extraído do GGN

Da PRI (Public Radio International)
de Catherine Osborn
Traduzido por Luiz de Queiroz do Jornal GGN
Sugestão de Airton
Em cada reviravolta da crise política
brasileira – hoje é a luta do ex-presidente Lula para conseguir assumir
uma vaga no gabinete da presidente Dilma Rousseff – há um grupo familiar
de protagonistas, que não são nem políticos nem investigadores
anticorrupção.
Eles são manifestantes de direita,
jovens e organizados, e podem ser uma força determinante na decisão do
Congresso brasileiro de votar a favor do impeachment da atual
presidente.
O estudante de engenharia Pedro Souto
(22) estava no topo de um carro de som, com uma bandeira do Brasil sobre
os ombros, como uma capa do Super Homem, durante protesto realizado no
domingo (13) no Rio de Janeiro. Mais de 200 mil pessoas foram às ruas. O
carro de som tinha um cartaz do Movimento Brasil Livre, um dos
principais grupos que organizaram os protestos em todo o país no dia 13
de março, e que continua a convocar os membros para as ruas a cada nova
revelação (que agora acontece diariamente) do drama político brasileiro.
O Movimento Brasil Livre foi fundado por
membros e ex-membros de outro grupo que estava se espalhando depressa
no país: o Estudantes Pela Liberdade. Por liberdade, eles querem dizer
liberalismo econômico: eles são favoráveis à redução de gastos públicos,
privatização de companhias estatais e diminuição da regulação do
estado.
Essas políticas estão distantes da forma
que o Brasil se organiza atualmente. Como muitos países
latino-americanos, o Brasil é um estado de bem estar social, com sistema
de saúde universal e muitas companhias parcialmente controladas pelo
governo.
Mas nas últimas décadas, instituições pró-mercado e anti-regulação estão
crescendo na região. O economista Bernardo Santoro é parte desse
movimento no Brasil. Ele se lembra de comparecer a um evento no estado
do Rio de Janeiro, em 2012, que havia sido organizado, em parte, por um
grupo chamado Atlas Network.
Lá, os participantes falaram sobre o
futuro do liberalismo no Brasil, discutindo “ideias sobre como o
movimento no Brasil iria crescer. E trazer os Estudantes Pela Liberdade
para o Brasil era uma dessas ideias”.
Tanto o grupo Atlas quanto os Estudantes
Pela Liberdade têm sede nos Estados Unidos, e ambos receberam dezenas
de milhares de dólares em financiamento nos últimos cinco anos, de
fontes como a Fundação John Templeton e a Fundação Charles Koch, grupos
bilionários conhecidos por apoiarem causas de extrema direita.
Detalhes da Fundação John Templeton na captura de tela abaixo.

No Brasil, o grupo Estudantes Pela
Liberdade começou a atuar com subvenções de doadores americanos, mas
agora o grupo é financiado majoritariamente dentro do país, de acordo
com Juliano Torres. E é grande, com mais de mil membros.
Atualmente, cerca de metade dos membros
do grupo Estudantes Pela Liberdade em todo o mundo são brasileiros. Eles
recebem materiais de treinamento sobre como planejar eventos, arrecadar
fundos e falar em público. Um punhado deles viajou para os Estados
Unidos para receber treinamento, e muitos discutem política econômica
usando referências como o Instituto Cato e o senador americano Rand
Paul.
Torres diz que os movimentos estudantis
liberais cresceram tanto no Brasil porque “nós tiramos vantagem da
impopularidade da presidente do Partido dos Trabalhadores”. Em 2014, a
economia brasileira desacelerou e começou a encolher dramaticamente, e
manchetes destacavam o envolvimento do Partido dos Trabalhadores no
esquema de propinas na Petrobras.
“Estudantes Pela Liberdade não é uma
organização política”, diz Torres, “mas nós encorajamos que nossos
membros sejam politicamente ativos”. Em 2014, membros e líderes do
Estudantes Pela Liberdade fundaram o Movimento Brasil Livre e ajudaram a
fundar o movimento Vem Pra Rua, com o objetivo de protestar contra a
presidente Dilma. Dilma não foi acusada nas investigações anticorrupção
envolvendo a Petrobras, mas desde março de 2015 o Movimento Brasil Livre
tem tentado aumentar a pressão para que ela seja impedida, em favor de
um presidente mais pró-negócios.
Em dezembro, o presidente brasileiro da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, acolheu o processo de
impeachment, alegando uso ilegal de dinheiro no orçamento da campanha de
2014.
Em um dos relatórios de 2015, a sede americana do Estudantes Pela Liberdade orgulhosamente destacou os protestos contra o governo realizados no Brasil.
“O que está acontecendo no Brasil agora,
nós queremos aprender com isso e queremos descobrir como pegar suas
melhores práticas para implementar em outros lugares”, disse o
coordenador do Estudantes Pela Liberdade em Washington, Sam Teixeira.
Ele afirmou que em situações políticas onde o governo é impopular, fica
mais fácil advogar que a abertura de mercado é uma solução.
“No final das contas”, disse Teixeira,
“nós queremos ver as pessoas se saindo bem, pessoas felizes, pessoas
prósperas. Sendo capazes de viver a vida que elas escolheram e de ter
autonomia. Essas são coisas que não existem no Brasil e na maior parte
do mundo. Nós realmente esperamos e acreditamos que a filosofia liberal
pode trazer prosperidade e felicidade para o mundo”.
O cientista político Celso Barros, que é
colunista no jornal Folha de S. Paulo, diz que “a maioria dos
brasileiros nunca votaria em políticas liberais. Tudo que você precisa
fazer é entrar na favela mais próxima e qualquer um vai te dizer que nós
estamos a um longo caminho de distância da meritocracia no Brasil”.
Barros diz que algumas reformas
econômicas são necessárias para que seja mais fácil fazer negócios no
Brasil. Mas ele acrescenta que a probabilidade crescente de que a
presidente Dilma não vá terminar seu mandato – seja pelo impeachment ou
pela cassação de sua chapa devido às contas da campanha em 2014 –
significa que no curto prazo, os brasileiros provavelmente vão ver
políticas econômicas mais rigorosas do que eles aceitariam de um
representante eleito normalmente.
O PMDB assumiria a presidência do Brasil
no caso de impeachment, um partido que Barros diz “Não é bem conhecido
por ter gestores eficientes. É bem conhecido por ter políticos
corruptos”.
O PMDB silenciosamente desprendeu uma
plataforma econômica que é mais à direita do que em toda sua linha
histórica. Sobre mudanças concretas que provavelmente vão ocorrer, “a
direita gostaria de ter menos regulações trabalhistas”, diz Barros.
“Eles adorariam que os sindicatos fossem menos poderosos”.
Bernardo Santoro diz que
independentemente de quem vá assumir a presidência a seguir, o Movimento
Brasil Livre vai continuar a pressionar por uma redução no tamanho do
governo.
Para Barros, o mais preocupante é o
precedente que o impeachment da presidente Dilma – que tem contra ela
“acusações fracas” – abre para o futuro da estabilidade política
brasileira. Ele também vê um eco das políticas americanas nos grupos de
jovens que lideram a empreitada pelo impeachment: “Esses caras
claramente são inspirados pelo Tea Party (Partido do Chá) e pela recente
radicalização do Partido Republicano.
Barros diz que o futuro do Brasil é incerto.
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