Diante
de um mercado mais desafiador, com queda nas vendas e estoques
crescentes na indústria e nas revendas, as montadoras instaladas
no Brasil reduziram sensivelmente as remessas de lucro para suas
matrizes no exterior. Até abril, a queda nos envios foi de 70% em
relação a igual período de 2011, para um total de US$ 663 milhões
nos quatro primeiros meses do ano.
O
desempenho tem como pano de fundo a deterioração nos resultados
dos fabricantes de carros, que estão pressionados pela queda de
consumo e o maior esforço de venda para desovar os estoques
formados nos últimos meses - uma combinação que se tornou evidente
nos feirões e promoções realizados recentemente.
Paralelamente,
a situação repercute a necessidade do setor em reter parcela
significativa dos recursos no Brasil para fazer frente ao
desenvolvimento de produtos e aos investimentos de US$ 22 bilhões
previstos pela indústria automobilística no ciclo de 2011 a 2015.
Completa o quadro a valorização do dólar, que diminuiu os ganhos
na moeda americana.
Com
o cenário mais nebuloso para o fim do ano, a opção escolhida foi
reforçar o caixa no Brasil. Dados do Banco Central (BC) mostram
que as remessas chegaram a ultrapassar US$ 800 milhões em agosto,
mas caíram para US$ 13,5 milhões em fevereiro (veja gráfico).
Os números são referentes aos envios feitos por fabricantes de
veículos e implementos rodoviários usados em caminhões.
A
queda registrada pelas montadoras não foi a única, mas foi a mais
expressiva entre os setores da indústria que mais remetem recursos
ao exterior. Em todo o ano passado - quando os resultados no
Brasil ajudaram a reforçar o caixa das matrizes nos Estados Unidos
e na Europa -, a indústria automobilística marcou o maior valor
entre os setores acompanhados pelo BC, com a remessa recorde de
US$ 5,58 bilhões.
Já
em 2012, os fabricantes de veículos estão atrás da indústria de
bebidas, cujas remessas somaram US$ 846 milhões até abril - um
aumento de 24% em um ano.
Para
o consultor Luiz Carlos Mello, que presidiu a Ford de 1987 a 1992,
os números expressam o cenário mais desafiador para a indústria,
marcado por margens de rentabilidade estreitadas por elevadas
despesas de venda e reajustes salariais históricos. Taís fatores
se somam a um investimento de capital de giro adicional, como
resultado da acumulação de estoques para patamares mais altos
desde a crise financeira de 2008.
"São
custos que não estavam previstos para esse nível quando o
orçamento foi feito", diz o analista. Por outro lado, avalia, as
montadoras não podem deixar de investir pesado em mercados
emergentes, como o Brasil, onde está o maior potencial de
crescimento.
Com
investimentos e custos em alta, os recursos disponíveis para as
remessas diminuem quando se tem pela frente uma demanda que não
acompanha o ritmo do ano passado, período no qual as vendas de
carros bateram recorde. "O mercado claramente não evoluiu da
maneira que se esperava. Foram colocados planos para um volume que
não aconteceu", afirma Letícia Costa, diretora de pós-graduação do
Insper e especialista na área.
O
ambiente de negócios mais delicado no Brasil é refletido nos
balanços divulgados no exterior pelas grandes montadoras
instaladas no país. Operações na América do Sul, onde o Brasil
corresponde ao principal mercado, contribuiram menos nos
resultados do primeiro trimestre apresentados pela Ford e a
General Motors.
No
grupo Fiat - que além da marca italiana inclui a Chrysler -, as
vendas no mercado brasileiro caíram 1,9% no primeiro quadrimestre,
enquanto a queda nos emplacamentos de carros da Volkswagen em
igual período foi de 3,9%. A Ford já adiantou que os negócios na
América do Sul seguirão dando lucro neste ano, mas menos do que em
2011.
As
montadoras, assim como a Anfavea - entidade que representa o setor
-, preferiram não se manifestar sobre a queda na remessas de
lucro.
Para
Letícia, a recuperação do mercado americano pode ter reduzido as
necessidades de remessas para grandes fabricantes de Detroit. Por
outro lado, ela lembra que matrizes sediadas na Europa poderão
precisar de recursos gerados no Brasil, dada a instabilidade
economica no continente.
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