sexta-feira, 25 de março de 2016

O golpismo além-mar do Gilmar

Jeferson Miola, na Carta Maior

 Gilmar Mendes é um personagem com impressionante poder de ubiqüidade.

Além de Juiz do STF, onde atua como líder do PSDB e seus satélites, ele é sócio-fundador do Instituto de Direito Público [IDP]. E é provável que seja ainda mais versátil: segundo seu ex-colega Joaquim Barbosa, Gilmar tem “capangas no Mato Grosso”, com o que se pode deduzir que ele também se dedica a outras atividades ou negócios naquele estado do faroeste [quer dizer, do centro-oeste] do País.

Merece ser analisada a legalidade da acumulação do cargo de juiz do STF, que exige dedicação exclusiva, com o desempenho de atividade empresarial. Como funcionário público, ele poderia acumular o cargo de juiz com o de professor [que é diferente de proprietário de faculdade], desde que compatibilizando a carga horária.

A empresa do Gilmar, além disso, recebe verbas de patrocínio de empresas estatais e de instituições que atuam ou têm interesses discutidos no STF. Bem, mas no caso dele isso parece irrelevante – moralidade, imparcialidade, ética e legalidade são vocábulos que aparentemente não freqüentam seu universo de preocupações.

Não é necessário ouvir escuta ilegal para descobrir que Gilmar Mendes é um conspirador relevante; um ator-chave do condomínio jurídico-midiático-policial que opera o golpe.

Faltava ser demonstrado o protagonismo prático, o que ficou finalmente provado na liminar em que ele anulou a posse do Lula na Casa Civil e remeteu o processo do ex-Presidente à comarca do parceiro de justiçamento Sérgio Moro. O texto da liminar foi assinado e protocolado pelo PSDB e PPS, porém escrito por uma funcionária da empresa dele.

O ativismo político do Gilmar vai além-mar.

Sua empresa vai reunir em Portugal, nos dias 29 a 31 de março, a fina-flor do golpismo no IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito, que tem o ubíquo Gilmar Mendes como “coordenador científico e acadêmico”. É um evento, nas palavras duma diretora do IDP, “fundamental para propor soluções reais às crises do Governo Brasileiro e Português”.

Os palestrantes deste evento que vai “propor soluções reais às crises do Governo Brasileiro e Português[sic] serão, dentre outros, o próprio Gilmar, seu colega Dias Toffoli e, não poderiam faltar, alguns sócios da empreitada golpista.

Aécio Neves palestrará na Conferência de Encerramento, “Desafios dos regimes democráticos no constitucionalismo contemporâneo”, e decerto fará uma explanação sobre como golpear a Constituição quando não se aceita o resultado das urnas.

José Serra palestrará no painel “Os sistemas políticos em avaliação em tempo de crise”, onde deverá explicar como se desestabiliza governos democraticamente eleitos para derrubá-los.

Finalmente, terá lugar de honra como Conferencista Principal o enigmático Michel Temer, personagem que não tem agenda disponível para ir à posse do Lula ou para freqüentar atos de solidariedade à Presidente da qual é Vice, mas dispõe de todo o tempo para estar e tramar com os golpistas em qualquer lugar do mundo.

Dentre os patrocinadores deste seminário da empresa do Gilmar, estão a FECOMÉRCIO/RJ, CNI, FGV, OAB, FIESP – esta última entidade, uma forte financiadora das mobilizações golpistas “espontâneas” da Avenida Paulista. Ganha uma passagem a Lisboa que entender porque a Itaipu Binacional também patrocina o evento.

Aviso aos navegantes: as inscrições para o seminário se encerraram dia 18/03/2016. Portanto, qualquer interesse em participar de aventuras golpistas além-mar, somente nas próximas caravelas que o Gilmar organizar.



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