoje, 28% das áreas do Pré-Sal já foram leiloadas, com
o pior dos modelos, o da lei das concessões. Se existe algum interesse público
nos congressistas atuais, esta lei deve ser substituída, rapidamente, pelo menos
por uma análoga à lei dos contratos de partilha (no 12.351, de
2010).
Este é o quadro de enorme pressão reinante sobre o
governo. Entenda-se por pressão os recados de chefes de governos estrangeiros,
as chantagens de representantes de governos e órgãos multilaterais, a reativação
da Quarta Frota Naval dos EUA, os artigos recriminatórios de jornais e revistas
de países-sede do capital internacional, os discursos de políticos nacionais
prepostos das empresas petrolíferas estrangeiras e os artigos e entrevistas na
mídia nacional entreguista, dos ditos “especialistas” (regiamente remunerados
pelo capital petroleiro).
Todos os brasileiros compromissados com nossa sociedade,
preocupados com o setor do petróleo, deviam concentrar esforços na seguinte
agenda de reivindicações ao governo:
- Nenhuma nova área deve ser concedida ou contratada através de leilão.
- Se existir a necessidade de serem aumentadas as reservas nacionais, áreas do Pré-Sal seriam entregues diretamente à Petrobras, sem leilão, para exploração e produção de petróleo, utilizando-se o artigo 12 da lei no 12.351.
- Os contratos de concessão de áreas do Pré-Sal, já assinados pela lei no 9.478, 28% do total da área, devem ser reformulados para não existir a possibilidade de ser explorado petróleo abaixo da camada de sal. Originalmente, as empresas em seus planos de exploração não mencionaram para a ANP a ida abaixo desta camada.
- A Petrobras seria proibida de formar consórcios para atuação em todas as áreas recebidas sem leilão.
- Abrir comissão de averiguação para identificar a razão de dez blocos da chamada “franja do Pré-Sal” terem sido recolocados na nona rodada, depois de retirados. Nenhuma outra área do Pré-Sal foi leiloada nesta rodada.
O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Leon
Panetta, disse, em palestra na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, que
“os Estados Unidos estão retomando os acordos de segurança com seus parceiros e
construindo novas alianças ao redor do mundo”. E, mais à frente, disse que “além
disso, estamos convidando a Marinha do Brasil para participar de exercícios
desde a costa do Rio até a da África”. Neste espaço, encontra-se o
Pré-Sal.
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