domingo, 27 de março de 2016

A Fiesp e o manual do perfeito midiota

Por Luciano Martins Costa, no site Brasileiros. No blog do Miro.
O prezado midiota e a apreciada midiota devem estar estranhando a falta de manchetes nos últimos dias sobre as acusações do juiz Sergio Moro ao ex-presidente Lula da Silva.

Afora o delírio dos editores de Veja, segundo o qual o ex-presidente teria pedido asilo ao governo da Itália, que nenhum dos grandes jornais validou até esta sexta-feira (25/3), parece que a Operação Lava-Jato entrou em recesso.

Também murcharam as manifestações. Não fosse o lanchinho oferecido pela Fiesp a meia dúzia de “bocas-livres”, o assunto também teria desaparecido daquele trecho da Avenida Paulista.

Mas você, midiota de estirpe, certamente considera um horror de mau gosto esse negócio de se manifestar em troca de um sanduíche. Mesmo que o recheio seja, como dizem, um bife de filé mignon.

O que você e outros cidadãos não sabem, porque nunca vai aparecer no Jornal Nacional ou nas manchetes da Folha, do Estado e do Globo, é que uma parte do conselho da Federação das Indústrias no Estado de São Paulo está apreensiva com o perigoso protagonismo de seu presidente na presente crise política.

Vejamos alguns aspectos dessa dissidência: se o processo judicial apontar uma saída legal para as empresas acusadas indenizarem a Petrobras e o tesouro nacional pelas falcatruas reveladas, elas poderão se recompor – e só o tempo dirá o quanto esse episódio irá afetar suas práticas de negócios com o Estado.

Mas até você deve ter notado que a ação judicial funciona como cortina de fumaça para o processo político que realmente motiva os investigadores – pois só isso explicaria o cuidado em expor alguns dos acusados e tentar esconder outros, como se pode observar com a leitura daquela lista de gente tida como impoluta que recebeu doações das mesmas empreiteiras.

Se, porém, for levado a termo o processo de desmanche conduzido pelo juiz paranaense, as empresas envolvidas, que compõem o núcleo mais reluzente das grandes empreiteiras nacionais, vão se tornar vulneráveis a uma enxurrada de ações na Justiça dos Estados Unidos.

Já há notícias de grupos de procuradores se organizando em vários estados americanos para demandar compensações dessas empresas brasileiras, que na última década se tornaram incômodas concorrentes em mercados antes cativos de poderosas multinacionais.

A sentença que será proferida por aqui será a senha para esse tsunami de ações, que poderão varrer para o lixo as principais empreiteiras e, com elas, centenas de empresas que lhes fornecem matéria-prima e serviços – como os setores siderúrgico, o de alumínio, cimento, logística, energia e algumas especialidades de TI.

Não está este observador insinuando que a Justiça deva ser leniente com empresários por causa de eventuais danos colaterais num processo por corrupção e concussão.

Aliás, não são poucos os que argumentam, nas redes sociais, que as empreiteiras têm mesmo que se lascar, porque o capitalismo é um jogo sujo – o que, curiosamente, coloca você, midiota, de mãos dadas com alguns dos mais radicais militantes de ideias tidas como “esquerdistas”.

Seria você, midiota, um radical comunista bolivariano dissimulado?

O que se pontua aqui é o fato de que esse processo judicial, claramente motivado e incentivado por um projeto político de interesse da mídia tradicional, ameaça jogar o ecossistema de negócios do Brasil de volta ao século passado.

Em entrevista ao site da BBC Brasil, um ex-assessor da Casa Branca alerta para o risco que representam ações como essas, baseadas no Foreign Corruption Practices Act, a norma que pune a prática de corrupção de empresas estrangeiras que têm negócios nos Estados Unidos.

Entre outras coisas, ele defende o impeachment da presidente da República como forma de estancar a crise política – e em seguida diz que, em determinado momento, a Operação Lava-Jato precisa ser encerrada.

Que momento seria esse? Não seria exatamente após o eventual impeachment? Quem ganharia com tudo isso?

Deu pra entender ou quer que desenhe?

Para ler: BBC ex-assessor da Casa Branca alerta para risco de ações nos Estados Unidos.

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