segunda-feira, 28 de maio de 2012

Montadora corta remessa de lucros à matriz


Diante de um mercado mais desafiador, com queda nas vendas e estoques crescentes na indústria e nas revendas, as montadoras instaladas no Brasil reduziram sensivelmente as remessas de lucro para suas matrizes no exterior. Até abril, a queda nos envios foi de 70% em relação a igual período de 2011, para um total de US$ 663 milhões nos quatro primeiros meses do ano.
O desempenho tem como pano de fundo a deterioração nos resultados dos fabricantes de carros, que estão pressionados pela queda de consumo e o maior esforço de venda para desovar os estoques formados nos últimos meses - uma combinação que se tornou evidente nos feirões e promoções realizados recentemente.
Paralelamente, a situação repercute a necessidade do setor em reter parcela significativa dos recursos no Brasil para fazer frente ao desenvolvimento de produtos e aos investimentos de US$ 22 bilhões previstos pela indústria automobilística no ciclo de 2011 a 2015. Completa o quadro a valorização do dólar, que diminuiu os ganhos na moeda americana.
Com o cenário mais nebuloso para o fim do ano, a opção escolhida foi reforçar o caixa no Brasil. Dados do Banco Central (BC) mostram que as remessas chegaram a ultrapassar US$ 800 milhões em agosto, mas caíram para US$ 13,5 milhões em fevereiro (veja gráfico). Os números são referentes aos envios feitos por fabricantes de veículos e implementos rodoviários usados em caminhões.
A queda registrada pelas montadoras não foi a única, mas foi a mais expressiva entre os setores da indústria que mais remetem recursos ao exterior. Em todo o ano passado - quando os resultados no Brasil ajudaram a reforçar o caixa das matrizes nos Estados Unidos e na Europa -, a indústria automobilística marcou o maior valor entre os setores acompanhados pelo BC, com a remessa recorde de US$ 5,58 bilhões.
Já em 2012, os fabricantes de veículos estão atrás da indústria de bebidas, cujas remessas somaram US$ 846 milhões até abril - um aumento de 24% em um ano.
Para o consultor Luiz Carlos Mello, que presidiu a Ford de 1987 a 1992, os números expressam o cenário mais desafiador para a indústria, marcado por margens de rentabilidade estreitadas por elevadas despesas de venda e reajustes salariais históricos. Taís fatores se somam a um investimento de capital de giro adicional, como resultado da acumulação de estoques para patamares mais altos desde a crise financeira de 2008.
"São custos que não estavam previstos para esse nível quando o orçamento foi feito", diz o analista. Por outro lado, avalia, as montadoras não podem deixar de investir pesado em mercados emergentes, como o Brasil, onde está o maior potencial de crescimento.
Com investimentos e custos em alta, os recursos disponíveis para as remessas diminuem quando se tem pela frente uma demanda que não acompanha o ritmo do ano passado, período no qual as vendas de carros bateram recorde. "O mercado claramente não evoluiu da maneira que se esperava. Foram colocados planos para um volume que não aconteceu", afirma Letícia Costa, diretora de pós-graduação do Insper e especialista na área.
O ambiente de negócios mais delicado no Brasil é refletido nos balanços divulgados no exterior pelas grandes montadoras instaladas no país. Operações na América do Sul, onde o Brasil corresponde ao principal mercado, contribuiram menos nos resultados do primeiro trimestre apresentados pela Ford e a General Motors.
No grupo Fiat - que além da marca italiana inclui a Chrysler -, as vendas no mercado brasileiro caíram 1,9% no primeiro quadrimestre, enquanto a queda nos emplacamentos de carros da Volkswagen em igual período foi de 3,9%. A Ford já adiantou que os negócios na América do Sul seguirão dando lucro neste ano, mas menos do que em 2011.
As montadoras, assim como a Anfavea - entidade que representa o setor -, preferiram não se manifestar sobre a queda na remessas de lucro.
Para Letícia, a recuperação do mercado americano pode ter reduzido as necessidades de remessas para grandes fabricantes de Detroit. Por outro lado, ela lembra que matrizes sediadas na Europa poderão precisar de recursos gerados no Brasil, dada a instabilidade economica no continente.

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