segunda-feira, 21 de março de 2016

Najla Passos, na Carta Maior

 
Assim como a maioria dos brasileiros de bom-senso, o jurista e deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) não se surpreendeu com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de suspender a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil e remeter as investigações contra o ex-presidente de volta às mãos do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.


De acordo com ele, isso se deve ao fato de que o ministro anti-petista da suprema corte brasileira se posiciona partidariamente reiteradas vezes e antecipa suas posições políticas sistematicamente em discursos inflamados de ódio contra o PT, o que não condiz com o cargo que ocupa. Nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, Mendes é conhecido por advogar as causas tucanas no tribunal.


“Eu não faço parte da defesa do governo nem do ex-presidente Lula, mas acho que deveria ser arguida a suspeição do ministro. Gilmar Mendes é suspeito para julgar qualquer ação que envolva o PT e seus filiados pelas suas reiteradas manifestações de ódio ao partido, pelas crítica descabidas que um magistrado não pode fazer”, afirma.


A decisão de Mendes, de fato, aparenta caráter mais político do que técnico. Nela, ele afirma que a posse de Lula foi ilegal com base no fundamento do “desvio de finalidade”. “O objetivo da falsidade é claro: impedir o cumprimento de ordem de prisão de juiz de primeira instância. Uma espécie de salvo conduto emitida pela Presidente da República. Ou seja, a conduta demonstra não apenas os elementos objetivos do desvio de finalidade, mas também a intenção de fraudar”, justificou na decisão.



Segundo o magistrado, a prova cabal da ilegalidade é a conversa telefônica mantida entre Lula e Dilma, na qual ela avisa que mandará o termo de posse para ele assinar antes de viajar à Sao Paulo. A conversa privada entre Lula e dilma ocorreu às 13:32 horas da quarta (16). Embora tenha sido foi extraída de um grampo ilegal, foi divulgada horas depois por autorização de Moro.


Dilma explicou reiteradas vezes que o documento só seria usado para ela dar posse ao ex-presidente caso ele não conseguisse retornar à Brasília no dia seguinte, quando ocorreria a posse. Mendes não se convenceu. “O objetivo da presidente da República de nomear Luiz Inácio Lula da Silva para impedir sua prisão é revelado pela conversa”, atestou.

O cálculo de GM


Foi no final do expediente desta sexta (18), que Mendes colocou um fim na guerra de liminares que questionavam a nomeação do ex-presidente, ocorrida na quinta (17), e determinou que as investigações contra Lula retornassem às mãos do juiz Sérgio Moro. A decisão tem caráter liminar – ou seja, provisório - e só vale até que o plenário da corte se reúna para decidir o assunto. Mas o problema é que isso vai demorar a ocorrer.


Nesta semana, o STF entre em mais um dos seus vários recessos anuais, desta vez justificado pelo feriado cristão da Semana Santa. E embora o recesso não seja oficial, não haverá sessões plenárias na corte. Aliás, elas só devem ser retomadas na outra terça (29). Portanto, pelo menos até lá, Lula não é ministro e não tem foro privilegiado.

Ameaça à liberdade de Lula?


Segundo Damous, o fato de Mendes ter suspendido a posse de Lula e remetido as investigações contra ele de volta às mãos do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, não possibilita que este último autorize a prisão do ex-presidente antes de que o tema seja decidido coletivamente pelo plenário do STF. “Tecnicamente, o processo tem que aguardar a decisão do plenário antes de descer para a primeira instância”, esclarece.


Mesmo ciente de que os métodos de Moro nem sempre obedecem o que prevê a legislação, Damous avalia que ele não terá coragem para cometer outra ilegalidade contra o ex-presidente. De acordo com o deputado, é claro que é difícil ter certezas quando se trata do que ele classifica de um “juiz de exceção”, mas as diversas reações contra as ilegalidades cometidas pelo juiz justiceiro ajudam a colocar freio em sua saga.

“Moro sabe dos erros que já cometeu. Ele sabe que errou ao determinar o sequestro do Lula, a divulgação de grampos ilegais. Ele sabe a burrada que fez. Eu presumo que, por mais que ele tenha características de paranóia, ele irá se conter um pouco”, analisa.





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