quinta-feira, 24 de março de 2016

O fim do glamour do "Fora Dilma"

Por Renato Rovai, em seu blog.

O tempo, senhor da razão, cuidou de ir mostrando cada vez com mais nitidez quais as reais intenções daqueles que lideram a campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. E quanto mais eles foram revelando os dentes caninos, mais gente foi se posicionando do outro lado.

A resistência a favor da democracia e contra o golpe hoje já permite dizer que é possível virar o jogo e impedir que o Brasil volte a se tornar uma republiqueta de bananas.

O dia 18 foi a chave da virada.

Naquele dia aconteceram manifestações em todas as capitais do Brasil. E em todas, praticamente sem exceção, houve mais participação do que o previsto por todos os lados da política.

E como quem foi naqueles eventos não estava atendendo a um chamado da Globo, que tem paralisado sua programação para convocar o golpe, o resultado é que se produziram no embalo deles centenas de outros que estão acontecendo aos poucos e reunindo milhares.

Quase todas as universidades federais fizeram atos ou manifestações nos últimos dias. E a maior parte desses eventos acabou tendo que ser ampliado para telões instalados fora dos teatros.

Ao mesmo tempo, estudantes da PUC-SP reagiram a uma manifestação de provocadores, apanharam da PM do Alckmin, que tem agido com absoluta parcialidade nesses conflitos, e no dia seguinte realizaram um ato que vai ficar na história da PUC de novo.

Ontem foram os estudantes do Mackenzie, que querem livrar a instituição do que parecia ser o seu destino, apoiar movimentos de direita. Teve conflito de novo na rua Maria Antônia, mas dessa vez eram mackenzistas que estavam lá para gritar não vai ter golpe.

Os atos de cultura estão cada vez mais repletos de artistas se posicionando.

O teatro e o cinema do Rio fizeram dois encontros fantásticos na Lapa. E ontem, para celebrar esse posicionamento, a diretora Ana Muylaert, ao receber um prêmio da Globo, disse que Jéssica, a personagem do Que Horas Ela Volta, existe, e é filha de Lula e Dilma.

Tom Zé lançou um manifesto contra o golpe e artistas como Tico Santa Cruz, Maeda Jinkings, Fernando Anitelli, Zé de Abreu, Mônica Iozzi, Letícia Sabatella, Elza Soares, Wagner Moura e tantos com suas falas tiram o verniz de que estar na moda é gritar “fora Dilma”.

Ao mesmo tempo em que a OAB vai para o lado de lá, juristas e advogados de todo o Brasil fazem atos e questionam a ação golpista.

Jornalistas em todas as redações já começam a questionar a linha editorial de seus veículos e a audiência da mídia não alinhada não para de crescer.

O Brasil começa a se mexer de um jeito que não estava nas contas da Globo, a verdadeira central do golpe.

Mesmo assim eles mantêm a marcha.

Da mesma forma que transformaram os imensos atos do dia 18 em algo menor, iludindo até jornalistas experientes, agora vão apressar a ação de impeachment porque sentem o bafo das ruas na nuca.

Essa reação do “não vai ter golpe” terá de ser ainda mais consistente, mais forte.

Eles sabem que estão perdendo a exclusividade das ruas, que foi o que lhes deu legitimidade para chegar ao ponto atual. E é isso que explica, por exemplo, o juiz Sérgio Moro ter colocado em sigilo a lista da Odebrecht que cita 312 políticos. E a Globo não tê-la divulgado no JN.

Eles sabem que listas como essa embaralham o jogo porque demonstram que o sistema político brasileiro é controlado pelas grandes corporações. E que não é punição seletiva que vai acabar com isso.

Ao contrário, quanto menos democracia, menos combate a corrupção. Sempre foi assim, sempre será. É a possibilidade de contraditório que faz com que os podres de todos os lados sejam combatidos e revelados.

Os dias que virão serão duríssimos.

Os que agitam os batedores de panelas acelerando o passo para não perder o time. E os contra o golpe resistindo quase sem comando em todas as partes do país.

O golpe acontece em broadcasting e a resistência é quase toda distribuída em redes.

Não é uma parada fácil, mas cada vez mais parece possível derrotar o que parecia invencível.

O “não vai ter golpe” pode ser a chave de um novo país que virá se o impeachment for derrotado. Ele não aceita mais ser massa de manobra da Globo e ao mesmo tempo vai cobrar a fatura do PT e dos seus líderes, que, por tantos erros cometidos, estão colocando quase tudo a perder.

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